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    Veja como deve ser o futuro da Ford e de quem tem carros da marca no Brasil

    Após fechar as fábricas nacionais e tendo uma estratégia global com foco em SUVs e picapes, o que será da marca por aqui?

    Thiago Moreno, colaboração para o CNN Brasil Business

     

    O ano de 2021 começou agitado para o setor automotivo. Logo nos primeiros dias de janeiro, a Ford do Brasil anunciou que encerraria todas as atividades de produção por aqui.

    Antes do fechamento das fábricas, a Ford possuía um dos carros mais vendidos do Brasil, o Ka. Além do hatch, eram oferecidos o Ka Sedan e o EcoSport. O trio estava envelhecendo rápido diante do dinamismo que o setor automotivo mostrou nos últimos cinco anos. Renová-los exigiria altos investimentos. Ainda que o EcoSport já estivesse com uma nova geração sendo desenvolvida em parceria com a divisão indiana da Ford, o projeto acabou sendo cancelado abruptamente.

    A linha Ka e o SUV eram os produtos mais vendidos da marca por aqui e os únicos com fabricação nacional. No entanto, os modelos de entrada possuem margens menores. E é bom lembrar que a Ford adotou, em 2018, uma estratégia global de abrir mão de modelos convencionais e de pequeno porte para focar em SUVs, picapes e elétricos, essencialmente visando maior rentabilidade dos negócios.

    Para fazer uma comparação mais justa, vamos usar os números do primeiro semestre de 2019 e eliminar o baque da pandemia na venda de automóveis em 2020. Naquele período, a Ford emplacou 103.613 carros. Desses, 50.646 unidades foram do Ka, 22.886 do Ka Sedan e 15.433 do EcoSport, totalizando 88.965 unidades. Ou seja, 85,8% de tudo o que a Ford vendeu por aqui naquele ano foi fabricado no Brasil.

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    Agora olhando para os números do primeiro semestre de 2021, em que apenas um pequeno número dos modelos nacionais entram na conta após o fechamento das fábricas, a Ford comercializou 24.746 unidades. A queda perante igual período de 2019 foi de 76,1%.

    A linha da Ford atualmente oferecida no Brasil é composta apenas por modelos importados, sendo eles a picape média Ranger (Argentina), os SUV Territory (China), Edge (Canadá) e Bronco Sport (México) e o esportivo Mustang (Canadá). Todos os modelos pertencem a categorias premium, nas quais o potencial de rentabilidade para a empresa é muito maior do que nas categorias de entrada.

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    O dilema dos concessionários

    Até março de 2021, a Ford do Brasil contava com 283 concessionárias. Dividindo o número de vendas de 2019 pelo total de lojas autorizadas da marca, chega-se a um total de 366 veículos comercializados anualmente em média para cada concessionária. Considerando que a marca mantenha o resultado do 1º semestre de 2021 ao longo do ano, essa média cairá para 87 carros por loja em um ano.

    Por conta disso, dificilmente a Ford conseguirá manter o atual número de lojas no Brasil. A opinião também é compartilhada com a Abradif, associação que representa os distribuidores da marca por aqui. Segundo a entidade, cerca de 160 das atuais 283 lojas podem fechar até o final de 2021, uma retração de 56,5%. 

    Isso poderá ser um problema maior para quem possui carros da Ford em regiões com poucas concessionárias, como os estados de Roraima, Amapá e Acre, que contam com apenas um distribuidor Ford cada. A Abradif diz que a maioria dos fechamentos deve ocorrer no segundo semestre de 2021, uma vez que os lojistas ainda negociam com a Ford uma saída. 

    No entanto, os efeitos já podem ser sentidos, com o Grupo Souza Ramos, distribuidor Ford há mais de 50  anos, encerrando as atividades. Procurada pela CNN Brasil, a Ford declarou apenas que “neste momento, não estamos comentando sobre estratégias relacionadas a nossa Rede de Concessionários. No entanto, reafirmamos nosso compromisso de oferecer assistência total e cobertura nacional aos nossos consumidores, com garantia, peças e assistência técnica para todos os nossos produtos”.

    O futuro da Ford no Brasil

    Como foi visto, a Ford está em meio a uma transformação de sua atuação no mercado brasileiro. No lugar de disputar volume em segmentos de baixa rentabilidade, investirá cada vez mais em produtos importados e direcionados a categorias onde as margens de lucro são mais elevadas, sem precisar arcar com os custos da produção local.

    O primeiro carro dessa nova fase foi apresentado no final de abril. É o Ford Bronco Sport. SUV de porte médio, o modelo é fabricado no México e se aproveita de uma tarifa de importação menor graças aos acordos comerciais mantidos com o Brasil. Ele utiliza uma variação da plataforma de outro SUV vendido nos EUA, o Escape, e marca o renascimento de um antigo SUV da marca de mesmo nome introduzido nos anos 1960. 

    O carro em si é bem moderno, trazendo um motor 2.0 turbo a gasolina de 240 cv de potência e 38 kgfm de torque, aliado a uma transmissão automática de 8 marchas e tração integral. O Bronco Sport também aposta numa lista de itens de série mais farta, com amplo catálogo de equipamentos de segurança ativa e passiva, além de elementos de conectividade de última geração. Tudo isso sem perder o porte de utilitário esportivo. 

    O problema é o preço, pois o carro custa a partir de R$ 264.990. Para comparação, um Ford Ka hatch em seus últimos dias era comercializado por cerca de R$ 50 mil. Mesmo a Ranger, que continua sendo oferecida vindo da Argentina, já parte de R$ 179.790 e é o modelo mais “acessível” da marca atualmente.

    Ainda é previsto para os próximos meses a chegada de uma inédita picape de porte intermediário, aos moldes da Fiat Toro, que se chamará Maverick. Ela compartilha a plataforma, a mecânica e a linha de produção mexicana da Ford no México.

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