China avança sobre Oriente Médio ao patrocinar acordo entre facções palestinas
Fatah e Hamas, os dois maiores grupos políticos palestinos, assinaram em Pequim um acordo de reconciliação que tem poucas chances de funcionar no longo prazo
A China anunciou nesta terça-feira (23) que patrocinou um acordo de reconciliação entre o Fatah e o Hamas, os dois maiores grupos políticos palestinos e inimigos declarados.
Além dos dois grupos rivais, outras 12 facções palestinas participaram de negociações em Pequim para buscar uma unidade que supostamente permitiria, no futuro, a criação de um governo de coalizão palestino para administrar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
O ponto mais importante do acordo é o fato de ter sido patrocinado pela China. Muito mais do que a possibilidade de unidade entre os palestinos, que tem poucas chances de funcionar no longo prazo.
O anúncio demonstra claramente a intenção da China de projetar poder em todas as regiões do mundo, avançando com especial apetite na região do Oriente Médio – onde Pequim, tradicionalmente, não tem muito peso nas negociações diplomáticas.
O governo chinês decidiu que quer fazer valer o peso de ter a segunda maior economia do mundo e de contar com forças armadas muito sofisticadas e poderosas para influenciar com mais intensidade a geopolítica global.
Além disso, o país quer promover uma visão distinta daquela defendida pelos Estados Unidos e países ocidentais para a solução de vários problemas mundiais.
Isso, claro, sempre buscando proteger o seu interesse nacional como, por exemplo, tentando minimizar os riscos na importação de petróleo do Oriente Médio.
Além disso, com o movimento, a China busca um assento na mesa de eventuais negociações de paz para o fim da guerra na Faixa de Gaza – o que pode incomodar o seu maior rival geopolítico, os Estados Unidos.
No ano passado, a China já havia feito um movimento na direção de ampliar o seu peso no Oriente Médio ao convencer a Arábia Saudita e o Irã, dois grandes rivais na região, a reatar relações diplomáticas depois de vários anos e muito estranhamento.
Poucas chances de união
Apesar dos esforços chineses, no entanto, o acordo entre o Hamas e o Fatah vai enfrentar muitos obstáculos.
Os grupos entraram praticamente em guerra em 2007, depois que um governo com representantes dos dois rivais que administrava os territórios palestinos tanto da Faixa de Gaza como da Cisjordânia entrou em colapso.
Em seguida, militantes do Hamas expulsaram de forma violenta e com mortes os representantes do Fatah da Faixa de Gaza. Por seu lado, o Fatah fez o mesmo com militantes do adversário na Cisjordânia.
Desde então, cada grupo passou a administrar um pedaço dos territórios palestinos.
Além disso, as diferenças ideológicas e políticas são imensas.
O Fatah é um grupo secular, que reconhece o Estado de Israel e defende acordos diplomáticos para um processo que leve à criação de um Estado da Palestina.
O Hamas é um grupo radical islâmico, que não só promove ataques regulares contra o território israelense, como os do dia 7 de outubro de 2023, como também quer a destruição total de Israel.
Em 2018, os dois grupos também chegaram a assinar um acordo de reconciliação.
Poucos dias depois, o Hamas tentou matar o então primeiro-ministro Rami Hamdallah, integrante do Fatah, com uma explosão contra o comboio que o levava para sua primeira visita a Gaza.
Com um histórico assim, a China terá que fazer muito para conseguir fazer o acordo sair do papel.