Demanda pelo Telluride, SUV da Kia, esvazia pátios de revendedoras
Os revendedores Kia nos EUA têm, em média, estoque do modelo por 15 dias; nos concorrentes, o estoque passa dos 50 dias
A Kia, marca pertencente ao grupo sul-coreano Hyundai, vem tentando há anos ser vista como mais do que apenas uma fabricante de carros baratos para compradores com orçamento limitado.
O sucesso veio aos poucos e foi recentemente coroado com um SUV crossover de sete lugares batizado de Telluride (nome da cidade famosa pelo esqui no estado do Colorado). Premiado diversas vezes, o Telluride da Kia está vendendo tão rápido que sua fábrica em West Point, na Geórgia, não está dando conta dos pedidos.
De acordo com dados da Cox Automotive, os revendedores Kia têm, em média, um estoque de Tellurides por 15 dias em seus pátios. Em termos reais, isso significa que esses SUVs estão saindo quase tão rapidamente quanto entram.
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Por outro lado, os revendedores da GMC contam com uma média de 76 dias do modelo Acadia no pátio e os revendedores da Toyota têm uma espera média de 51 dias do Highlander. Ambos são concorrentes do Telluride.
Ben Burton, gerente geral da revendedora Parkside Kia em Knoxville, Tennessee, disse que já tem um comprador alinhado para cada Telluride que espera receber até setembro.
“Assim que recebo um número VIN [equivalente ao número do chassi no Brasil], as pessoas já dizem ‘OK, é esse que eu quero'”, contou. “Eles ainda nem viram o carro, não tocaram nele, nem sentiram o cheiro, mas logo assinam o contrato e estão prontos para sair com o carro”.
De acordo com Burton, a demanda pelo SUV foi ajudada por um anúncio emocionante do Super Bowl em janeiro passado, com um garoto falando sobre as pessoas da cidade de West Point, na Geórgia. “Esperamos ser conhecidos pelo que fazemos”, diz o menino. “Pelo que construímos.”
Também ajudam os vários prêmios dados para o SUV da Kia. Entre os mais importantes estão o SUV MotorTrend do ano , conquistado em novembro passado, e o Prêmio SUV do Ano na América do Norte, em janeiro.
O Telluride se destacou em praticamente todos os aspectos, do design à dirigibilidade, do manuseio e à funcionalidade interior, disse Mark Rechtin, editor-chefe da revista MotorTrend. “Foi quase uma decisão unânime elegê-lo SUV do ano”, contou. “Eles acertaram em cheio.”
Problemas de produção
O grande e espaçoso Telluride nasceu de um projeto bem norte-americano. Foi projetado no estúdio de design da Kia em Irvine, Califórnia, pensado como um SUV espaçoso, bem ao gosto dos consumidores dos EUA, como explicou o porta-voz da Kia, James Bell. Grande parte dos testes de desenvolvimento foi realizada na pista da Kia em Mojave, Califórnia.
Além de seus próprios atributos, o Telluride entrou em um segmento de mercado que está se saindo relativamente bem no momento. De acordo com o Kelley Blue Book, site que avalia preços no país, as vendas de automóveis caíram devido à pandemia do coronavírus, mas os utilitários esportivos de médio porte estão entre os veículos com melhor saída – com destaque para picapes e pequenos crossovers.
A produção do Telluride começou em fevereiro de 2019, mas a montadora foi fechada no mês de abril de 2020 devido a preocupações com o coronavírus que interromperam o fornecimento de peças.
A fábrica só começou a aumentar a produção no início de maio e agora está operando em três turnos na produção do Telluride, do SUV menor Sorento e do novo sedã K5. Mas, mesmo nesse ritmo, a produção não acompanha a demanda.
Como resultado, alguns revendedores estão cobrando ágio pelo Telluride, algo que raramente acontece na indústria automobilística norte-americana. Geralmente, os clientes negociam descontos com os revendedores. Nesse caso, são os vendedores que estão pedindo mais dos clientes que querem um Telluride.
Em média, o Kia Telluride é vendido com acréscimo de 3% sobre o preço de varejo sugerido pelo fabricante, de acordo com dados do TrueCar, um site de preços de automóveis. O Highlander, da Toyota, está sendo vendido com desconto de 7% sobre o preço sugerido e o Explorer, da Ford, com redução de 8% no valor normal. Mesmo o Palisade, da Hyundai, de tamanho semelhante e que compartilha grande parte de sua engenharia com o Telluride, é vendido por um pouco menos do preço sugerido pelo fabricante.
De acordo com Rick Case, as diferenças entre o Palisade e o Telluride são tão pequenas que a preferência dos clientes pelo Kia se resume principalmente ao estilo. Dono de uma cadeia de concessionárias de carros, incluindo vários revendedores Hyundai e dois revendedores Kia,
Case insiste que as revendedoras nunca cobram acima por uma questão de política. A prática de lucrar mais em cima do modelo “é algo que dura pouco mas é lembrado para sempre”.
Para deixar o cenário ainda mais rentável para a Kia e seus revendedores, os compradores de Telluride não estão buscando o modelo básico, mas sim aqueles mais luxuosos, com vários opcionais e preços iniciais mais altos.
O preço para o modelo básico Telluride LX começa em cerca de US$ 32 mil. Já o da versão premium SX parte de US$ 10 mil a mais – este modelo inclui mimos como rodas de aro 20, dois tetos solares, um sistema de som com dez alto-falantes de alta qualidade e mais cromo no acabamento interno e externo.
“Os modelos que a gente estava testando estavam na faixa de US$ 46 a US$ 48 mil e a gente olhava um para o outro e dizia: ‘Isso é melhor do que um Mercedes’”, lembrou Rechtin, da MotorTrend.
Mudanças graduais
Não faz muitos anos, a imagem da marca Kia podia ser resumida em uma única palavra: barato. Mas esse conceito vem mudando desde que os Kias começaram a parecer mais elegantes.
O chefe global de design da Kia, Peter Schreyer, veio da Audi. Os carros da Kia também costumam oferecer uma experiência de direção mais fina que os concorrentes, como Toyota e Nissan. Carros como o Kia Stinger competem lado a lado com sedãs esportivos alemães, pelo menos em termos de desempenho e recursos disponíveis, embora ainda não em refinamento.
A marca também está conquistando uma reputação de qualidade. A Kia terminou no topo das marcas de automóveis do mercado de massa na pesquisa de indicadores de qualidade da JD Power & Assoc nos últimos seis anos.
Para Burton, o dono de revendedora que trabalha com a empresa há quase 20 anos, essa é uma grande mudança desde os primeiros dias da Kia no mercado norte-americano,
“Costumávamos fazer apostas para ver em quanto tempo um cliente voltava para a loja a bordo de um Sportage ou Spectra com a luz de ‘Check Engine’ (a luz de motor) acesa”, disse ele.
Esses dias ficaram para trás, e agora as pessoas estão esperando sua vez de comprar SUVs que custam até US$ 50 mil.
“Os carros [da Kia] eram algo realmente descartável, do qual você aproveitava as rodas e o resto jogava fora, por assim dizer. Agora as pessoas estão comprando porque, em alguns casos, ele virou um automóvel de luxo”.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).
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