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    Américo Martins
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    Américo Martins

    Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou mais de 70 países

    Entenda como o atentado contra Trump vai mudar a campanha eleitoral dos EUA

    Biden terá que reduzir ataques contra o republicano, que vai vender a ideia de que ele é uma espécie de herói americano

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    O atentado contra o ex-presidente Donald Trump vai mudar vários aspectos da campanha eleitoral deste ano nos Estados Unidos.

    Em primeiro lugar, os democratas vão ter que alterar radicalmente sua principal estratégia eleitoral, que era tentar transformar a disputa num verdadeiro plebiscito sobre Trump.

    O presidente Joe Biden vinha usando toda e qualquer aparição pública para atacar duramente o seu rival, dizendo que Trump é “uma ameaça à democracia”, à segurança nacional e que não pode voltar de forma alguma para a Casa Branca.

    Sob orientação de marqueteiros de sua equipe, o atual presidente mais atacava o oponente do que tentava valorizar o que considera terem sido conquistas do seu mandato.

    Trump, é claro, também utiliza com frequência seus comícios para bater duramente no atual presidente, dizendo que mais quatro anos de Biden “destruirão os Estados Unidos”.

    Neste sentido, os dois podem ser teoricamente apontados como políticos que, indiretamente, estimulam a violência.

    Mas o ônus pela mudança no tom vai ficar mesmo com Biden, não apenas por Trump ter sido a vítima do atentado mas também pela sagacidade dos republicanos – que já calibraram sua narrativa para responsabilizar o atual presidente pela tentativa de homicídio do rival.

    Eles alegam que foi a demonização de Trump pelos democratas que levou ao atentado.

    Quem deixou isso explícito foi o senador por Ohio J.D. Vance, possível candidato a vice-presidente na chapa de Trump.

    “Hoje não é apenas um incidente isolado. A premissa central da campanha de Biden é que o presidente Donald Trump é um fascista autoritário que deve ser detido a todo custo. Essa retórica levou diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump”, disse ele nas redes sociais.

    E os democratas acusaram o golpe, retirando imediatamente do ar as propagandas com ataques ao republicano.

    Herói americano

    A campanha de Trump, por outro lado, vai dobrar a aposta e insistir numa narrativa de que ele é uma espécie de herói americano, um anti-político que está disposto até a morrer para defender o eleitor comum do suposto “sistema profundo instalado em Washington”.

    Um exemplo disso veio logo depois do atentado, quando a sua campanha enviou o seguinte texto pedindo aos eleitores que contribuíssem para a eleição: “eles não estão atrás de mim, estão atrás de você”.

    O ex-presidente já apelou até para o lado messiânico, afirmando nas redes sociais que “foi somente Deus que impediu que o impensável acontecesse”.

    “Não temeremos, mas permaneceremos resistentes em nossa fé e desafiadores diante da maldade”, disse ele, pedindo que os americanos não permitam que “o mal vença”.

    Acima de tudo, a campanha de Trump vai explorar à exaustão a foto, já icônica, que o mostra com o punho levantado, a orelha ensanguentada e gritando: “lute! lute! lute!”

    Os estrategistas republicanos vão apresentar essa imagem como um contraste claro à suposta falta de energia de Biden, que enfrenta muitas dúvidas pela idade avançada e pelos lapsos frequentes que comete nas suas falas.

    Mudança nos comícios

    Por fim, até a campanha física deverá sofrer alterações, com mudanças nos locais dos comícios e aumento da segurança.

    Os dois políticos, claro, vão fazer de tudo para manter os comícios e eventos públicos de campanha. Isso é importante em qualquer democracia e mostra uma conexão deles com os eleitores.

    No entanto, é muito possível que vários dos eventos programados sofram alteração de localização, com muitos sendo transferidos de áreas públicas para locais fechados como ginásios e salas de convenções.

    O serviço secreto, que terá que responder a várias perguntas sobre como seus agentes permitiram que o atirador chegasse tão perto de Trump, também vai ter que ampliar sua atuação, com muito mais agentes e muito mais cautela.

    Mas uma mudança que seria muito benéfica para a democracia talvez não aconteça de imediato: a volta do debate político civilizado entre os candidatos, com menos acusações ou fake news e mais proposições e entendimentos.

    Afinal, a retórica exacerbada não apenas alimenta ainda mais a polarização como pode, sim, levar a um aumento da violência política.

    Como resumiu o deputado Steve Scalise, um republicano que foi baleado por um homem armado em 2017: “basta uma pessoa que esteja desequilibrada ouvir isso (os discursos extremados) e pensar que esse é o sinal para matar alguém”.

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