ATR que hoje é da frota da Voepass pegou fogo durante voo em 2010
Relatório do Cenipa aponta que houve "falha de manutenção"; incidente foi considerado grave, mas ninguém se feriu
Um ATR 72-212A que hoje faz parte da frota da Voepass esteve envolvido em uma ocorrência em janeiro de 2010 que foi considerada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) como incidente grave. Um dos motores do turbohélice pegou fogo durante voo no Paraná. Apesar do susto, ninguém se feriu.
Na época, a aeronave, que foi fabricada em 2008 e tem o prefixo PP-PTO, prestava serviço para a extinta Trip Linhas Aéreas. O modelo envolvido na ocorrência é semelhante ao avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) na semana passada, deixando 58 funcionários e quatro tripulantes mortos.
No dia 10 de janeiro de 2010, o ATR da Trip, que fazia o voo 5433, decolou de Curitiba (PR) às 22h02 e iria para Cascavel (PR). Ao todo, 61 pessoas estavam a bordo, sendo 57 passageiros e quatro tripulantes. Clique aqui para ver o relatório do Cenipa na íntegra.
Segundo relatório do Cenipa, por volta de 23h11, a aeronave já se aproximava do aeroporto de Cascavel para pousar. No entanto, a tripulação não obteve contato visual com a pista e iniciou procedimento para arremeter.
“Ao iniciar o procedimento de arremetida, a luz de aviso de fogo no motor esquerdo (engine fire nº 1) acendeu”, diz o documento do Cenipa.
“Os tripulantes executaram o procedimento de emergência para fogo no motor em voo, cortando o motor afetado e acionando as duas garrafas de extinção de fogo, sem resultado imediato”, acrescenta o relatório.
Como o aeroporto de Cascavel estava em condições meteorológicas consideradas desfavoráveis para o pouso, a tripulação decidiu fazer a aterrisagem em Foz do Iguaçu, também no Paraná. A distância entre as duas cidades é de aproximadamente 140 quilômetros.
No trajeto em direção a Foz do Iguaçu, a luz de aviso de fogo se apagou às 23h20, diz o Cenipa. O ATR, então, pousou às 23h38.
“Após o pouso, os pneus superaqueceram-se e perderam pressão (esvaziaram)”, diz o documento. Segundo o material, a aeronave teve “danos leves” na parte interna da carenagem do motor, “danos superficiais” na área externa do motor esquerdo e “evidências de fogo nas cablagens e montantes”.
O relatório aponta que, no momento da arremetida, quando houve a modificação no ângulo de ataque da aeronave, “o combustível escorreu para próximo da parte quente do motor e incendiou-se”.
Conforme o Cenipa, a luz de fogo permaneceu acesa por nove minutos. “O fogo foi observado da cabine de passageiros e informado aos tripulantes técnicos.”
Após inspeção na aeronave, foi concluído que “o bico injetor número 2 do sistema primário de distribuição de combustível não estava conectado corretamente. O anel de vedação do bico injetor nº 2 possuía danos em torção”.
A investigação do Cenipa diz ainda que, uma semana antes do incidente, durante um procedimento de inspeção do PP-PTO, “a oficina mantenedora possuía um único kit de instalação dos bicos injetores, que não estava disponível para a manutenção verificar a correta fixação do sistema de combustível aos bicos injetores”.
Acrescenta ainda que “com base em informações obtidas com o fabricante, desde que foi introduzido o sistema múltiplo flexível de alimentação de combustível do motor PW127, houve vários eventos de vazamento de combustível”.
De acordo com o relatório, a fabricante do motor emitiu um comunicado revisado no ano anterior ao incidente em que “era comentada a incidência de vazamentos de combustível após a instalação do distribuidor flexível de bicos injetores”.
O Cenipa aponta que a falta das ferramentas adequadas para instalação dos bicos injetores durante a inspeção do dia 3 de janeiro –uma semana antes da ocorrência– “indica que não foi feita a instalação apropriadamente, como recomendava o Manual de Manutenção”.
“A instalação inadequada do bico injetor nº 2 do distribuidor primário permitiu que, com a operação contínua do motor, houvesse um desgaste do anel de vedação, evidenciado pelos danos em torção encontrados. Esse desgaste permitiu o vazamento de combustível que, ao entrar em contato com as partes quentes do motor, incendiou-se.”
A Voepass, atual operadora dessa aeronave, foi procurada, mas não se manifestou até o momento da publicação desta reportagem.