Além do petróleo, exportações de milho podem ser afetadas por conflito entre Irã
US$209 milhões do cereal foram importados para os iranianos somente entre janeiro e março de 2024
Com essa nova fase do conflito no Oriente Médio em andamento, surgem preocupações com as commodities agrícolas brasileiras que podem ser impactadas. É verdade que em comparação com as relações comerciais que temos com outros países, tanto Israel quanto com o Irã, se tornam parceiros pequenos.
O total de exportações do Brasil para o Irã em 2023 foi de US$ 2,3 bilhões, de acordo com dados da Comex Stat do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Já para Israel, em 2023 exportamos um total de US$ 662 milhões. Porém, é importante lembrar que Israel enfrenta uma guerra em Gaza desde outubro do ano passado, o que acabou impactando as exportações para o país.
Irã
Apesar de não ser dos maiores, o Irã é um parceiro estratégico para alguns produtos como, por exemplo o milho, já que ele está entre os três grandes compradores do cereal produzido aqui no Brasil, disputando com a China e com o Japão, explica Ale Delara, diretor da Pine Agronegócios, que trabalha há mais de 20 anos acompanhando o setor.
Os relatórios da Comex Stat (MDIC) mostram que, em 2023, foram exportados US$ 829 milhões em milho. Isso foi o equivalente a 36% de participação nas exportações do cereal produzido no Brasil ano passado.
O maior volume de exportação para o Irã em 2023 foi de soja, cerca de US$ 904 milhões. Ainda tivemos farelo de soja (US$ 370 milhões), importante para alimentação animal e açúcar (US$ 160,00 milhões). Mas para 2024, o milho é o que tem liderado nossas exportações para os iranianos (US$ 209 milhões somente entre janeiro e março), por isso essa é uma operação importante, principalmente no segundo semestre.
Além de exportar, também importamos alguns produtos do Irã que são essenciais para outras produções, como a ureia, que é um fertilizante nitrogenado derivado do petróleo, usado na agricultura de produtos como o próprio milho, o trigo, o café e a cana de açúcar.
Ale Delara lembra que 15% de toda a ureia que nós usamos na produção agrícola doméstica, tem origem no Irã e não teríamos um fornecedor substituto no momento, então ele é um país importante e estratégico.
Israel
Com Israel, apesar de uma relação um pouco menor ano passado, tivemos o envio de petróleo, que foi o produto que mais exportamos para lá em 2023, (US$ 139 milhões), de carne bovina (US$ 127 milhões) e de soja (US$ 121 milhões).
Mas, para o Brasil, Israel tem grande importância na importação, nas compras que fazemos de fertilizante fosfatado, que é o fósforo. De acordo com Delara, nós utilizamos esse tipo de fertilizante nas plantações de milho, soja, trigo, basicamente todas as produções agrícolas. Só que, nesse caso, teríamos alternativas como, por exemplo, a China que também é bom fornecedor de fosfatados.
Então, para o especialista, em questão de valores na balança comercial, pouca diferença deve acontecer caso haja uma expansão do conflito, até porque o Irã já é um país sancionado, já existe uma dificuldade de exportar para lá.
Porém, estrategicamente, nós poderemos perder um mercado importante para o nosso milho, que é o do Irã, e perder ainda um fornecedor também importante, no caso do fertilizante nitrogenado da ureia.