Análise: Governo tenta corrigir rota, sem romper pontes com Maduro
Lula age para preservar papel central do Brasil na diplomacia da região e assegurar influência caso o presidente venezuelano siga no poder
Pressionado pelo contexto internacional e alvo de críticas até mesmo dentro de casa, o governo do presidente procurou corrigir sua rota a respeito das eleições na Venezuela.
Em menos de 24 horas, o tom usado pelo Palácio do Planalto para se referir à crise no país vizinho mudou.
Saíram de cena as falas apontando que “não houve nada de errado”, entraram as declarações sobre a preocupação com a demora do regime de Nicolás Maduro em comprovar o resultado da eleição.
O primeiro movimento nessa nova direção veio estampado no comunicado conjunto divulgado por Brasil, México e Colômbia, pedindo transparência no processo.
Em seguida, vieram as declarações do assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, atuando como principal porta-voz do Palácio do Planalto.
O braço direito do presidente Lula para questões externas falou em “decepção” com o fato de Maduro não divulgar as atas eleitorais, em entrevista gravada ainda na quinta-feira (1°) para a Rede TV.
Nesta sexta-feira (2), Amorim acrescentou, em entrevista à CNN, que as atas são necessárias para que o resultado da eleição possa ser reconhecido.
Na prática, entretanto, não houve um recuo nos acenos a Maduro.
Amorim, por exemplo, faz questão de condenar qualquer tipo de sanção internacional adicional à Venezuela. E não houve reconhecimento expresso de que a eleição venezuelana possa ter sido fraudada.
O que permanece no ar é a ideia de que o Brasil coloca acima de tudo a preservação de seu poder de influência na América do Sul. Segue em cima do muro, distribuindo acenos para ambos os lados.
E se apresenta, assim, como uma força capaz de mediar eventuais conflitos e fazer a ponte entre a Venezuela e os setores da diplomacia internacional que rechaçam os sucessivos indícios de irregularidades no pleito.