Governo negocia com produtores e adia novo edital para leilão de arroz
Setor se compromete a apresentar alternativas ao certame
O governo negociou na tarde desta quarta-feira (19) com produtores um adiamento do anunciado novo edital de leilão para a compra de arroz importado.
A negociação envolveu um pedido por parte do governo para que se apresentem medidas que possam servir de alternativas para equilibrar o preço do grão no país.
“A reunião foi positiva porque o governo abriu diálogo com o setor produtivo, o que ainda não tinha acontecido, para que aprofundássemos temas do arroz”, disse à CNN o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, que participou do encontro.
De acordo com ele, houve compromisso do governo de só publicar um eventual novo edital após ouvir propostas alternativas do setor que possam ajudar a equilibrar o preço.
“Abrimos possibilidade de estudar outros caminhos, colocamos o risco que é seguir com ideias dos leilões e ganhamos uns dias para poder trazer alternativas ao governo e evitarmos um prejuízo”, disse.
“O governo continua com todos os mecanismos na mão para usar se achar necessário, porém, o que conseguimos foi deixar claro os riscos que a ideia do leilão traz”.
Segundo Velho, foi aberta a possibilidade de apresentar propostas alternativas ao leilão, o que deve ocorrer em uma nova reunião que deve ser marcada em dez dias.
Na semana passada, quando anunciou o cancelamento do primeiro leilão por suspeitas de fraudes e incapacidade técnica das empresas vencedoras, o governo avisou que em dez dias sairia um novo edital.
Agora, ele só sairá se as propostas que o setor irá apresentar não contemplarem um equilíbrio dos preços do grão. Essa informação foi confirmada a CNN pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Participaram do encontro os ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), além de Edegar Pretto, presidente da Conab.
Pelos produtores de arroz, participaram a Federarroz, o Instituto Rio Grandense do Arroz e a Câmara Setorial do Arroz.
Dentre os argumentos apresentados por eles para tentar cancelar o leilão, estão:
- Balanços de oferta e demanda da Conab mostram o estoque final maior do que o inicial;
- Estudos mostram que a Conab subestima importações e superestima exportações e consumo. Ou seja, que a projeção de estoque final é maior do que o órgão trabalha. Os produtores têm em mãos dados que apontam que a produção brasileira de arroz neste ano, até agora, foi de 10,49 milhões de toneladas, um crescimento de 4,6% em relação ao ano passado, já considerando as perdas no Rio Grande do Sul. A fonte, segundo eles, é um levantamento da própria Conab;
- Dados do IPCA mostram o arroz subindo ao consumidor 1,47% após as enchentes que assolaram o estado, ao contrário do que o governo aponta. Outros produtos subiram mais do que o arroz, como a batata-inglesa (20,61%), cebola (7,94%) e cenoura (6,05%), e nem por isso o governo decidiu fazer importações desses produtos;
- O arroz que o governo pretende importar é cultivado com defensivos agrícolas não aceitos no Brasil. Os ruralistas têm estudo que mostra que a produção de arroz na Ásia tem 39 produtos vedados no Brasil.
Após a reunião, a Conab divulgou a seguinte nota:
O Governo Federal, por meio dos ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, da Agricultura e da Pecuária, Carlos Fávaro, e presidente da Conab, Edegar Pretto, se reuniu nesta quarta-feira (19) com representantes da Câmara Setorial de Arroz e da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Foram debatidas medidas para estimular a produção de arroz no Brasil e garantir o alimento de qualidade a preço justo ao consumidor final.
Ficou acertada uma reunião para os próximos dias para que o setor apresente propostas neste sentido.
Está em fase de finalização a revisão das normas para elaboração de novo edital para a compra de arroz pela Conab. A Companhia está autorizada a comprar até 1 milhão de toneladas do produto, de forma emergencial, diante da tragédia climática no Rio Grande do Sul, estado que produz 70% do cereal.