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    Além do pão de forma, outros alimentos podem ter álcool; veja

    Alimentos que passam por fermentação em sua fabricação ou que contém alto teor de açúcar podem ser alcoólicos

    Gabriela Maraccinida CNN

    Uma análise realizada pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, conhecida como Proteste, mostrou que duas fatias de pão de forma de três marcas podem conter teor alcoólico suficiente para não passar no teste do bafômetro. Segundo a pesquisa, Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros tiveram resultados de teor alcoólico que podem aparecer no teste.

    Além dessas, a análise avaliou as marcas Wickbold Sem Glúten, Wickbold Leve, Panco, Seven Boys, Wickbold, Plusvita e Pullman. Apenas essas duas últimas foram aprovadas em todos os testes de identificação de teor alcoólico. Segundo a pesquisa, os níveis ultrapassam a dose de álcool permitida para crianças. Veja os resultados na matéria publicada pela CNN.

    Mas, afinal, por que tem álcool no pão? Segundo Henrique Lian, diretor-executivo da Proteste, a fabricação de pães envolve a formação de álcool etílico, que geralmente evapora no forno. Os níveis encontrados na análise ocorrem porque indústrias diluem conservantes na substância para evitar o mofo e garantir a integridade do pão, argumenta a entidade.

    Além disso, de acordo com Daniel Magnoni, nutrólogo na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, isso se deve também a como os pães de forma são produzidos. “Na produção do pão de forma se usa muita farinha, mas também muito fermento e, às vezes, substâncias relativamente parecidas com álcool, como fenóis ou sorbitol [um tipo de edulcorante artificial que tem sido amplamente utilizado como substituto do açúcar], e elas podem levar a alguma alteração no bafômetro. Mas, para isso, é necessária a grande ingestão de pão”, afirma.

    No entanto, os pães não são os únicos alimentos que podem possuir álcool em sua composição. A seguir, veja quais outros alimentos podem apresentar teor alcoólico e que merecem atenção.

    Bebidas fermentadas

    De acordo com uma pesquisa australiana, produtos de bebidas fermentadas, como kombucha e kefir, contêm álcool. Alguns produtos testados tinham um teor alcoólico maior que 1,15%. No Brasil, são considerados produtos não alcoólicos aqueles com menos de 0,5% de álcool por volume.

    O kombucha é produzido a partir da infusão ou extrato da planta Camellia sinensis e açúcares. Nela, é adicionada uma cultura simbiótica de leveduras e bactérias chamada SCOBY (Symbiotic Culture of Bacteria and Yeast) para realizar a fermentação. Já o kefir é produzido a partir do leite ou água e dos grãos de kefir. Essas bebidas podem conter álcool residual do processo de fermentação usado em sua fabricação.

    “Bebidas em que são utilizados muito probióticos para a fermentação podem conter algum tipo de álcool, mas não há risco no seu consumo”, afirma Magnoni.

    Banana madura e sucos de frutas

    Um estudo publicado em 2016 no Journal of Analytical Toxicology mostrou que bananas maduras podem conter uma concentração de álcool de 0,4%.

    “Isso ocorre porque, à medida que as bananas amadurecem, os açúcares presentes na fruta começam a fermentar devido à ação de leveduras naturais presentes na casca e no ambiente”, explica Andrea Sampaio, nutróloga do Hospital Sírio-Libanês. “No entanto, a quantidade é geralmente baixa e não representa riscos significativos à saúde”, ressalta.

    Além disso, a mesma pesquisa mostrou que sucos de maçãs, de uva e de laranja também podem ter quantidades detectáveis de etanol, com os níveis mais altos encontrados no suco de uva (0.86g/litro de etanol). Esses sucos podem, ainda, ter seu nível de álcool aumentado com o passar do tempo, segundo outra análise publicada no Preventive Nutrition and Food Science, em 2018.

    Isso acontece pelo mesmo motivo das bananas maduras. “O álcool é um subproduto natural do processo de fermentação de açúcares pelas leveduras presentes na fruta”, reafirma a nutróloga.

    Vinagre

    O vinagre pode conter diferentes graus de álcool em sua composição, porém em pouca quantidade. Os vinagres balsâmicos, champanhe, xerez e de vinho podem conter entre 0,1% e 0,4% de teor alcoólico. Porém, até mesmo o vinagre de maçã e de uva podem conter álcool residual em sua composição.

    Isso acontece devido ao processo de fermentação para sua fabricação. O vinagre passa por dois processos de fermentação: no primeiro, carboidratos são oferecidos como alimento a células de levedura, que transformam os açúcares em álcool e dióxido de carbono.

    Em seguida, ele é exposto ao oxigênio e novamente fermentado, desta vez com a bactéria Acetobacter. A partir disso, o líquido é transformado em uma mistura de água e ácido acético.

    Condimentos e molhos

    Aditivos e condimentos alimentares podem conter alta concentração de álcool, como o extrato de baunilha, que contém etanol em sua composição. A quantidade comumente usada em receitas pode não ser prejudicial à saúde, mas seu excesso pode gerar intoxicação alcoólica, de acordo com a Poison Control.

    O molho de soja também pode conter entre 1,5% e 2% de álcool por volume. Isso acontece porque o ingrediente é feito a partir de um processo de fermentação natural semelhante ao vinho ou à cerveja: o amido é fermentado, transformando-se em etanol.

    Existem riscos em consumir esses alimentos?

    Segundo Sampaio, os níveis de álcool presentes em alimentos fermentados ou frutas maduras são muito baixos e não representam um risco significativo para a maioria das pessoas. No entanto, em gestantes, lactantes e crianças, exposições mínimas desses alimentos podem causar problemas psicomotores e anormalidades neurológicas, segundo outro estudo publicado no Journal of Analytical Toxicology.

    “Segundo o estudo, mesmo essa pouca quantidade — consumo de 0,5 g/L por dia de álcool — pode ter riscos, especialmente para crianças que gostam de consumir sucos e fast food com maior frequência, bem como para adultos predispostos que consomem regularmente alimentos não alcoólicos, como sucos, frutas, legumes enlatados ou picles”, ressalta.

    “Diante disso, estudos sobre o teor de álcool de vários alimentos não alcoólicos naturais e processados, juntamente com seus efeitos em humanos e criação de novas regulamentações sobre rotulagem de produtos alimentícios e consumo consciente de alimentos são de particular importância”, afirma a especialista.

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