Prefeito de Pacaraima relata corrida por alimentos e combustível na fronteira com a Venezuela
Juliano Torquato disse à CNN que teme a volta dos índices de fluxo de 2019, quando cerca de 1.300 venezuelanos entravam no Brasil pela cidade a cada dia
Filas em supermercados e postos de combustíveis. Esse é o cenário da pequena Pacaraima, município em Roraima na fronteira com a Venezuela, dois dias depois das eleições que colocaram Nicolas Maduro e o opositor Edmundo González em uma batalha que transformou contexto local em crise diplomática internacional.
Quem relata é o prefeito da cidade, Juliano Torquato, ouvido pela CNN. Ele conta que a movimentação começou na quarta-feira da última semana (24), quando os venezuelanos receberam a notícia que a fronteira seria fechada durante as eleições.
O movimento se intensificou nessa segunda (29), que começou com a fronteira ainda fechada. A travessia só foi liberada às 6h da manhã, mas voltaram a fechar às 7h e só reabriram às 10h.
O abre-e-fecha intensificou ainda mais o movimento de venezuelanos entrando no Brasil em meio a protestos e incertezas sobre o futuro do país vizinho.
“Os venezuelanos estão preocupados porque podem voltar a fechar a fronteira a qualquer momento por conta dos protestos no centro do país. O que a gente percebe é um fluxo maior de pessoas comprando produtos de gêneros alimentícios e combustíveis para armazenar”, relatou o prefeito à CNN.
Ele conta que a cidade tem apenas dois postos de combustíveis e alguns mercados, e que as filas se espalharam por todos esses lugares ao longo dessa segunda-feira. Pacaraima tem 19,3 mil habitantes segundo o IBGE.
“A gente tem percebido filas desde quarta-feira da semana passada, quando as pessoas foram avisadas de que a fronteira seria fechada. Filas nos dois postos de combustíveis da cidade e também nos supermercados”, diz Torquato. “Eles compram macarrão, arroz, proteína, frango, calabresa… São os alimentos da cesta básica”, completa.
Essa não é a primeira vez que o clima de tensão toma conta da cidade. Pacaraima tem um grupamento do Exército instalado permanentemente por causa da Operação Acolhida, para abrigar os refugiados do regime de Maduro.
Depois de uma eleição contestada em 2018, a crise na Venezuela se aprofundou e, em 2019, o fluxo migratório disparou em meio às contestações sobre a legitimidade de Maduro para comandar o país.
“A preocupação nossa é o retorno do fluxo de 2019, que chegou a 1300 pessoas por dia passando a fronteira. A gente já teve meses com 30 mil venezuelanos entrando no Brasil por Pacaraima. Essa é a forma mais tranquila para eles saírem do país por fronteira terrestre”, diz o prefeito.
A média dos últimos seis meses ficou em torno 350 pessoas por dia. Algumas [pessoas] permanecem, outras seguem viagem e solicitam refúgio. Pacaraima tem uma estrutura para 2,5 mil pessoas abrigadas e já estamos 100% lotados”, completa.
Maduro e a oposição trocam acusações sobre o pleito. O resultado anunciado pela Comissão Nacional Eleitoral venezuelana – de que Maduro teria vencido com 51% dos votos – é constado pela oposição, que sugere que González venceu com 73% dos votos.
Países com governos de esquerda e algum alinhamento a Maduro, como é o caso do Brasil, pedem o detalhamento dos resultados por regiões eleitorais para, só assim, corroborar o comunicado oficial do órgão do governo venezuelano.