Mulheres pretas têm o dobro de risco de morrer durante ou após parto, diz estudo
Constatação foi feita por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que consideram que o impacto do racismo se reflete, também, na saúde materna
Mulheres pretas têm quase duas vezes mais risco de morrer durante o parto ou no puerpério em comparação com as mulheres pardas e brancas, segundo um estudo publicado em junho na Revista de Saúde Pública. A constatação foi feita por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mostra que a vulnerabilidade desse grupo pode se refletir, também, na saúde materna.
Segundo os pesquisadores, os resultados do estudo “demonstram o impacto do racismo na mortalidade materna”. “O aumento das taxas de mortalidade entre mulheres negras são uma consequência de uma construção social que impacta negativamente seus resultados de saúde e não está relacionado a qualquer fator genético ou fatores biológicos”, escreveram os autores no artigo.
Além disso, eles pontuam que “fatores socioeconômicos, como a falta de acesso a cuidados de qualidade, educação e rendimentos mais baixos, para explicar as disparidades raciais”. Segundo os pesquisadores, mesmo após ajustar os resultados do estudo para essas variáveis, a cor da pele negra “foi associada a um risco aumentado de hipertensão na gravidez”, o que aumenta os riscos de mortalidade materna.
Mães pretas registraram 125,8 mortes por 100 mil nascidos vivos entre 2017 e 2022
A pesquisa investigou a taxa de mortalidade materna segundo a cor da pele entre 2017 e 2022, comparando as taxas de mulheres negras, pardas e brancas. Além do recorte racial, a análise considerou a região onde a morte ocorreu, a faixa etária e se o óbito aconteceu antes ou durante a pandemia de Covid-19. Os dados foram coletados do DataSUS, do Ministério da Saúde, e as categorias de raça seguiram a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de mortalidade mede as mortes ocorridas em decorrência da gravidez, durante o parto ou no pós-parto. Segundo o estudo, de 2017 a 2022 foram 67 mortes por 100 mil nascidos vivos. Entre as mulheres pretas, o índice chegou a 125,8 mortes por 100 mil nascidos vivos, uma taxa superior à de mulheres brancas e pardas (64 mortes a cada 100 mil nascidos vivos). Essa tendência também se manteve durante a pandemia.
Em todas regiões geográficas do Brasil, a taxa de mortalidade foi maior entre mulheres pretas, atingindo 186 mortes por 100 mil por nascidos vivos, no Norte. A maior diferença de mortes maternas entre mulheres negras e brancas foi no Sudeste: 115,5 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, entre negras, contra 60,8 mortes a cada 100 mil nascidos vivos para brancas.
“O achado mais surpreendente foi que as mulheres pretas têm maior risco de morte quando comparadas, também, às mulheres pardas”, destaca o pesquisador José Paulo Siqueira Guida, coautor do estudo, da Unicamp. Apenas na região Norte não houve diferença nas taxas de mortalidade de pretas e pardas.
“Isso mostra que, mesmo dentro de grupos vulneráveis, há mulheres expostas a mais vulnerabilidades”, completa Fernanda Surita, da Unicamp, que também assina o estudo.
Para os pesquisadores, o trabalho é importante para entender a posição de vulnerabilidade das mulheres pretas, mais expostas a risco de morte durante e após o parto. O próximo passo do grupo de pesquisa é analisar bases de dados nacionais de morte materna para compreender as características de saúde de mulheres que morreram em decorrência dessa situação. O objetivo é levantar evidências científicas para orientar intervenções e políticas públicas efetivas para prevenir essas mortes.
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