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    Américo Martins
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    Américo Martins

    Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou mais de 70 países

    Casal Obama agita convenção e mostra caminho para possível vitória de Harris

    Discursos de Michelle e Barack Obama foram os pontos altos do encontro democrata, com mescla de ataques certeiros contra Trump e muito foco na esperança e no futuro

    Os discursos do casal Michelle e Barack Obama foram os pontos mais altos, até aqui, da Convenção Nacional do Partido Democrata que ratificou o nome de Kamala Harris como candidata da legenda à Presidência dos Estados Unidos.

    Com falas em sequência, a ex-primeira-dama e o ex-presidente agitaram o encontro democrata ao mesmo tempo em que mostraram, na prática, qual é o melhor caminho para uma possível vitória de Harris: uma mistura de poucos e certeiros ataques contra o ex-presidente Donald Trump e muito foco na esperança e no futuro. Tudo isso, com o pé no chão e conhecimento da realidade.

    Tanto Michelle como Obama são muito populares no país, mesmo entre eleitores não-democratas.

    Carismáticos, os dois utilizaram a popularidade e suas características de excelentes oradores para motivar a audiência para trabalhar muito na tentativa de virar votos dos indecisos para Harris.

    Com isso, alcançaram o seu primeiro objetivo: foram ovacionados por uma plateia de convertidos, mas que estava precisando exatamente dessa energia para ir à luta pelos votos.

    Afinal, não seriam os discursos empolados e arrastados do presidente Joe Biden que conseguiriam esse feito.

    O segundo objetivo, mais complexo, era ajudar a desenhar o caminho para a campanha de Harris.

    Para fazer isso, os dois discursos misturaram ataques estratégicos contra Trump e uma visão de futuro melhor para o país.

    Os ataques contra o ex-presidente não foram a esmo.

    Muito pelo contrário: foram desenhados para atingir o republicano em poucas áreas, mas naquelas que mais têm potencial de causar estragos na campanha rival.

    Como, por exemplo, quando Michelle rebateu declarações de Trump sobre “empregos para negros”.

    “Durante anos, Donald Trump fez tudo ao seu alcance para tentar fazer as pessoas nos temerem. Sua visão limitada e estreita do mundo o fez se sentir ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras, altamente educadas e bem-sucedidas que por acaso são negras”, disse no evento em Chicago.

    “Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está procurando atualmente pode ser apenas um desses empregos para negros?”, ela acrescentou

    A frase foi uma provocação aos comentários de Trump na Associação Nacional de Jornalistas Negros, onde ele disse que os imigrantes estão tomando “empregos para negros”. A frase do ex-presidente foi interpretada como discriminatória, já que implicaria que os negros americanos teriam empregos menos qualificados – o que está longe de ser verdade.

    Mas o principal foi a atenção dada à expectativa de um futuro melhor para o país e seus cidadãos. isso pode ser sintetizado na frase de Obama: “a esperança está de volta”.

    Isso é um claro contraponto à forma de fazer campanha de Trump, focada sempre no medo que ele tenta incutir no eleitorado. Medo dos imigrantes, medo da ascensão da China, medo da globalização, medo do adversário político que teria planos para destruir o país.

    Mas apesar de falar tanto em esperança, Obama também foi bastante realista e reconheceu que a disputa será muito dura.

    “Não se enganem, será uma luta”, disse o ex-presidente, sabedor de que a eleição será decidida por poucos votos, nos cinco ou seis estados-pêndulo do país.

    Por que Barack e Michelle Obama não se candidatam à Presidência?

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