Abin paralela: PF investiga possível extorsão de monitorados ilegalmente
Caso de Luís Felipe Belmonte, advogado e empresário no Distrito Federal, é citado como exemplo de que agentes podem ter buscado vantagens financeiras
A Polícia Federal (PF) trabalha com a hipótese de que integrantes do esquema da “Abin Paralela” tentaram extorquir pessoas monitoradas de forma ilegal a fim obter vantagens financeiras.
Integrantes da investigação já identificaram indícios, em conversas periciadas, de que monitorados podem ter sido alvos de tentativa de extorsão por parte do grupo. Esse ponto será aprofundado nos próximos passos da apuração.
Um dos diálogos que apontam para essa suspeita aparece no inquérito que baseou a operação desta quinta-feira (11). O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo dessa parte da investigação.
No documento, há uma conversa entre o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues. Os dois foram alvos de mandados de prisão na operação.
Ao monitorar de forma clandestina pessoas ligadas à investigação sobre Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ambos comentam sobre a situação financeira de Luís Felipe Belmonte, empresário e advogado no Distrito Federal, e citam diretamente uma possível extorsão.
BORMEVET: Luís Felipe Belmonte
BORMEVET: advogado
BORMEVET: Rico bagarai
GIANCARLO: Kkkkk
BORMEVET: Precisamos achar podres
BORMEVET: Matérias normais eu já tenho
GIANCARLO: Vamos sequestrar isso sim. Ou achando podres vamos extorquir
Belmonte foi vice-presidente do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou fundar enquanto estava no Palácio do Planalto. O advogado chegou a ser alvo de uma operação da PF que apurou financiamento de grupos para atos antidemocráticos.
Após o diálogo, que pode indicar a extorsão, os suspeitos de integrarem a “Abin Paralela”, ainda falam sobre as ligações de Belmonte com a política e possíveis atos criminosos com atividade de garimpo.
BORMEVET: É ligado à política, a precatórios e ao garimpo em Rondônia. É o cara do Aliança em Brasília e no norte do país
GIANCARLO: vou pesquisar aqui
Para a PF, os agentes da Abin sabiam da possível ligação criminosa ao mesmo tempo que um inquérito apurava a suspeita da ligação de Belmonte com o garimpo.
Entretanto, não houve sequer um comunicado ao diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, sobre as suspeitas encontradas pelo monitoramento.
“As ações clandestinas (…) obtiveram informações sobre os investigados que ao mesmo tempo da própria investigação não estavam disponíveis, bem como se omitiram em relação ao risco para ações estratégicas do então gestor, reforçando assim o desvio institucional da ABIN”, aponta o delegado no inquérito.
Última Milha
A PF deflagrou, nesta quinta-feira (11), a quarta fase da Operação Última Milha.
O objetivo da operação é desarticular uma organização criminosa responsável por monitorar autoridades públicas de forma ilegal e produzir notícias falsas utilizando os sistemas da Abin.