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    Caio Junqueira
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    Caio Junqueira

    Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

    Servidores da Abin relatam “paralisia” e anunciam operação-padrão

    Incômodo entre os agentes com o que consideram falta de defesa da Abin diante das investigações da PF é um dos pontos de insatisfação

    Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) relataram nos últimos dias um cenário de paralisia nas atividades do órgão em meio às investigações da Polícia Federal que apura eventuais irregularidades durante o governo Bolsonaro.

    Os motivos apontados são os seguintes:

    1. A permanência no órgão, durante o governo Lula, de um antigo embate entre a Abin e a Polícia Federal pelo comando da agência. O atual diretor-geral, Luis Fernando Côrrea, é um delegado aposentado da PF que enfrenta ainda resistência interna de oficiais de carreira da Abin;
    2. Incômodo entre os servidores com o que consideram a falta de defesa da Abin diante das investigações da PF que envolvem seus servidores.
    3. Há referências, por exemplo, ao fato de a Procuradoria-Geral da República ter rejeitado pedidos de prisão da PF na operação que prendeu servidores semanas atrás. Elas, porém, acabaram sendo autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes;
    4. O embate ainda presente entre egressos do governo Jair Bolsonaro e da gestão do antigo diretor-geral Alexandre Ramagem no órgão com indicados pelo governo Lula. Há resistência a diversas medidas que os nomeados por Lula, como Corrêa e principalmente ao diretor-adjunto, Marco Aurélio Cepik, têm tomado.
    5. Servidores dizem que suas decisões dificultam o trabalho de inteligência e desestimulam a categoria, como o corte em cursos que levam a ascensão profissional (e salarial) na agência e novas regras internas que, segundo agentes, dificultaram a realização de pesquisas de investigação;
    6. Críticas à falta de esclarecimento sobre a utilização do software FirstMile, utilizado para fazer espionagem e desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint). Agentes relatam que a tecnologia é utilizada por diversos serviços de inteligência no Brasil, mas que o foco tem sido apenas a sua utilização pela Abin.

    Operação-padrão

    O cenário interno deve ser agravado após a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin, Intelis, divulgar uma nota na última sexta-feira com críticas ao governo Lula devido a dificuldades na negociação para reestruturação da carreira.

    Entre outros pontos, a nota diz que os servidores da Abin “tiveram uma tarde desastrosa” no dia anterior e que, “após o governo do desvio, a Inteligência de Estado do Brasil sofre agora com o governo do desmonte”.

    “A equipe de negociação do Ministério da Gestão, a quem tanto apoiamos em trabalhos recentes, demonstrou ignorar completamente todos os problemas que apontamos na primeira mesa e chegou ao absurdo de nos oferecer humilhantes ZERO POR CENTO de recomposição em 2025 para a base, punindo a única carreira que já possui 20 padrões desde 2004”, segue a nota.

    Eles dizem ainda que, para o topo da carreira, “foi repetida a pior proposta dentre as que têm sido colocadas para níveis semelhantes: 9,5% em 2025 e 5% em 2026” e que a situação “não nos deixou alternativa, tanto pelo acinte da proposta quanto pela criticidade da vacância de nossos cargos, senão estabelecer uma Operação Padrão em relação às atividades da Abin”.

    Os servidores apontam que o movimento ocorre “às vésperas da realização de eleições municipais, CPNU, reunião do G- 20 e desintrusões de terras indígenas, eventos críticos e do interesse de agentes adversos, [e] o Governo do Brasil decide abrir mão da sua agência de Inteligência e escolhe deliberadamente tomar decisões à base do improviso”.

    “Esperamos que ainda haja tempo para reverter o dano gigantesco que será o primeiro país do G-20 a prescindir do seu serviço de Inteligência. Por ora, a granada segue no bolso do “inimigo””, afirmam.

    A CNN procurou a Abin e seu diretor-geral e adjunto, mas eles não se manifestaram.

    Questionado, o Ministério da Gestão enviou a seguinte nota à CNN:

    “O Ministério da Gestão realizou na quinta-feira (18/07) mais uma rodada de negociações com as entidades representativas dos servidores da Abin. Na ocasião, foi apresentada proposta pelo MGI que prevê ganhos acumulados de 14,5% a 25,3% de 2023 a 2026. A categoria dos oficiais e técnicos de inteligência discordou de alguns pontos e uma nova reunião está marcada para 24 de julho. O governo segue com as negociações buscando atender as reivindicações de restruturação das carreiras de todos os servidores federais, respeitando os limites orçamentários. Até agora já foram 22 acordos assinados com diferentes categorias.”

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