Planejamento derrubaria defesa de sequestradora de bebê, dizem médicos
Advogados de Claudia Soares Alves alegaram que ela tem 'transtorno afetivo bipolar' e estava 'em crise psicótica' quando levou bebê de maternidade mineira
Médicos ouvidos pela CNN alegam que os elementos de premeditação no caso do sequestro de um bebê no interior de Minas Gerais são suficientes para derrubar a tese de que a sequestradora estava em ‘crise psicótica’ no momento do crime.
Claudia Soares Alves foi capturada na cidade de Itumbiara, no interior de Goiás, depois de ter levado de uma maternidade de Uberlândia, no interior de Minas Gerais, uma bebê sequestrada dentro de uma mochila. Segundo a polícia, ela se passou por pediatra e afirmou que levaria a criança a um quarto ao lado para ajudar na amamentação.
Em entrevista ao Live CNN na manhã desta quinta-feira (25), dois dias depois do sequestro, o delegado Carlos Fernandes revelou que a mulher já tinha um enxoval montado. “Carrinho de bebê, fraldas leite… […] Ela já tinha em casa um quarto preparado, todo um suporte para receber essa criança”, revelou ele.
Para psiquiatras ouvidos pela CNN, esses elementos não caracterizam um surto psicótico. Essa foi exatamente a alegação dos advogados de Claudia como argumento de defesa. Eles alegam que irão “demonstrar em juízo que a acusada é portadora de transtorno afetivo bipolar e no momento dos fatos se encontrava em crise psicótica, não tendo capacidade de discernir a natureza inadequada e/ou ilícita de suas atitudes”.
Os especialistas rebatem. “Não há nenhum indício de que ela tenha transtorno bipolar. É claro que ela não deve ser mentalmente muito saudável, pois mulheres saudáveis não fazem isso que ela fez: um sequestro, sem nem levar em consideração os sentimentos dos pais biológicos da criança. […] Um bipolar deprimido pode premeditar seu suicídio. Não me parece que possa premeditar tudo isso que ela aprontou”, explica o psiquiatra Arthur Kaufman.
Outro psiquiatra ouvido pela CNN afirmou reservadamente que nos delírios da bipolaridade, uma mulher poderia ter o delírio de estar grávida ou ser mãe de alguém que não é, mas que os vários elementos de premeditação não são compatíveis com um surto. Num quadro de surto psicótico, segundo os médicos, não haveria consciência de que o ato praticado seria errado, a ponto de ser necessário disfarçar ou simular a cena.
A psiquiatra Jéssica Martani, especialista em transtorno bipolar, explica que a fase de “mania” pode durar até semanas com alterações de conteúdo do pensamento e senso percepção.
“Não dá para dizer se ela estava ou não em surto. O que posso dizer é que, muitas vezes, pode não ter sido premeditado, pode ser que ela estava em delírios há dias, mas não há como afirmar”, sustenta ela.
Justamente por isso, os especialistas defendem a realização de um teste psiquiátrico independente que possa afirmar o quadro real da sequestradora. À CNN, o delegado do caso disse que isso não está descartado, mas que aconteceria na fase judicial do processo, com quesitos formulados tanto pela defesa quanto pelo Ministério Público.