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    Maurício Noriega
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    Maurício Noriega

    Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

    CNN Esportes

    Seleção Brasileira virou congresso de coadjuvantes

    Brasil parou no tempo e deixou de ser referência; CBF é um museu de grandes novidades

    A eliminação da Copa América para o Uruguai é apenas mais um capítulo da decadência do futebol brasileiro. Antes referência, hoje coadjuvante. Houve um tempo em que os grandes talentos do futebol brasileiro eram formados e amadurecidos em território nacional. Carregavam os traços culturais da expressão de um povo através do jogo mais popular do planeta.

    Há muitos anos o futebol brasileiro se transformou em repositor de estoque para clubes europeus. Na maioria das vezes para abastecer times médios de jogadores coadjuvantes que compõem elenco, mas nunca ficam com a cena principal do filme. Houve um período em que o “poderoso” Shaktar Donetsk (UCR) foi base da Seleção Brasileira.

    Qual é o perfil atual do time?

    Neymar, o maior talento do país, está em férias, badalando pelo mundo, recuperando-se de uma lesão grave. O jogador mais importante em ação, Vini Jr., discute com jornalista em rede social. Alguns menos cotados evocam a tradição de uma camisa para a qual nada contribuíram, e ainda levam troco desconcertante do craque uruguaio Luís Suárez, que lembrou a Andreas Pereira que ele era reserva de Arrascaeta, no Flamengo.

    A Seleção Brasileira foi coadjuvante na Copa América porque é hoje um congresso internacional de coadjuvantes. Quando “estrelas” de “potências” como Fulham, West Ham, Wolverhampton e Newcastle têm lugar cativo, temos o resumo diagnóstico da crise. Ainda se fossem do City, do Arsenal, do United, do Liverpool. Mas não, os condutores do meio-campo da camisa de seleções mais importante do mundo “brilham” em times de segunda linha da Inglaterra. Ah, mas o selo da Premier League é indiscutível!

    Calma que chegarei aos treinadores.

    Antes é preciso passar pelos atletas. Eles que sempre foram a base do sucesso do Brasil, que no futebol jamais primou pela organização. Quantas vezes vimos nossos laterais chegando à linha de fundo na Copa América? Quantas jogadas organizaram Bruno Guimarães e João Gomes, cuja presença é quase exigida pelos “premierleaguers” brazucas? Com o perdão do trocadilho, quem apostou no talento de Paquetá para pensar o jogo?

    Vini, que sonha com a Bola de Ouro e produziu para isso pelo Real, na Seleção deve muito. Conseguiu arrumar uma suspensão com seis minutos de jogo porque ficou nervosinho ao tomar um chapéu de James Rodriguez. Ora, não foi “humilhando” rivais que você se consagrou, Vini?

    Rodrygo até que tentou, mas aquele número 10 às costas parece uma carga pesada para o jovem – e excelente – jogador do Real. Raphinha é mais um bom coadjuvante e nada mais.

    A dupla de zaga, Marquinhos e Militão, não comprometeu. Perda de pênalti não pode balizar trabalho. Alisson é um bom goleiro, como pelo menos mais uns cinco que atuam pelo mundo, inclusive no Brasil.

    Endrick, que tanto pedimos como titular, é um enorme talento que precisa aprender que há mais nove jogadores de linha atuando em seu time. O garoto parece obcecado pela ideia de jogar sozinho e, quando precisa ser fominha tenta passar a bola, como na ótima chance desperdiçada em “passe” do uruguaio Viña.

    O drama maior está no meio-campo, setor em que se pensa o jogo. Dá para imaginar Valverde, Arrascaeta e De La Cruz jogando como titulares do Brasil. Pelos lados, Viña é melhor que qualquer lateral-esquerdo brasileiro, assim como Piquerez, que nem chamado foi pelo Uruguai. Arrascaeta, De La Cruz e Viña jogam no Flamengo. Piquerez e Endrick (ainda não se apresentou ao Real), no Palmeiras.

    Antes de chegar a Dorival Júnior, é preciso lembrar quem o contratou. A CBF acumula mais escândalos do que títulos desde 2002. Teve presidentes afastados por corrupção e convive com denúncias de assédio sexual. O atual presidente tem sua legitimidade no cargo analisada pelo Supremo Tribunal Federal e seu currículo para o futebol nacional não fecha um parágrafo de importância.

    Edinaldo Rodrigues criou a narrativa de contratação de Carlo Ancelotti, chamou Fernando Diniz, a quem chutou do cargo, e apelou a Dorival numa guinada de rota que demonstra seu cabedal de conhecimento sobre futebol.

    Dorival Júnior

    Dorival até que começou bem nos amistosos contra Inglaterra e Espanha. Havia uma promessa de resgate de compromisso. Mas, rapidamente, ele foi seduzido pelo discurso vigente da importância dos “craques” dos times da segunda prateleira da Premier League. Armou uma gororoba intragável no meio-campo, com base nessa premissa. Teve o grupo completo para treinar a partir de 5 de junho nos Estados Unidos. Foram 32 dias de trabalho. O tempo que tanto se cobra e se pede. O que se viu nesse período de dedicação total aos treinos e jogos foi um arremedo de time. Chutões de zagueiros, criação de jogadas nula, muita briga e pouco pensamento.

    Aquele dedinho do Dorival tentando ser ouvido antes das cobranças de pênaltis em Las Vegas tem um poder simbólico brutal. Os “premierleaguers” teriam achado a leitura de jogo do professor ruim, reportam alguns colegas. Cabe perguntar o que o professor achou da leitura de jogo dos craques do Fulham e do Wolverhampton?

    Após a derrota na Copa de 1982, recordo que Zagallo, comentando para alguma TV, disse algo assim: “É preciso repensar o futebol brasileiro”. Difícil dizer que o futebol brasileiro tenha sido repensado. O que havia até 2006 era uma legião de grandes jogadores, todos protagonistas de grandes times pelo mundo, aqui e lá fora. Foram eles os responsáveis pelas conquistas de 1994 e 2002 e um brilhareco aqui e ali.

    As estruturas seguem carcomidas, desgastadas, enferrujadas. A capacidade de produção de talentos permanece. Estão aí Vini, Rodrygo, Endrick, Estevão, Lorran, Vitor Roque.

    Enquanto não se combater a causa da doença, haverá picos de melhora provocados pela ação de um ou outro craque antibiótico. Mas a precisão do diagnóstico existe há décadas: o sistema faliu. Desde a relação entre empresários e clubes, empresários e CBF, de parte da mídia com a entidade, a postura ufanista de certo tipo de cobertura, rapidamente substituída pela ira em caso de derrota.

    Está tudo errado.

    Em sexto lugar nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, o Brasil vive um drama, diria Galvão Bueno.

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