OPINIÃO
Temos de abraçar o Brasil que dá certo
Costumo dizer que se pudesse elencar os países com maior potencial de crescimento na atualidade, certamente estaríamos entre os 10 mais bem posicionados. Tenho visitado, ministrado palestras e participado de eventos em diversas regiões do país e esse “pé na rua” revigora o sentimento de que existe um Brasil que está dando certo. O fato é que nossa insistente mania de repetir erros passados acaba encobrindo os êxitos presentes e ofuscando nossas potencialidades.
Temos Embraer; um agro moderno e pujante; a internacionalização da WEG Motores; o exemplo da Raízen, produzindo etanol 2G; o compromisso com a natureza da Natura; mineração sustentável; exploração de petróleo em águas profundas; e a inspiração do setor de árvores cultivadas para fins industriais, que demonstra ser possível fazer bioeconomia em larga escala, entre outros. Fator comum a essas experiências: foco na demanda mundial e investimentos em pesquisa e capital humano.
O exemplo do setor de base florestal é um bom caminho para entendermos a dinâmica desses casos de sucesso. No Brasil, são quase 10 milhões de hectares de árvores plantadas, colhidas e replantadas. Quando expandem seus cultivos, utilizam terras com baixo rendimento, como pastos improdutivos, proporcionando ganho de fertilidade ao solo e maior captura de CO2. Aliado a isso, o setor conserva outros 6,7 milhões de hectares de mata nativa, uma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro.
Essa agroindústria é socioeconomicamente importante para o país. Até 2028, a carteira de investimentos que passa os R$ 80 bilhões. Em contraposição ao movimento de desindustrialização do Brasil, o setor de árvores cultivadas inaugura, em média, uma fábrica a cada um ano e meio.
Em Ribas do Rio Pardo (MS), entrou em operação a unidade mais moderna da Suzano, um investimento de R$ 22,2 bilhões na maior linha única de celulose do planeta. A Klabin, em seu projeto Puma II, no Paraná, entregou a primeira fábrica com gaseificação de biomassa florestal. Em Lençóis Paulista (SP), a Bracell ergueu uma planta tecnológica flex para fabricação de celulose solúvel e celulose kraft. Todas essas unidades são fóssil free, gerando energia a partir de biomassa florestal.
A Arauco iniciou obras de sua nova planta em Inocência (MS), com investimento de R$ 25 bilhões. A CMPC, por sua vez, anunciou aporte de R$ 24 bilhões em Barra do Ribeiro (RS) para construção de nova unidade fabril. Mas nada disso seria tão robusto se este não fosse um setor conectado com o mundo. A indústria de base florestal nacional é a segunda produtora e a maior exportadora de celulose do planeta.
A visão empreendedora de líderes do setor estimulou a certificação voluntária das companhias. Antevendo exigências por rastreabilidade e comprovação de processo ambientalmente responsável, as empresas buscaram, há mais de 20 anos, a chancelas de FSC e PEFC.
Para acompanhar este processo, a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), associação que representa todo o setor de base florestal brasileiro, faz um trabalho forte no Brasil e no exterior. Uma de minhas primeiras atitudes ao ingressar na presidência executiva da Ibá, em 2019, foi robustecer a estratégia internacional já em andamento, dando continuidade ao trabalho feito junto às certificações internacionais e participando ativamente em COPs do Clima e da Biodiversidade, assim.
Avançamos em outras frentes. Vale menção à importância do trabalho proativo em temas sensíveis, como a EUDR (European Union Deforestation Regulation), uma das mais de 50 regras que fazem parte do Green Deal europeu, cujo objetivo é impedir a entrada de commodities na Europa oriundas de áreas desmatadas a partir de dezembro de 2024. Para alinhar conceitos, evitar equívocos e demonstrar o trabalho sustentável do setor, foi implementada uma missão a Bruxelas, cuja delegação se reuniu com representantes de Comissões e do Parlamento Europeu.
José Carlos da Fonseca Jr., diretor de Relações Internacionais da Ibá, acabou de ser eleito presidente do ACSFI (Advisory Committee on Sustainable Forest-based Industry). Trata-se do braço da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que representa o setor de base florestal global, também sendo o único colegiado constituído pelo setor privado. Uma conquista de enorme importância, uma vez que o ACSFI atua para contribuir e influenciar em decisões da FAO/ONU.
O Brasil precisa se inspirar nos bons exemplos, apostar na troca de experiência com aqueles que vêm dando certo e transferir conhecimento para adaptar casos de sucesso a outros segmentos.
A ascensão da economia verde e o desarranjo das cadeias globais de suprimentos obrigam as principais economias a buscarem mercados seguros, estáveis, sem guerras e com soluções ecologicamente adequadas. Aqui temos um país em paz com outras nações e ativos ambientais invejáveis, como sol, ventos constantes em diversas partes do país, 12% da água doce do planeta e uma matriz energética que utiliza 47% de fontes renováveis, além da maior floresta tropical e da maior biodiversidade do planeta.
É preciso abraçar este Brasil que dá certo. Temos de parar de olhar no retrovisor e concentrar nas oportunidades do horizonte, deixando de lado a insistência de reavivar antigos modelos de negócio que já provaram não dar certo. Somente assim deixaremos de ser o país do futuro que nunca chega para nos tornarmos uma das soluções planetárias do presente.