“Perdeu a oportunidade de ficar calado”, diz ex-presidente do TSE sobre Maduro
Ayres Britto defende pronunciamento formal do tribunal para evitar desestímulo ao eleitor brasileiro; posicionamento é acompanhado por outros ex-integrantes da Corte
Ex-presidentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ouvidos pela CNN contestaram as falas do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, sobre o sistema de votação brasileiro e defenderam que a Corte se pronuncie para refutar as alegações.
O ministro aposentado Ayres Britto, que esteve à frente do TSE nas eleições de 2008, disse que, por se tratar de declaração de um chefe de Estado, cabe à Corte elaborar uma resposta formal para rebatê-la.
“A declaração de Maduro, se não rebatida cabalmente, formalmente e competentemente pelo TSE, pode até mesmo desestimular os eleitores brasileiros a comparecerem às urnas”, disse Britto.
Segundo ele, o presidente venezuelano “perdeu a oportunidade de ficar calado”, pois nunca houve provas que pudessem comprometer a lisura das urnas ou a confiabilidade do sistema eleitoral do Brasil.
A avaliação é compartilhada pelo ministro aposentado Marco Aurélio Mello, três vezes presidente do TSE. “Somente quem não tem o domínio do sistema brasileiro, no que preserva a vontade do eleitor, pode colocá-lo em dúvida”, afirmou.
Marco Aurélio argumenta que o TSE, como órgão de cúpula da Justiça Eleitoral, poderia emitir uma nota não para retrucar Maduro, mas para explicitar, com argumentos técnicos, o sucesso da urna eletrônica.
“É muito ruim quando o dirigente estrangeiro começa a palpitar sobre assunto que não diz respeito a ele”, afirmou o ministro, classificando a declaração de Maduro como um “arroubo de retórica”.
“Quando temos um Estado Democrático de Direito, o que prevalece é o resultado das eleições. Presidi as primeiras eleições informatizadas, nas capitais com mais de cem mil eleitores, e jamais surgiu uma impugnação minimamente séria.”
O ex-presidente do TSE Carlos Velloso afirmou à CNN “dispensar a mínima consideração ao que diz e desdiz” Maduro, a quem chama de ditador. “De coice de burro e pedrada de doido, ninguém escapa.”
A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, ainda não se manifestou oficialmente. Por ora, não há previsão de uma fala pública da magistrada para contestar as alegações de Maduro.
A interlocutores, Cármen tem afirmado que a declaração do presidente venezuelano não tem lastro na realidade, uma vez que as urnas eletrônicas são auditáveis e nunca houve comprovação de fraude.