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    Mpox: entenda o surto com variante mais letal

    Organização Mundial da Saúde decretou que estágio atual da doença é nova emergência de saúde pública global

    Gabriela Maraccinida CNN

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, nesta quarta-feira (14), que o atual surto de mpox na África é uma emergência de saúde pública global. A declaração ocorre após a entidade convocar o comitê de emergência em meio a preocupações de que uma cepa mais letal do vírus se espalhe para regiões não endêmicas.

    A República Democrática do Congo está relatando surto de mpox, com um total de 15,6 mil casos confirmados e 537 mortes neste ano, segundo a OMS. A preocupação atual é que a versão do vírus que está se disseminando na África não é a mesma do surto mundial de 2022, que era mais branda. A atual cepa circulante no continente é mais letal e potencialmente mais transmissível.

    “Historicamente, havia um grupo de vírus que circulava na África Ocidental, que é chamado de clado 2, e outro grande grupo de vírus que circulava na República Democrática do Congo e países adjacentes, que se chamava clado 1”, explica à CNN Giliane Trindade, professora de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    “Esse clado 1 é o que está em franca transmissão no República Democrática do Congo e ele tem uma maior virulência do que o clado 2, então ele causa um quadro clínico mais grave”, completa. 

    Em setembro de 2023, uma subvariante do clado 1 — batizada de clado 1B — surgiu no República Democrática do Congo e também é considerada mais letal que a clado 2.

    Casos de mpox causados pela nova cepa foram registrados também em Ruanda, Uganda e no Quênia. Atualmente, análises estão em andamento no Burundi para determinar se os casos recentes estão relacionados à nova variante. 

    O que é mpox?

    A mpox é uma doença causada pelo mpox vírus, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. A transmissão do vírus para humanos acontece por meio do contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados com o vírus.

    A doença pode se espalhar por contato próximo, como toque, beijo ou sexo, bem como por materiais contaminados como lençóis, roupas e agulhas, segundo a OMS.

    Os principais sintomas são as lesões na pele, que podem vir acompanhadas de febre, dor no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza. De acordo com o Ministério da Saúde, o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos sinais e sintomas da mpox varia de três a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.

    As lesões na pele podem ser planas ou levemente elevadas e são preenchidas por um líquido claro ou amarelado. Conforme a doença evolui, elas podem formar crostas, que secam e caem. As lesões podem se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas também podem surgir em outras partes do corpo, incluindo boca, olhos, órgãos genitais e ânus.

    O que é um clado?

    O vírus mpox é dividido por dois clados genéticos: 1 e 2. Clados são grupos de vírus que, apesar de terem semelhanças genéticas, não são idênticos.

    “Esses dois grandes grupos abrigam isolados virais que têm diferenças, por exemplo, em relação aos genes que interagem com o sistema imune do hospedeiro, que é o que chamamos de imunomodulação”, explica Trindade.

    Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o clado 1 leva a uma doença mais grave e é mais letal em comparação ao clado 2. O clado 1 é endêmico na República Democrática do Congo e é responsável pelo surto atual. Já o clado 2 foi responsável pelo surto global que começou em 2022, de acordo com o CDC. No Brasil, os casos atuais estão relacionados à circulação do clado 2.

    Em setembro de 2023, foi identificada uma nova variante da doença, batizada de clado 1B. Segundo a OMS, a disseminação da nova variante na República Democrática do Congo está ligada à transmissão por contato sexual e alta movimentação populacional.

    “O grande temor da OMS é que esse clado 1 saia da República Democrática do Congo e se espalhe no mundo todo, que foi o que aconteceu com o clado 2 em 2022”, explica à CNN o médico infectologista Álvaro Costa, que tem a Mpox como tema central de pesquisa de doutorado.

    “Naquela época, todos os casos de mpox eram concentrados na África, e os casos em outras regiões eram importados de pessoas que viajavam para lá e, de repente, tivemos um surto. A tensão agora é para prevenir um surto global com essa outra variante”, acrescenta o especialista.

    Por que a nova variante é mais letal?

    De acordo com o CDC, o surto atual de mpox na República Democrática do Congo está mais disseminado do que qualquer outro surto anterior na região e a letalidade é maior. Só neste ano, a República Democrática do Congo registrou 15,6 mil casos de mpox e 537 mortos. O número já é maior do que o surto de 2022, provocado pelo clado 2: apesar dos 85 mil casos registrados, houve apenas 120 mortes.

    “O clado 1 já era conhecido desde a década de 1970, mas o que temos agora é a emergência de uma nova linhagem dentro desse clado, que é o 1B. Essa linhagem guarda algumas mutações que refletem em uma alta transmissibilidade em humanos”, explica Trindade. “Os sintomas são muito semelhantes, mas a letalidade é maior”, completa.

    Costa acrescenta ainda que as pequenas variações genéticas presentes em cada clado é o que pode definir a gravidade dos sintomas da doença, mas ainda é necessário que mais estudos que analisem a sequência genética do vírus sejam feitos para as autoridades sanitárias entendam essas diferenças.

    “O que já sabemos é que ela é mais letal, está causando mais óbitos. Mas por que o quadro clínico é mais grave, isso ainda precisa ser estudado melhor”, afirma.

    Nova variante pode chegar ao Brasil?

    Na visão de Trindade, há chances de a nova variante se espalhar para outras regiões do mundo além da África. “Nós vivemos em um mundo globalizado, e o que estamos vendo na República Democrática do Congo é que é uma variante bem transmissível. Então tem transmissão comunitária acontecendo e isso não está controlado. Então é sempre um risco quando associado com o fator da globalização”, afirma a professora.

    Diante desse cenário, o Ministério da Saúde convocou uma reunião na terça-feira (13) para tratar da doença. Em nota, a pasta informou que a proposta é atualizar as recomendações e o plano de contingência para a doença no país.

    Ainda de acordo com o comunicado, o ministério “acompanha com atenção” a situação da mpox no mundo e monitora informações junto à OMS e outras instituições, como o CDC.

    Como é feito o tratamento da mpox?

    Ainda não existe um medicamento específico para tratar a mpox. Por isso, o tratamento tem o objetivo de aliviar os sintomas, prevenir e tratar complicações e sequelas e, portanto, é baseado em medidas de suporte clínico.

    A maioria dos pacientes tratados se recupera em um mês, mas a doença pode ser fatal quando não tratada.

    Vacinação funciona para prevenir nova cepa?

    Uma das principais formas de prevenir a mpox é a vacinação.

    Na visão de Trindade, a vacina que já protege contra o clado 2 pode proteger contra o clado 1. “Do ponto de vista genético, esses vírus são muito conservados, o que é bom no caso das vacinas”, afirma.

    A estratégia de vacinação prioriza a proteção das pessoas com maior risco de evolução para as formas mais graves da doença, segundo o Ministério da Saúde.

    A vacinação pré-exposição é recomendada para pessoas vivendo com HIV e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com o vírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade.

    Já a vacina pós-exposição é direcionada para pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais suspeitos, prováveis ou confirmados para mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS.

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