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    Beber vinho faz bem para a saúde? Veja o que especialistas dizem

    A bebida contém componentes antioxidantes e anti-inflamatórios, mas o consumo em excesso traz riscos à saúde

    Especialistas explicam se beber uma taça de vinho por dia realmente faz bem à saúde
    Especialistas explicam se beber uma taça de vinho por dia realmente faz bem à saúde Rafa Elias/GettyImages

    Gabriela Maraccinida CNN

    Por muito tempo, se disseminou a ideia de que o vinho é uma bebida que, mesmo alcoólica, pode trazer benefícios para a saúde. Diversos estudos científicos sugerem que o consumo moderado da bebida pode trazer efeitos positivos para a saúde cardiovascular e imunológico. Mas por que isso acontece e até que ponto é verdade?

    De acordo com o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), o vinho tinto possui boa quantidade de polifenóis, componentes antioxidantes que podem, sim, trazer benefícios para o sistema cardiovascular.

    “Apesar da grande quantidade de resveratrol, um potente antioxidante, outros polifenóis estão presentes e, com isso, também ocorre a dilatação arterial, facilitando a circulação sanguínea, ação antiplaquetária, reduzindo a formação de trombo nos vasos sanguíneos e se favorece a neuroproteção”, explica Ribas Filho à CNN. “Outro fator importante é que os polifenóis reduzem a possibilidade de o colesterol LDL [considerado ruim] ser oxidado, e, portanto, evita a aterosclerose”, completa.

    A nutricionista Daniela Cierro, consultora técnica da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), também fala sobre os benefícios que o consumo moderado de vinho pode oferecer à saúde. “Ele pode trazer benefícios como a prevenção de doenças cardiovasculares e câncer, além de ter uma ação protetora do sistema nervoso. Tudo isso graças a uma série de componentes presentes no vinho, como as antocianinas, os taninos, os flavonoides, as catequinas, as procianidinas e os polifenóis”, lista a especialista à CNN.

    Entre os polifenóis, Cierro destaca o resveratrol, um composto bioativo de origem vegetal que não é sintetizado pelo corpo — ou seja, não é produzido naturalmente no nosso organismo e deve ser obtido através da alimentação. “Ele apresenta essa ação protetora para a saúde através dos seus antioxidantes, além de apresentar ação anti-inflamatória”, afirma.

    O que diz a ciência?

    Uma revisão publicada em 2019 associou o consumo de vinho tinto a um menor risco de doença arterial coronariana e, consequentemente, pode ter um benefício para a saúde cardiovascular. No entanto, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) enfatiza que não está clara uma relação de causa e efeito, ou seja, outros fatores podem estar envolvidos nesse benefício, como uma alimentação mais saudável.

    Outro estudo, publicado em 2015, mostrou que beber uma taça de vinho com uma alimentação saudável pode reduzir o risco cardiovascular em pessoas com diabetes tipo 2. Os cientistas acreditam que o etanol presente no vinho desempenha um papel no metabolismo da glicose. No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar as descobertas.

    Em 2018, um estudo mostrou que os polifenóis presentes no vinho tinto podem melhorar a microbiota intestinal, contribuindo para um intestino saudável. Segundo os pesquisadores, esses componentes podem atuar como prebióticos, que são compostos que estimulam bactérias intestinais saudáveis. No entanto, a pesquisa é limitada, e os médicos precisam de mais evidências para compreender os verdadeiros efeitos do vinho tinto na saúde intestinal.

    Outros dois estudos, publicados em 2015 e em 2018, mostraram que o resveratrol, presente no vinho tinto, também pode ser benéfico para a saúde cerebral. O primeiro sugere um efeito protetor contra danos cerebrais secundários após um derrame ou lesão no sistema nervoso central. Já o segundo mostrou que o componente reduziu o estresse oxidativo e a morte celular em ratos com lesão cerebral traumática.

    Benefícios também são encontrados em outros tipos de vinho?

    Segundo Ribas Filho, os componentes benéficos encontrados, principalmente, no vinho tinto também podem ser encontrados no vinho branco. Porém, a quantidade de polifenóis é menor no segundo caso.

    “Essa propriedade benéfica do vinho está presente, principalmente, na casca da uva. No vinho tinto, há mais casca de uva, então há mais resveratrol”, explica Cierro. “Nos vinhos brancos, há uma quantidade bem menor comparada ao vinho tinto, mas é sempre importante ler os rótulos dos vinhos, principalmente a lista de ingredientes, para saber se eles têm açúcar e outros componentes que, na somatória, são mais abundantes do que a uva”, orienta a nutricionista.

    Apesar dos benefícios, é preciso ter cuidado

    Ambos os especialistas enfatizam que os benefícios do vinho tinto são oferecidos pelo consumo moderado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera “moderada” a ingestão diária de 90 ml por mulheres e 180 ml por homens. Isso equivale a uma e duas taças, respectivamente. Doses acima dessa quantidade podem ser prejudiciais à saúde.

    “Os riscos [do consumo exagerado de vinho] são muitos: diminuição da capacidade de discernimento, aumento na probabilidade de desenvolver câncer, aumento de acidente vascular cerebral, aumento de doenças hepáticas, sobrepeso e obesidade, entre outros”, alerta Ribas Filho.

    “O consumo de qualquer bebida alcoólica em excesso pode causar vários danos, desde aquela famosa ressaca do dia seguinte, que é fruto de uma intoxicação alcoólica acompanhada de desidratação, até doenças no fígado, pancreatite, hipertensão, disfunção imunológica, gastrite, úlcera e doenças cardiovasculares”, acrescenta Cierro.

    Por isso, é fundamental ressaltar que os especialistas não incentivam o consumo de bebida alcoólica. “Estamos falando dos benefícios que há, principalmente, na uva”, enfatiza a nutricionista.

    Recentemente, uma pesquisa publicada no Journal of Studies on Alcohol and Drugs analisou 107 estudos publicados que tratavam da relação entre os hábitos de consumo de álcool e longevidade. O artigo mostrou que muitos dos estudos apresentavam defeitos na metodologia, ou seja, na forma como foram conduzidos, o que sugere que os efeitos do vinho para a saúde podem não ser tão benéficos quanto se imaginava.

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