Análise: Macaé Evaristo é prova de que há mulher e negra para ministra, mas governo dizia que era difícil achar
Planalto focou na simbologia de colocar no time uma mulher negra e de história reconhecida pelo crescimento a partir dos estudos para mudar o status de luto causado pela saída de Silvio Almeida
Depois de muito falar da dificuldade em encontrar mulher e negra para ocupar postos na alta cúpula, o governo descobriu em dois dias que poderia indicar a deputada estadual Macaé Evaristo (PT-MG) para o ministério de Direitos Humanos, no lugar de Silvio Almeida, demitido por acusação de assédio sexual contra Anielle Franco, da Igualdade Racial.
Na sexta-feira (6), veio a demissão de Almeida. Na segunda (9), Macaé, que é mineira, veio de seu estado até Brasília para ser anunciada ministra.
Macaé Evaristo é prova de que sempre houve opção de mais mulheres e negras para ocupar cargos de ministra no governo, o que faltava talvez fosse determinação do Planalto em achar uma.
Mudando o status de luto, provocado pela saída de Almeida, por luta com a chegada de Macaé, o governo focou na simbologia de colocar no time uma mulher negra e de história reconhecida pelo crescimento a partir dos estudos.
Durante a montagem do governo, a ministra Anielle Franco chegou a entregar duas listas com nomes de mulheres negras que poderiam compor as fileiras do governo. Literalmente listas de currículos.
Porém, superada a justificativa de que faltavam nomes, a afirmação seguinte era de que: precisava contar com a confiança de Lula. Uma pré-condição muito mais difícil de transpor na política, onde o ambiente e suas relações de confiança são majoritariamente masculinas.
Quantas outras mulheres negras estão tendo as suas trajetórias acadêmicas e políticas negligenciadas por quem não as veem como opção?
Em dois dias, o PT reconheceu que o nome era para ser o de Macaé Evaristo, ainda que nem todos os articuladores petistas sequer conhecessem a mineira. Quando a valorização das minorias é prioridade para um governo, as coisas simplesmente acontecem.
Na segunda-feira (9), Macaé tirou foto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez primeira reunião de trabalho com a equipe do ministério, e já começou a ser cobrada publicamente por ter sido acusada de improbidade administrativa em gestões anteriores, em Minas.
Normal o pente-fino sobre ministros recém-chegados. Mas não estamos vivendo um momento normal.
A porta aberta pelo escândalo Silvo-Anielle para um debate sobre o comportamento de negros e linchamento nas redes sociais permite que muitas reações negativas contra o movimento negro entrem e se instalem. O que mais pode acontecer?
O momento ainda é de crise de representatividade entre aqueles que tanto lutam para serem representados.