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    Servidoras da PRF denunciam na Câmara casos de assédio arquivados pela corregedoria

    Vítimas que participaram de audiência pública apontam falhas nos mecanismos de controle interno da corporação; direção diz que tem “trabalhado em situações estruturantes” para combater prática

    Marina DemoriRebeca Borgesda CNN , Brasília

    Servidoras da Polícia Rodoviária Federal (PRF) denunciaram que casos de assédio sexual e moral foram arquivados pela corregedoria da corporação sem a devida apuração. Elas foram ouvidas em audiência pública, realizada nesta sexta-feira (12), na Câmara.

    A servidora administrativa Sabrina Pereira Soares Damasceno foi uma das que participaram da audiência e relatou que ela e mais cinco mulheres foram vítimas de um supervisor da Superintendência da PRF em Minas Gerais.

    “Ele me levou numa sala, perguntou o que estava acontecendo, eu falei que não queria trabalhar lá. Foi quando ele pegou na minha coxa, e eu falei: ‘tire a mão de mim’. Depois disso, as perseguições que ele tinha comigo pioraram. A corregedoria entendeu que esse toque foi uma tentativa de me consolar”, contou Sabrina, durante a audiência na Câmara.

    Os episódios de assédio teriam ocorrido entre 2015 e 2018 contra duas policiais, uma servidora administrativa, uma funcionária terceirizada e uma estagiária de 16 anos. As denúncias foram levadas à corregedoria da PRF, mas foram arquivadas em 2023.

    “Um certo dia esse servidor chegou, colocou a mão na minha barriga, apertou e falou: nossa, que durinha. Fiquei chocada porque eu mal conversava com ele, nunca dei liberdade. No parecer da corregedoria, eles deturparam gravemente o meu depoimento. Disseram que o fato ocorreu enquanto brincadeira”, relatou Sabrina durante a audiência, que foi mediada pela deputada Erika Kokay (PT-DF).

    As vítimas alegam só terem tido conhecimento do desfecho das investigações internas da PRF e acesso ao documento no mês passado, quando foram notificadas sobre um processo movido pelo suposto assediador. Ele pede indenização por danos morais, alegando que as mulheres que o acusam prejudicaram o seu casamento. Valores de até meio milhão de reais estariam sendo cobrados por ele.

    CGU foi acionada

    Marido de uma das vítimas, o policial rodoviário Igor César, procurou a Controladoria Geral da União (CGU) e pediu para que o processo administrativo seja analisado “quanto a possíveis vícios, abusos e ilegalidades”. Segundo o servidor, durante as investigações internas houve “julgamento moral das vítimas”.

    À CNN, Igor César disse que, ao longo de cinco anos de investigação, testemunhas não foram chamadas a prestar esclarecimento e os relatos das vítimas teriam sido relativizados pela equipe da corregedoria. A morosidade do processo também é apontada, por ele, como um fator que inviabiliza a aplicação de penalidades administrativas contra o supervisor denunciado.

    Policial Rodoviário Federal, Igor Cesar Gonçalves Pereira
    Igor César disse que, ao longo de cinco anos de investigação, testemunhas não foram chamadas a prestar esclarecimento / 12/07/2024 – Bruno Spada/Câmara dos Deputados

    Servidoras denunciam negligência

    Durante a audiência na Câmara, outras servidoras e terceirizadas da PRF criticaram o trabalho da corregedoria. Denise Lara Lacerda, que foi engenheira terceirizada da corporação, afirmou que foi demitida do cargo após denunciar um caso de assédio moral e sexual que teria ocorrido entre 2021 e 2022.

    “Infelizmente, assim que a gestão soube sobre a denúncia que estava acontecendo na corregedoria, eu fui bastante hostilizada. Eu tinha medo de fazer essa denúncia porque eu tinha medo das retaliações que eu poderia sofrer enquanto uma terceirizada. Eu era o elo mais fraco da corrente”, afirmou a engenheira.

    Assédio moral e sexual na Polícia Rodoviária Federal. Engenheira, Denise Lara Lacerda.
    “Eu era o elo mais fraco da corrente”, contou Denise / 12/07/2024 – Bruno Spada/Câmara dos Deputados

    A policial Pâmela Pereira Vieira, que atua na corporação, afirmou que já ouviu diversos relatos de agressões contra mulheres que atuam na PRF. “Piadinhas, exclusão, alguns mais graves como passar a mão, ficar pelado, se masturbar no alojamento com a presença de outras mulheres, tentativas de estupro”, disse.

    Ela cobrou uma ação mais efetiva da corregedoria: “Precisamos de punição dos assediadores. Precisamos de uma averiguação séria. Não pode haver um acobertamento institucional desses assediadores”.

    Policial Rodoviária Federal - Departamento de Polícia Rodoviária Federal, Pâmela Pereira Vieira
    “Precisamos de punição dos assediadores”, disse Pâmela / 12/07/2024 – Bruno Spada/Câmara dos Deputados

    PRF incentiva denúncias

    Durante a audiência, o diretor-geral substituto da PRF, Alberto Raposo Neto, afirmou que a corporação tem “trabalhado em situações estruturantes” para combater o assédio sexual no órgão.

    Ele também pediu que as mulheres vítimas de assédio denunciem as situações. “Nenhuma guerra se venceu no silêncio. A gente precisa se movimentar. Mulheres, se movimentem, não fiquem caladas, porque o silêncio é o pior inimigo de vocês em uma guerra como essa”, afirmou.

    Diretor-Geral Substituto Da PRF, Alberto Raposo Neto
    “Mulheres, se movimentem, não fiquem caladas, porque o silêncio é o pior inimigo de vocês em uma guerra como essa”, disse Raposo Neto na Câmara / 12/07/2024 – Bruno Spada/Câmara dos Deputados

    O corregedor-geral da PRF, Vinícius Behrmann Bento, também participou da audiência e afirmou que não estava ciente de todos os casos relatados pelas servidoras. No entanto, afirmou que o órgão “recebe as críticas”.

    “Tudo o que couber a nós da corregedoria, vamos anotar e dar prosseguimento. Vamos parar, analisar tudo o que foi dito, o que já foi apurado e o que não foi, e vamos dar prosseguimento. Ouvir as críticas e fazer dessa crise uma oportunidade para evolução”, afirmou.

    Corregedor - Geral E Controle Interno Da PRF, Vinicius Behrmann Bento
    Bento falou em ouvir as críticas e “fazer dessa crise uma oportunidade para evolução” / 12/07/2024 – Bruno Spada/Câmara dos Deputados

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