Evo Morales diz à CNN que tentativa de golpe na Bolívia foi “show bem encenado”
Em entrevista a Carmen Aristegui, da CNN, o ex-presidente disse que o acontecimento foi um “golpe para a economia” porque fez crescer a especulação e o dólar paralelo disparou
Evo Morales, ex-presidente da Bolívia e líder do partido governante Movimento ao Socialismo (MAS), disse que o levante militar na Bolívia em 26 de junho foi um “show bem encenado entre o presidente Lucho Arce e o então comandante Juan Zúñiga”.
Em entrevista a Carmen Aristegui, da CNN, o ex-presidente disse que o acontecimento foi um “golpe para a economia” porque fez crescer a especulação e o dólar paralelo disparou.
“Golpe, autogolpe? Sim, é um fato bem mencionado, imagino, entre o presidente e o comandante, porque o comandante era seu amigo, seu companheiro de muita confiança”, disse Morales a Carmen Aristegui.
O ex-presidente Morales já acusou anteriormente – sem apresentar provas – o presidente Luis Arce de encenar um autogolpe. O governo do presidente Luis Arce classificou o episódio como uma tentativa de golpe de Estado.
A revolta – que durou algumas horas, gerou incerteza na população e foi condenada pela comunidade internacional – ocorreu sob a liderança do general Juan José Zúñiga, já destituído do cargo de chefe do Exército, preso e acusado dos crimes de terrorismo e revolta armada.
O presidente Arce rejeitou as alegações de Zúñiga de que o que aconteceu poderia ter sido um autogolpe. Zúñiga afirmou mesmo que foi Arce quem lhe ordenou que agisse e que o fez para aumentar os seus níveis de popularidade, algo que o presidente nega.
“Não faríamos nenhum show para aumentar a popularidade, sabemos da aceitação que temos na população e dos desafios que enfrentamos, que estamos superando gradativamente”, disse Arce.
“A mídia internacional destaca que o golpe fracassado apenas fez a Bolívia parecer mais instável para os investimentos. Isto foi realmente um golpe para a economia”, disse Morales na entrevista, e pediu uma investigação transparente para esclarecer o que aconteceu no dia 26 de junho.
Evo Morales disse que há coisas “suspeitas” na tentativa de golpe de Estado.
A acusação de Evo Morales
“Lucho desrespeitou a verdade, nos enganou, mentiu. Não só para o povo boliviano, mas para o mundo inteiro”, disse Evo Morales em entrevista online à Rádio Kawsachun Coca em 30 de junho.
Morales indicou ter recebido informações de uma fonte militar de que a operação de quarta-feira estava planejada e disse que esses detalhes o estavam “convencendo de que se trata de um autogolpe”.
Estas declarações contrastam com o que foi dito dias antes na rede social
Morales então postou novamente na rede social e disse que era “lamentável que um tema tão delicado como o relato de um golpe seja usado”.
“Diante desta realidade, devo pedir desculpas à comunidade internacional pelo alarme gerado e agradecer-lhes pela sua solidariedade com o nosso país. É importante que uma investigação completa e independente demonstre a veracidade deste facto”, acrescentou Morales.
Arce disse anteriormente em entrevista coletiva que, enquanto a tentativa de golpe ocorria, ele ligou diretamente para Morales para avisá-lo sobre o que estava acontecendo.
As diferenças entre Luis Arce e Evo Morales
Morales e Arce aceitaram publicamente que têm diferenças, especialmente depois que o ex-presidente manifestou sua intenção de disputar as próximas eleições presidenciais e que elas pioraram depois que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) anulou o congresso do MAS realizado em outubro de 2023 e foi com a presença das correntes do partido que apoiam Morales, que o ratificaram como líder e o elegeram único candidato presidencial para 2025.
A decisão do TSE invalidou a candidatura de Morales.
* Com informações de Marlon Sorto, Cristopher Ulloa, Abel Alvarado e Mauricio Torres