Assim como no Brasil, carro popular pode chegar ao fim nos EUA; entenda
Com pouquíssimas ofertas abaixo dos U$ 20 milhões (cerca de R$ 100 mil), público americano vê preço do automóvel subir após a pandemia de Covid
O brasileiro sente falta da época em que era possível comprar um carro 0 km por cerca de R$ 30 mil. Hoje, a realidade é totalmente diferente, afinal, o modelo mais barato do país, o Fiat Mobi, está saindo por R$ 64.990. Mas isso só é possível graças a uma oferta especial da montadora, já que o preço do compacto está tabelado em R$ 71.990.
Se por aqui já nos acostumamos a viver sem o famoso “carro popular”, os americanos estão passando por um processo muito semelhante. Por lá, é bem provável que não existam mais modelos que custem menos de U$ 20 mil (cerca de R$ 100 mil) até o final do ano. E entre os fatores que colaboram para isso está a pandemia da Covid-19.
Para o setor automotivo, a pandemia trouxe um grande problema, que foi a crise de componentes, em especial, os chips semicondutores. Isso elevou os custos de produção da época, já que esse componente é indispensável para diversos sistemas dos carros modernos. O resultado disso foi um aumento no custo médio de transação de carros novos, indo de U$ 33.700 (mais de R$ 167 mil) em 2019 para U$ 46.000 (cerca de R$ 227 mil), no ano passado.
Mas a pandemia não só aumentou o preço dos carros nos EUA. Ela também sepultou alguns dos modelos mais acessíveis vendidos naquele país. Os Ford Fiesta e EcoSport foram dois deles, assim como os Chevrolet Cruze e Spark. Juntam-se a eles ainda o Hyundai Accent e o Volkswagen Beetle, todos saindo de linha entre 2019 e 2023. Enquanto isso, a Smart, conhecida por vender veículos mais simples e baratos, encerrou suas atividades nos Estados Unidos.
Mesmo com essa debandada, os americanos ainda acham algumas opções acessíveis. O SUV compacto Hyundai Venue seria uma delas, já que tem o preço tabelado em U$ 19.900. Mas com as taxas de frete e acréscimo de impostos, seu valor final acaba passando do teto do carro popular americano.
Resta ao consumidor poucos modelos, como os sedãs Nissan Versa e Kia Rio, além do hatchback Mitsubishi Mirage, todos custando menos de U$ 20.000. Mas existe um porém: os três modelos serão descontinuados até o fim do ano, não restando mais nenhum carro abaixo dessa faixa nos EUA.
Isso praticamente determina o fim do segmento dos carros abaixo de U$ 20.000 no país norte-americano. E a previsão é que eles não voltem, afinal, os números de vendas só estão aumentando com o passar dos anos e o americano têm dado preferência aos modelos mais caros, algo semelhante ao que aconteceu aqui no Brasil.
Antes da pandemia, cerca de 47% das vendas de carros novos estavam abaixo dos U$ 30.000 (cerca de R$ 148 mil). Hoje em dia, essa faixa corresponde a apenas 17% do total de carros vendidos. Já no Brasil, em 2003, o segmento dos carros de entrada vivia seu auge e correspondia a 49,1% das vendas, segundo a Fenabrave. Anos mais tarde, em 2020, esse número caiu para 12,7%.
Se o público prefere modelos mais caros e mais bem equipados, as montadoras agradecem, pois são justamente nesses produtos onde eles obtêm maior margem de lucro. E isso é válido tanto para os americanos, como para nós brasileiros.