Verborragia raivosa de Milei serve para mascarar os problemas reais da Argentina
Líder argentino provocou crise diplomática desnecessária com a Colômbia ao chamar presidente Petro de “assassino terrorista”; colombiano respondeu expulsando diplomatas
A verborragia raivosa do presidente Javier Milei, sempre atacando líderes que divergem se sua ideologia extremista, tem apenas dois objetivos: tentar manter aceso o apoio de seus eleitores e, principalmente, mascarar os problemas reais da Argentina.
É uma tática muito usada por políticos, especialmente os de extrema direita: criar uma crise temporária com frases alarmantes para desviar a atenção das questões fundamentais.
O último episódio de incontinência verbal do líder argentino acabou levando à maior crise diplomática desde que tomou posse, em dezembro de 2023.
Em entrevista à CNN, Milei atacou o presidente colombiano, Gustavo Petro, chamando-o de “um assassino terrorista”.
A resposta foi imediata: Petro ordenou a expulsão de todos os diplomatas argentinos do seu país.
A crise provocada por Milei é completamente desnecessária e envolve as segunda e terceira economias da América do Sul.
A referência do líder de extrema direita argentino é o passado de Petro, que foi militante do grupo guerrilheiro M-19 quando jovem.
No M-19, que depois de um processo de negociação se transformou num partido político, o atual presidente colombiano era responsável por questões de logística, tendo sido preso e torturado pelas forças armadas do país.
Depois disso, Petro se dedicou a construir sua carreira política. Foi prefeito de Bogotá e senador, antes de ser eleito democraticamente o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.
No posto, ele já cometeu muitos erros, mas é uma voz coerente em alguns aspectos, como a necessidade de proteção do meio ambiente e combate às mudanças climáticas.
Esta não é a primeira vez que Milei ataca líderes de esquerda e centro-esquerda da América Latina.
Durante a campanha, ele chegou a dizer que jamais se encontraria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “comunista” e “autoritário”.
Depois da posse, percebendo que a falida Argentina precisaria manter boas relações com o seu maior parceiro comercial, o populista passou a mandar sinais muito mais comedidos a Brasília.
Milei deveria deixar as desavenças desnecessárias de lado e focar unicamente no principal: reduzir dramaticamente a inflação e a pobreza.
É verdade que ele assumiu uma Argentina quebrada pela irresponsabilidade de vários governos da esquerda peronista.
Mas seu mirabolante e autoritário plano de impor reformas enormes na sociedade argentina, ao arrepio de negociações mais profundas com o Congresso, não tem conseguido avanços significativos em nenhum dos dois campos.
A inflação recuou um pouco em fevereiro, mas ainda está em estratosféricos 276,2% ao ano –a mais alta do mundo, acima de outros países com administrações ainda mais desastrosas como o Líbano (177%) e a Venezuela (85%).
Mas o mais chocante é o alarmante progresso da miséria no país vizinho.
Um estudo da Universidade Católica da Argentina revelou recentemente que o nível de pobreza atingiu 57,4% dos argentinos em janeiro, o mais alto em 20 anos.
Quando Milei assumiu, eram 49.5% abaixo do nível da pobreza. O grande salto se deu exatamente por medidas como a grande desvalorização do peso determinada pelo presidente.
Os argentinos certamente agradeceriam se Milei parasse de ver comunistas em todos os cantos e se concentrasse nos grandes desafios de seu país.