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    Clarissa Oliveira
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    Clarissa Oliveira

    Viveu seis anos em Brasília. Foi repórter, editora, colunista e diretora em grandes redações, como Folha, Estadão, iG, Band e Veja

    Depoimento de Freire Gomes preocupa bolsonarismo, que volta a criticar vazamentos

    Demora na oitiva do ex-comandante à PF gera apreensão entre aliados do ex-presidente

    O depoimento do ex-comandante do Exército Marco Antonio Freire Gomes provocou reação no bolsonarismo.

    Mais cedo, a CNN noticiou com exclusividade que o general depôs à Polícia Federal por quase oito horas na sexta-feira (1) e teria confirmado a ocorrência de reuniões para a elaboração da chamada “minuta do golpe”.

    À CNN, Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro (PL), se queixou de vazamentos seletivos e voltou a reclamar da falta de acesso da defesa do ex-presidente aos autos.

    De acordo com o relatório do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ordenou a deflagração da Operação Tempus Veritatis em 8 de fevereiro, aliados de Bolsonaro tentaram convencer o general Freire Gomes a colocar as tropas do Exército na rua e aderir a um possível golpe de Estado.

    Em uma conversa interceptada pela PF no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, Freire Gomes conversa com o então auxiliar de Bolsonaro sobre uma minuta golpista que teria sido redigida e ajustada pelo ex-presidente.

    Wajngarten também comentou o assunto nas redes sociais e criticou o que chamou de “constrangimento via imprensa”.

    “Vazamentos seletivos, fontes seletivas em pleno sábado de sol. A defesa técnica e formalmente constituída nos autos totalmente no escuro”, escreveu o ex-chefe da Secom, reforçando a tese de que a defesa de Bolsonaro não teve até agora acesso integral aos autos.

    Mencionado em diálogos da Operação Tempus Veritatis, o general da reserva prestou depoimento por quase oito horas à PF na sexta-feira (1º), aceitando falar na condição de testemunha. Nessa circunstância, o militar se comprometeu a falar a verdade. Caso tivesse sido ouvido na condição de investigado, ele ficaria protegido pela prerrogativa de não produzir provas contra si próprio.

    A CNN procurou o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, mas não teve retorno até a publicação deste texto.

    Freire Gomes foi chamado de “cagão” por Braga Netto

    Em outra conversa interceptada pela PF, Freire Gomes é chamado de “cagão” pelo general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e companheiro de chapa de Bolsonaro em 2022, por não ter aceitado participar da intentona antidemocrática.

    A troca de mensagens mostrou que Braga Netto teria feito uma campanha contra oficiais que se mostraram contrários ao eventual plano de golpe.

    As mensagens foram trocadas entre Braga Netto e o capitão reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros.

    O ex-ministro afirma que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes” e que a “omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

    Ailton responde que vai “continuar na pressão” contra o ex-comandante e o vice de Bolsonaro responde: “Oferece a cabeça dele. Cagão.”

    Na conversa, Braga Netto também atacou o tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior — na época, comandante da Aeronáutica –, chamando-o de “traidor da pátria”. “Inferniza a vida dele e da família”, orienta o ministro.

    De acordo com a PF, as conversas “evidenciaram a participação e adesão do investigado Walter Souza Braga Netto na tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal”.

    Freire Gomes impediu desmobilização em QG do Exército

    Uma semana antes dos atos criminosos de 8 de Janeiro, o ex-comandante impediu a desmobilização do acampamento bolsonarista que foi formado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília. Foi do local onde os criminoso marcharam para depredar os prédios públicos da Praça dos Três Poderes.

    A ordem para não desmobilizar o acampamento foi dada por Freire Gomes no dia 29 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

    O então comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, havia dado uma ordem para desmontar o acampamento e pediu um reforço para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Porém, Dutra não avisou Freire Gomes, pois acreditava que ele iria barrar a iniciativa.

    *Com informações de Gabriela Prado e Teo Cury, da CNN, e do Estadão Conteúdo