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    Caio Junqueira
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    Caio Junqueira

    Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

    Itamaraty minimiza convocação de embaixador brasileiro na Argentina

    Vinda de diplomata ao Brasil acontece após Javier Milei participar de evento conservador em Santa Catarina

    À CNN, fontes da diplomacia brasileira minimizaram a convocação do embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, para consultas em Brasília.

    A convocação se deu uma semana depois de o presidente da Argentina, Javier Milei, participar da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), e de sua ausência na Cúpula do Mercosul.

    A leitura é que a visita deve ser relativizada: o diplomata foi a Brasília com data para retornar a Buenos Aires e também foi chamado mais de uma semana depois da CPAC, e não de imediato, ação que, aí, sim, configuraria um sinal diplomático de forte indisposição de um país com o outro.

    A avaliação, de um modo geral, é a de que, a despeito dos sinais dados por Milei, a relação entre os dois países caminha independentemente de haver uma relação pessoal entre os dois presidentes.

    Lembram, porém, que é importante que o presidente Lula não caia nas provocações de Milei. Ele seria, segundo uma fonte, o “adulto na sala” na relação entre os dois países.

    Mesmo a participação de Milei na CPAC é minimizada. Diplomatas relatam que o argentino leu um discurso escrito — o que sinaliza um prévio cuidado com sua fala para evitar maiores contratempos com o Palácio do Planalto — e que quando o público no evento xingou Lula, Milei se conteve e evitou entrar no coro.

    Há ainda a percepção de que alguns pontos da relação bilateral tem caminhado bem, mesmo com a ausência de relação pessoal entre ambos.

    Os contatos com a ala mais pragmática do governo são frequentes — por exemplo, com Guillermo Francos, um dos principais ministros de Milei.

    Fontes chegam a declarar que alguns pontos da relação caminham melhor até mesmo do que com os peronistas. Por exemplo, negociações envolvendo a fronteira entre os dois países, na qual o Brasil tem defendido que postos fronteiriços sejam concedidos à iniciativa privada, enquanto o governo Alberto Fernandes defendia a estatização plena.

    Entende-se no Itamaraty que muita das provocações de Milei se devem ao entendimento do núcleo duro de Milei de que Lula e seu governo trabalharam para eleger o peronista Sergio Massa, o que o governo brasileiro acha uma avaliação equivocada — e leva quando possível essa avaliação aos argentinos.

    Para eles, é dito que o fato de marqueteiros que já serviram ao PT terem trabalhado para Massa não significa, para essas fontes, apoio oficial do governo.

    E que há inúmeros exemplos de como Alberto Fernandes teve pedidos negados pelo Palácio do Planalto no ano passado, como empréstimos oficiais. Um deles inclusive tendo gerado um constrangimento interno para Fernandes na Argentina.

    O que diplomatas colocam é que Milei é um presidente que foge à institucionalidade mesmo dentro da Argentina, transpondo esse perfil para fora nas relações bilaterais.

    Dizem ainda que se trata de militante em busca de construir uma biografia política e que seguirá à risca esse perfil, ainda que isso sacrifique as relações pessoais com chefes de Estado dos países vizinhos.

    Consideram ainda que a rivalidade instalada tem muito de artificial no sentido de transpor para a relação a oposição entre esquerda e direita presente hoje em diversos países do mundo.

    Lula e Milei deverão se encontrar na reunião do G20 em novembro, no Rio de Janeiro. O encontro, porém, deverá ser informal — não dentro de uma reunião bilateral.

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