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    Políticos de peso no Brasil não estão dispostos a aceitar fraude na Venezuela, diz à CNN candidato opositor

    Em entrevista exclusiva à CNN, Edmundo González elogia o envio de observadores do TSE e diz acreditar que integrantes do governo Lula não estão dispostos a apoiar “fraude” eleitoral

    Luciana Taddeoda CNN Enviada especial a Caracas

    Inscrito de última hora na corrida eleitoral, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, é hoje o candidato com mais chances de vitória contra Nicolás Maduro, no pleito do próximo domingo (28), que definirá o próximo presidente da Venezuela.

    Até então desconhecido pelos venezuelanos, González acabou escolhido pelo bloco Plataforma Unitária para o hercúleo desafio de concorrer contra Maduro e todo o aparato governamental venezuelano após María Corina Machado – proibida de ocupar cargos públicos pelos próximos 15 anos – e da candidata escolhida por ela, Corina Yoris, terem sido impedidas de se candidatar.

    No último fim de semana, na reta final de uma campanha eleitoral na qual Machado e a prisão de integrantes da equipe da líder opositora acabaram se tornando protagonistas, González recebeu a CNN em sua casa, na Grande Caracas.

    A CNN também solicitou entrevista com o presidente Nicolás Maduro, e aguarda retorno.

    Em entrevista exclusiva antes da recente fala de Lula de que Maduro precisa respeitar o processo democrático da Venezuela e entender que, se perder, precisa sair do poder, González Urrutia elogiou o envio de observadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para acompanhar as eleições venezuelanas.

    Para ele, que foi ex-embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia, o peso regional do Brasil faz com que qualquer decisão ou declaração do país sejam “seguidas com muita atenção”. Ele também afirma que conversou com políticos de alto escalão no Brasil que não estão dispostos a aceitar uma fraude eleitoral na Venezuela.

    Leia trechos da entrevista:

    CNN: Há várias denúncias de prisões de opositores, de assédio, de intimidações. Em que situação chega a oposição para essas eleições?

    • Edmundo González (EG): A oposição chega no melhor momento politicamente falando. Temos uma candidatura única, candidatura que foi eleita por unanimidade pelos membros da plataforma, temos todas as pesquisas de opinião que dão para nós a cômoda vantagem sobre o candidato do governo e que estamos muito satisfeitos. Todas essas coisas que você menciona são verdade. Tem intimidação, tem uma campanha brutal contra a candidata… a líder da oposição venezuelana María Corina Machado, teve um atentado há dois dias, cortaram os condutos do freio do seu veículo, o que poderia causar uma tragédia.
      São repetidas situações dia após dia, todo o tempo tem isso, agressões verbais, intimidação. Esse não é o clima que uma campanha eleitoral deveria ter. Este clima não é o clima da Venezuela em uma campanha eleitoral. Quando vou pegar um avião, se é a linha aérea do Estado venezuelano, aliados deles [governo] são enviados para nos intimidar. Eu vinha com María Corina Machado de um tour pelo interior, paramos na estrada em um conhecido restaurante para almoçar e tivemos que sair porque grupos do governismo protestaram do lado de fora contra nossa presença aí. Se nós paramos em um restaurante, no dia seguinte este local está fechado. Isso aconteceu repetidas vezes. E particularmente focam na María Corina, é impressionante.

    CNN: O senhor se sentiu ameaçado em algum momento?

    • EG: Na verdade, não. Ofereceram proteção para mim e para a María Corina, nós a aceitamos, claro. Mas mais do que ameaças físicas, são as falas inflamadas do governo… Me chamam de decrépito. Isso não é uma linguagem civilizada para uma campanha eleitoral. Permanentemente é assim, não é um clima desejável, não é um clima adequado para uma campanha eleitoral e como sentem que esses 25 anos que estão no poder estão se desgastando, estão colocando tudo em jogo.

    CNN: O presidente Nicolás Maduro está falando da possibilidade de um banho de sangue e de uma guerra civil. O senhor acha que há possibilidade de violência política na Venezuela depois das eleições de 28 de julho?

    • EG: Isso é uma irresponsabilidade, ficar chamando os partidários do governo para sair às ruas. Essas ameaças de guerra civil realmente são uma irresponsabilidade, porque isso pode dar margem para alguns. Mas nem todos os seguidores do chavismo compartilham essa linguagem.

    CNN: Mas o senhor acha que tem possibilidade de violência política?

    • EG: Eu espero que não. Confio que o venezuelano vai aceitar os resultados, nós temos muita certeza das pesquisas que dão uma ampla e cômoda vantagem para a nossa candidatura e eu confio que o governo terá a capacidade para assumir a derrota e em estabelecer conversas conosco para fazer uma transição ordenada e em paz.

    CNN: Que margem de vitória calculam que vão ter?

    • EG: Quase todas as pesquisas nas medições entre 25 e 32 pontos acima do chavismo.

    CNN: Isso é muito.

    • EG: É muito e é irreversível. Eles tentaram encontrar vários métodos para diminuir essa vantagem. Mas façam o que fizerem, a essa altura é impossível que consigam reverter essa vantagem que está a nosso favor.

    CNN: A que métodos se refere que eles usaram para reverter?

    • EG: Bom, reengenharia eleitoral, mudanças de eleitores para outros centros, uma série de artimanhas desse tipo.

    CNN: O senhor acha que se ganhar, conseguirá assumir?

    • EG: Essa é a regra da democracia: uns ganham e outros perdem, e na Venezuela constitucionalmente se define como um Estado alternativo, quer dizer, aqui tem alternância de poder. Nós confiamos que o governo terá a capacidade de aceitar a derrota e começar conversas com a oposição que for ganhadora dessas eleições.

    CNN: O senhor acredita que o governo brasileiro está fazendo o suficiente para evitar perseguições ou a violação de alguns direitos políticos na Venezuela nesse processo eleitoral?

    • EG: Se não fez até agora, vai fazer. No governo tem muitas pessoas, eu conheço a trajetória política de algumas delas, não estão dispostas a apoiar uma situação como de fraude na Venezuela.

    CNN: O senhor está em contato com integrantes do governo que dizem que não estão dispostos a apoiar uma fraude?

    • EG: Conversei com alguns deles. Conversei com seus representantes diplomáticos aqui em Caracas e conversei com alguns dirigentes políticos de muito peso no Brasil.

    CNN: E o que te dizem?

    • EG: Que estão fazendo o melhor possível para levar esse processo em paz e ordenadamente.

    CNN: No fim o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil decidiu mandar observadores.

    • EG: Isso nos satisfaz porque dá garantia de que haverá mais observação eleitoral séria, qualificada, que possa colocar um olho na Venezuela e que possa neutralizar qualquer tentativa de não reconhecer os resultados.

    CNN: São dois observadores. É suficiente?

    • EG: Nunca é suficiente, o ideal seria ter muito mais. Mas são dois observadores de qualidade que se somam aos milhões de venezuelanos que vão estar muito pendentes dos resultados e nos dá a garantia de que poderemos ter uma observação qualificada neste processo.

    CNN: E vocês como receberam essa notícia da observação do Brasil?

    • EG: Com simpatia porque o Brasil é um país de muito respeito, de muito peso no âmbito regional e qualquer decisão, declaração, do Brasil será seguida com muita atenção.

    CNN: O Brasil é um país de peso que ajuda a amenizar alguns problemas da Venezuela? Como o senhor vê o papel do Brasil na incidência real da vida política?

    • EG: O Brasil é um ator internacional chave na região e é um ator internacional fundamental para aliviar qualquer tensão que possa haver no processo político venezuelano.

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