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    Como o envelhecimento impacta o cérebro e a cognição? Entenda

    Conforme envelhecemos, alterações estruturais e funcionais que podem afetar atividades como memória e capacidade de aprendizado

    Gabriela Maraccinida CNN

    Com o início das campanhas eleitorais dos Estados Unidos, tornou-se evidente uma pressão por parte de políticos e cidadãos norte-americanos para que o presidente Joe Biden prove sua força e capacidade cognitiva para liderar um possível segundo mandato.

    A situação, que, à priori, pode ser considerada apenas política, também traz à tona um assunto de interesse humano: o envelhecimento natural e o seu impacto na cognição. Conforme envelhecemos, o cérebro passa por alterações estruturais e funcionais que podem afetar a atividade cognitiva.

    “Essas mudanças podem trazer a redução do desempenho cognitivo em alguns domínios, como velocidade de processamento de informações e problemas de memória”, afirma à CNN Carolina Rebellato, especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    Alguns exemplos comuns desse impacto é a dificuldade de recordar nomes, números de telefone e objetos guardados. No entanto, esse declínio cognitivo natural ao envelhecimento pode não trazer impactos nas funções cotidianas, conforme explica Diogo Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

    “Existe, sim, um declínio cognitivo que é normal e usual [no envelhecimento], e o grande ponto é que essa queda cognitiva natural não impacta na funcionalidade de uma pessoa”, afirma o especialista. Porém, ele ressalta que, quando as atividades do dia a dia e outras funções começam a ser afetadas pelo declínio cognitivo, pode ser sinal de algum problema mais sério de saúde, como a demência.

    Por que a função cognitiva é impactada no envelhecimento?

    Segundo Rebellato, fatores internos e externos estão envolvidos no impacto do envelhecimento nas funções cerebrais.

    “Há aspectos biológicos como perda de neurônios, redução da densidade sináptica [comunicação entre neurônios] e da produção de neurotransmissores, acúmulo de determinadas proteínas no cérebro, redução de síntese e absorção de vitaminas, e mudanças hormonais que podem trazer alterações no desempenho cognitivo no geral”, explica a geriatra.

    Além disso, o processo de envelhecimento neurobiológico do cérebro pode vir acompanhado de outras perdas de funções no corpo, como a perda sensorial e de processamento auditivo e visual. “Isso pode afetar os processos cognitivos e dificultar de aprender e processar informações, dar respostas adequadas ao que é preciso”, acrescenta.

    Por outro lado, existem fatores externos que podem afetar a cognição e são acumulados ao longo da vida. É o caso do sono insuficiente, da alimentação inadequada e do estresse, segundo Haddad.

    “A ausência de estímulos cognitivos também pode gerar um impacto na cognição”, afirma o neurologista. Esses estímulos incluem atividades que exigem atenção e raciocínio, como jogos, aprender um novo idioma, realizar cálculos matemáticos, fazer trabalhos manuais, escrever e, até mesmo, meditar.

    Outros fatores que podem acelerar a queda da cognição no envelhecimento são:

    Quando o declínio cognitivo pode indicar demência?

    O impacto do envelhecimento na cognição é algo natural e, em alguns casos, não representa um risco à saúde. No entanto, quando esse declínio passa a afetar atividades cotidianas ou leva a alterações de comportamento e de personalidade, pode sugerir um quadro de demência que deve ser investigado por um médico especializado.

    “O grande ponto é conseguir analisar seus próprios sintomas e ter um médico para analisar se, realmente, é algo normal ou se é o início de um comprometimento cognitivo leve ou um processo demencial”, orienta Haddad. No geral, existem três tipos de declínio cognitivo, que variam em intensidade e gravidade. São eles:

    • Declínio cognitivo subjetivo: caracterizado pela autopercepção do declínio cognitivo, em que a pessoa expõe queixas a respeito da cognição, geralmente, relacionado à memória. No entanto, não chega a ser identificado em testes cognitivos e não há comprometimento funcional no desempenho das atividades diárias;
    • Transtorno neurocognitivo leve: pode ser identificado em testes cognitivos, com o comprometimento de memória e/ou da linguagem, mas sem o prejuízo da autonomia e de atividades diárias. Porém, a pessoa pode apresentar dificuldade para realizar atividades complexas e é um grande fator de risco para o desenvolvimento de demência;
    • Transtorno neurocognitivo maior: caracteriza uma síndrome demencial e leva ao prejuízo funcional, afetando o desempenho das atividades diárias. A pessoa passa a necessitar do suporte de terceiros para sua autonomia.

    “Uma pessoa com transtorno neurocognitivo leve pode apresentar dificuldade para memorizar locais, nome das pessoas e de se comunicar, além de se colocar em uma situação de maior isolamento social, além de executar atividades mais simples e passivas, como assistir à televisão ou ouvir música”, exemplifica Rebellato.

    Com a evolução do declínio cognitivo, transformando-se em uma demência, a pessoa pode ter problemas motores, com menor lubrificação das articulações, e comprometimento de outras funções fisiológicas. “Ela pode esquecer de ir ao banheiro, de evacuar ou urinar e, consequentemente, desenvolver problemas associados às funções geniturinárias. Além disso, ela pode ter dificuldade de deglutição [engolir alimentos ou líquidos]”, acrescenta a geriatra.

    Sinais e sintomas comuns de declínio cognitivo

    Os sinais e sintomas de declínio cognitivo podem variar conforme a causa. Por exemplo, o Alzheimer representa cerca de 60% a 80% dos casos de demência. Porém, outros transtornos podem causar a condição, como a demência vascular, demência por corpos de Lewy, demência frontotemporal, demência relacionada ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) e Parkinson.

    Alguns quadros clínicos também podem levar à demência de maneira reversível (ou seja, tratável a partir da resolução ou manutenção da doença), como hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, tumores cerebrais, doença de Lyme, doenças autoimunes e esclerose múltipla. Nesses casos, os sintomas podem surgir também em pessoas mais jovens.

    De maneira geral, os sinais e sintomas de declínio cognitivo mais comuns são:

    • Perda de memória;
    • Mudanças na personalidade;
    • Desorientação;
    • Dificuldade para realizar tarefas diárias habituais;
    • Problemas de linguagem;
    • Dificuldades motoras;
    • Dificuldade para aprender e lembrar novas informações;
    • Dificuldade de reconhecer pessoas e objetos.

    O diagnóstico é realizado por avaliação médica, testes cognitivos e neurológicos, além de exames de sangue e de imagem para descartar outras causas para os sintomas.

    Como prevenir e minimizar o impacto do envelhecimento no cérebro? Veja dicas

    Algumas medidas práticas podem ajudar a minimizar o impacto do envelhecimento na cognição. Os especialistas consultados pela CNN orientam a:

    • Realizar atividades que estimulem a cognição: como aprender um novo idioma ou realizar um curso, além de ler livros;
    • Realizar atividades de lazer;
    • Manter as relações sociais e familiares próximas;
    • Manter uma alimentação saudável, rica em alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios e pobre em ultraprocessados;
    • Monitorar outras condições de saúde, como hipertensão, colesterol alto e diabetes;
    • Evitar o consumo de álcool e o tabagismo;
    • Praticar regularmente atividades físicas;
    • Dormir bem, de sete a oito horas por dia.

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