Dólar perde fôlego e encerra a R$ 5,74 em dia de pânico global; Ibovespa recua
Mercados ampliam temor de recessão nos EUA após dados do mercado de trabalho piores que o esperado
Os principais indicadores do mercado brasileiro encerraram no campo negativo — apesar de mostrarem recuperação ao longo da sessão — em uma segunda-feira (5) que ficará na memória dos investidores por um bom tempo.
O desempenho do Ibovepa e câmbio refletem quedas generalizadas vistas ao redor do mundo, iniciando na Ásia, com a bolsa de Tóquio tendo o pior desempenho desde 1987, enquanto praças na Europa e Wall Street também tiveram resultados negativos expressivos.
O tombo sincronizado foi projetado pelo temor dos mercados de que os Estados Unidos caminham para uma recessão — resultado de uma política monetária no maior patamar em mais de duas décadas —, e se expandiu também para outros segmentos da economia, como commodities e criptoativos.
O gatilho foi deflagrado na semana passada, sobretudo com dados do mercado de trabalho piores do que o previsto, e se ampliaram para este início de semana, apesar de alguns analistas verem a reação como exagerada.
Além dos dados, investidores também enxergam com receio resultados pouco animadores de ações de tecnologia — setor que impulsionou Wall Street nos últimos meses, além do agravamento das tensões no Oriente Médio.
Diante destas pressões, o Ibovespa encerrou a sessão com perda de 0,46%, aos 125.269 pontos, com pressão negativa de Vale (VALE3), que caiu 1,06%, e Petrobras (PETR4), com perda de 0,08%.
Na ponta contrária, Bradesco (BBDC4) evitou tombo maior da bolsa, com alta de 7,59%, após publicação de resultados do segundo trimestre.
A busca por proteção trouxe grande volatilidade ao dólar, que chegou a tocar a máxima de R$ 5,86.
A moeda perdeu fôlego durante a sessão, chegando até a cair ante o real, mas voltou a subir para encerrar o dia com alta de 0,53%, negociada a R$ 5,741, rondando o maior patamar desde dezembro de 2021.
Os primeiros sinais de que o início da semana seria problemático partiram da Ásia, com queda de 12,4% do Nikkei 225, bolsa que concentra as principais empesas do Japão.
O temor se expandiu para as praças da Europa, com o Stoxx 600, que reúne as maiores companhias do continente, tocando as mínimas em seis meses. Ao fim da sessão, o indicador havia recuado 2,17%.
Em Wall Street não foi diferente. Dow Jones perdeu 2,65%, enquanto S&P 500 e Nadasq caíram 3,06% e 3,5%, respectivamente.
A reação em Nova York está sendo especificamente mais difícil para companhias de tecnologia após resultados pouco animadores no segundo trimestre e a impaciência dos investidores por retornos da inteligência artificial após aportes bilionários das empresas nos últimos anos.
Neste fim de semana, a Berkshire Hathaway, do guru Warren Buffett, anunciou que se desfez de metade das suas ações da Apple.
Reação exagerada?
O mercado avalia que o movimento observado nesta segunda-feira tende a ser passageiro, sendo um choque que exige correções obrigatórias por parte de investidores e fundos de investimentos, que antes estavam otimistas após a última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, indicar cortes nas taxas de juros em setembro.
Esse bom humor durou até a última sexta-feira (2), quando dados mostraram que a criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos desacelerou mais do que o esperado em julho, enquanto a taxa de desemprego aumentou para 4,3%.
O resultado gerou um forte temor de uma possível recessão na maior economia do mundo e já havia afetado os mercados na semana passada.
“Vimos todas a bolsas caindo muito. Geralmente quando temos perspectiva de cortes de juros nos EUA isso tende a valorizar o mercado de ações, as bolsas sobem. Mas quando combinamos isso com uma preocupação de recessão, a tendência é de impactar a perspectiva de lucro das empresas”, explica Francisco Nobre, economista da XP.
Os números de sexta-feira, apesar de apresentarem fraqueza no mercado de trabalho, não seriam suficientes para indicar uma deterioração do mercado de trabalho que seria consistente com uma recessão.
Luiz Rogé, sócio da Matriz Capital Asset, pontua que a reação vista neste início de semana é exagerada diante de outros fatores da economia norte-americana.
Dados de julho mostraram que o Produto Interno Bruto (PIB) do país teve alta de 2,8% no segundo trimestre, em comparação ao mesmo período do ano passado.
“Eu não enxergo a possibilidade de recessão como certa. O mercado de trabalho e economia como um todo está indo muito bem. O que estamos vendo é o ponto de inflexão no crescimento, ou seja, está crescendo menos”, explica.
Economistas ainda avaliam que existem outras instabilidades que se acumularam ao longo do mês de julho e que contribuíram para um aumento das incertezas globais.
Diego Chumah, gestor de bolsa macro do ASA Hedge, cita a expectativa do ex-presidente Donald Trump vencer as eleições americanas, marcadas para novembro, além de volatilidades no cenário de balanços corporativos, principalmente de empresas de peso como a Tesla, Intel e Microsoft.
Chumah explica ainda que o posicionamento dos investidores estava muito voltado para as big techs. Com uma piora das perspectivas para os EUA, a tendência é de reduções dessas companhias no portfólio dos investidores.