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    Caio Junqueira
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    Caio Junqueira

    Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

    Empresários divergem sobre sociedade em empresa vencedora do leilão milionário do arroz

    Wisley arrematou o maior lote do leilão para importar 147.303 toneladas e, para isso, receberá do governo federal o valor de R$ 736 milhões

    Os empresários Ronaldo Aureliano Silva e Carlos Batista Braz deram à CNN versões distintas sobre a constituição societária da empresa Wisley A. De Souza, a maior arrematante individual do leilão de arroz importado promovido pelo governo federal na semana passada.

    A empresa arrematou o maior lote do leilão para importar 147.303 toneladas e, para isso, receberá do governo federal o valor de R$ 736 milhões.

    Ronaldo Aureliano se apresenta no LinkedIn como proprietário da empresa TCI Modulares. Ele afirmou no sábado, em conversa gravada com a CNN, que a Wisley tem vários sócios e que ele seria um deles.

    “Somos um grupo empresarial de várias empresas e vários sócios”, disse o empresário à CNN.

    Questionado quais são os sócios, ele disse: “Aí você me desculpe, isso é questão da Receita Federal”.

    Já o empresário Carlos Braz afirmou nesta segunda-feira (10) à CNN, também em conversa gravada, que o único sócio da empresa é o próprio Wisley de Souza.

    “Sim (sobre Wisley ser o único sócio da empresa). O Ronaldo não é sócio da empresa”, afirmou. Braz se apresentou à CNN como vice-presidente da empresa.

    Na sexta-feira, a oposição protocolou junto ao TCU uma representação apontando ter havido indícios de fraude no leilão.

    Na petição, apontou suspeitas de que a Wisley seria uma empresa de fachada. A Advocacia-Geral da União (AGU) contestou a informação e disse à CNN que o governo se defenderia junto à Corte de contas.

    No contrato social da empresa, consta apenas o nome do sócio-administrador Wisley Alves de Souza.

    Na conversa com a CNN no sábado, Ronaldo Aureliano também disse que “Carlinho”, apelido de Carlos Batista Braz, seria seu sócio.

    “(Carlos Braz) é meu sócio. E ele é sócio também da Ponto Norte que é a distribuidora, outra distribuidora nossa. E eu sou sócio da construtora e juntos somos um grupo econômico no qual os CPFs não se misturam por uma questão tributária. Simples”, disse.

    E complementou: “Eu não sou obrigado a demonstrar poder econômico onde eu não preciso. O nosso grupo faturou R$ 400 milhões em 2023. Por que eu não dou conta de comprar R$ 700 milhões de arroz?”

    Empresa venceu leilão
    Braz afirmou que a Queijo Minas é o “xodó”. “Lá é um é um xodó da empresa, né? Ali que tudo começou há 17 anos e hoje é o Centro de Distribuição” / Joelson Palheta/Arquivo Pessoal

    Braz disse hoje à CNN não ter sociedade com Ronaldo e que ele não é sócio da Wisley.

    “O Ronaldo não é sócio da empresa. Está tendo algum equívoco e Ronaldo não é (sócio).”

    Ele disse porém que a Wisley e outras empresas dividem um mesmo espaço em Macapá.

    “Eu tenho umas empresas do meu nome, né? E a gente trabalha em conjunto, dividir o mesmo espaço, né? Num Centro de Distribuição”, disse.

    Informado de que Ronaldo havia dito que são várias empresas e vários sócios e um grupo econômico, ele disse: “Isso não procede não.”

    Depois disse que as empresas suas atuam junto com a Wisley em parcerias.

    “Olha é um grupo econômico. É o seguinte. É a Ponto Norte né? Que está no meu nome. E umas empresas que estão no meu nome que trabalhamos em conjunto com a Wisley,. (…) Tem a Ponto Norte e tem uma empresa Norte Sul na Cidade de Santarém.”

    A CNN questionou a ambos onde estaria Wisley. Aureliano respondeu: “Hoje está no Amapá por uma questão estratégica de negócio”.

    Na sequência, perguntou se Wisley é de fato uma pessoa física. Ele disse: “É uma pessoa, nosso sócio, amigo, parceiro”.

    Braz disse que a relação dele com Wisley é antiga e que são amigos, mas que ele contraiu uma virose e aue por isso não podia dar a entrevista. “É um amigo de longa data, né? A gente tá junto deles 17 anos de idade. Chegamos juntos em 1997 no dia 2 de Janeiro aqui no estado do Amapá com intuito de trabalhar, né?”

    A CNN os questionou sobre o motivo da mudança do capital social dias antes do leilão, que aumentou de R$ 80 mil para R$ 5 milhões dias antes do leilão.

    Eles disseram que não houve correlação alguma com o leilão em si.

    “Estava R$ 80 mil e no dia 24 de maio nós mudamos para R$ 5 milhões. Nem sabíamos dessa licitação. Tanto é que que no processo licitatatório no edital não pedia capital social mínimo. Por que eu mudaria? A outra empresa que ganhou tem R$ 100 mil de capital. Ela não pedia alteração. Nós mudamos por outras questões. O edital é claro: não pedia que mudasse o capital social.”

    Braz disse que a mudança ocorreu devido a um pedido de empréstimo que a Wisley estava fazendo.

    “A gente estava fazendo um empréstimo financeiro e nos foi solicitado isso aí”, disse. Ele completou dizendo ter sido uma “coincidência” a mudança ter ocorrido próximo ao leilão. “Foi só uma coincidência.”

    A CNN também os questionou sobre o fato de a sede da empresa ser uma loja de queijos em Macapá (fotos em anexo).

    Aureliano respondeu: “Não é uma loja. Somos uma distribuidora. São cinco lojas igual aquela. Temos três galpões de distribuidora. Atendemos Belém, Santarém, Amapá inteiro. Não é só aquilo ali que estão mostrando. Somos um grupo grande. Temos mais de cem caminhões distribuídos no Norte todinho. Temos condições de comprar e distribuir esse arroz pro Brasil inteiro”.

    De acordo com ele, o nome da loja é “Queijo Minas” porque “começamos vendendo queijo”. E concluiu: “O fato que vocês têm que entender é que nós somos um grupo, nós somos fortes. Não somos fracos. Não somos uma portinha”.

    Braz afirmou que a Queijo Minas é o “xodó”. “Lá é um é um xodó da empresa, né? Ali que tudo começou há 17 anos e hoje é o Centro de Distribuição”.

    “Complexidade logística”

    No sábado, a assessoria da Wisley, contratada por Aureliano, divulgou uma nota dizendo que “a Wisley tem solidez e mais de 17 anos de experiência no comércio atacadista, na armazenagem e na distribuição em todo Brasil de produtos alimentícios, com um faturamento mais de R$ 60 milhões apenas no ano passado”.

    Disse também que esse resultado “vem crescendo ano após ano, com a ampliação do leque de marcas alimentícias que a empresa representa e distribui no Norte do país, região que apresenta a maior complexidade de logística do Brasil”.

    Por fim, informou que “a empresa lamenta que grupos com interesses contrariados estejam tentando afetar sua imagem e deturpar a realidade num momento em que é essencial o país encontrar formas de assegurar o abastecimento de arroz para a população” e que, “por isso, a Wisley está disposta a acelerar a importação de modo que o consumidor final não seja penalizado com o aumento que pode chegar de até 40% no preço do arroz aos brasileiros”.

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