Análise: Ações e omissões dos EUA incentivam violência israelense em Gaza
Governo americano continua dando passe livre para ação militar no território palestino, apesar da indignação mundial causada pelo elevado número de civis mortos
A guerra na Faixa de Gaza registrou dois episódios trágicos na última semana: as mortes de mais de 100 palestinos famintos enquanto esperavam para receber comida de comboios com ajuda humanitária e a marca de mais de 30 mil pessoas mortas no enclave desde o início do conflito entre Israel e o Hamas.
Os dois fatos sangrentos levaram a um aumento da indignação mundial com relação à violência da ação militar israelense no território palestino.
Obviamente, ninguém nega o direito de Israel se defender de ataques contra sua população – um direito consagrado a todas as nações.
Também é fundamental criticar e condenar as atrocidades cometidas pelo Hamas no dia 7 de outubro de 2023.
Mas os líderes de alguns dos mais importantes países do mundo entenderam que era preciso condenar também o altíssimo número de mortes entre civis palestinos. Eles exigiram uma investigação independente, com punição aos culpados, pela morte dos palestinos que esperavam por comida.
Esses líderes acreditam que a reação da defesa israelense não é proporcional, por conta do alto número de vítimas civis entre os palestinos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, por exemplo, disse que ficou indignado com a morte dos palestinos em busca de ajuda humanitária e exigiu “verdade e justiça” em relação ao papel dos soldados israelenses no ataque. A Alemanha, vários países muçulmanos e o próprio Brasil adotaram posições semelhantes.
A grande exceção, como acontece desde o início da guerra, foi a resposta tíbia dos Estados Unidos – o grande aliado militar e econômico de Israel.
Em entrevistas aos jornalistas, os porta-vozes do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos evitaram o problema e disseram que era necessário esperar uma investigação completa de Israel e que eles não tinham condições de se posicionar sobre os episódios.
Foi mais uma omissão do governo do presidente Joe Biden, que continua dando apoio incondiconal a Israel nesta guerra.
A posição americana, desde o início do conflito, tem sido a de falar publicamente sobre a necessidade de se “fazer o possível para preservar vidas de civis” palestinos e, ao mesmo tempo, dar carta branca para as ações israelenses.
Os americanos vetaram unilateralmente, por exemplo, três resoluções diferentes no Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo na guerra.
A diplomacia americana também bloqueou uma moção criticando Israel pela morte dos civis palestinos na fila da comida dos caminhões com ajuda humanitária.
Além disso, a administração Biden continua enviando ajuda militar aos israelenses e tem pedido ao Congresso americano que libere mais de US$ 12 bilhões para armas ao Estado de Israel.
Para tentar diminuir as críticas internacionais, Biden anunciou que os militares americanos iriam jogar comida e ajuda humanitária, por via aérea, para os civis palestinos.
A ação midiática começou neste sábado (2) e contou com pouco mais de 30 mil refeições imediatas.
Um número irrisório para os mais de dois milhões de palestinos deslocados dentro de seu próprio território pela devastação provocada pela guerra. Além disso, o despejo de comida por via aérea não é a forma mais efetiva de distribuir ajuda.
Ao invés disso, os americanos deveriam exigir a suspensão do bloqueio de água, comida, remédios e ajuda humanitária imposto por Israel à Faixa de Gaza desde o início do conflito.
Como o país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos poderiam exercer muito mais pressão sobre Israel para preservar vidas de civis palestinos. Pressão efetiva.
Mas as ações e omissões de Washington acabam servindo de incentivo para que Israel continue uma campanha sangrenta no território palestino, sob pretexto de lutar pelo fim do Hamas.