Influencer morta após procedimento estético nos glúteos: veja 7 pontos para entender o caso
Aline Ferreira tinha 33 anos e morreu após a aplicação de polimetilmetacrilato, também conhecido como PMMA, nos glúteos
A influencer Aline Ferreira morreu na última terça-feira (2) em decorrência de complicações que teve após passar por um procedimento estético nos glúteos. A morte ocorreu nove dias após a intervenção.
O corpo de Aline foi enterrado na quinta-feira (4) no cemitério do Gama, no Distrito Federal.
Veja o que sabemos sobre o caso
Qual foi o procedimento realizado
No dia 23 de junho, Aline, que era moradora de Brasília, recebeu, em uma clínica localizada em Goiânia, a aplicação de polimetilmetacrilato, também conhecido como PMMA, nos glúteos. O procedimento é feito para aumentar o volume dos glúteos.
Segundo a delegada Débora Melo, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor de Goiás, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprova o procedimento para casos de pessoas que tenham consequências provocadas pelo tratamento de Aids ou poliomielite.
A influencer pagou R$ 3.000 pelo procedimento.
O que é o PMMA
Em entrevista à CNN, a médica Eliane Palermo, membro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) alertou que o PMMA pode permanecer no organismo por anos sem causar sintomas até desencadear uma reação inflamatória. Ela considera como uma “epidemia silenciosa” o uso excessivo da substância para fins estéticos.
O PMMA é um polímero plástico líquido que fica implantado no corpo e não é absorvido. Segundo a médica, essa substância pode ficar “quieta” por um tempo, mas pode causar complicações graves posteriormente.
“Ele pode imediatamente ter um problema vascular e aí causar embolia pulmonar, mas quando ele é silencioso, quando ele fica no seu organismo durante anos sem ser possível removê-lo, são polímeros plásticos como se fosse um plástico líquido que vai ficar implantado no organismo e ele pode estar lá quieto até que ele tenha uma reação inflamatória”, explicou.
Eliane defendeu uma regulamentação muito mais rígida para o uso do PMMA ou até mesmo o seu banimento.
O que aconteceu após o procedimento
A aplicação do PMMA em Aline ocorreu no dia 23 de junho. No mesmo dia, Aline voltou de Goiânia para o Distrito Federal, onde morava. Segundo Elisangela Maria Lima, tia da influencer, a sobrinha teve febre cerca de três dias depois do procedimento.
A paciente entrou em contato com a profissional que fez a aplicação, que indicou a ela alguns remédios. “Ela tomou essas medicações, só que não passava a dor. E ela começou a sentir uma dor abdominal muito grande. E aí o esposo dela a levou para um hospital particular”, conta Elisangela, que não informou o nome do estabelecimento ao qual Aline havia sido levada.
No hospital, diz a tia, Aline foi medicada e liberada. “No caminho de casa, ela desmaiou. E aí o esposo dela a levou para o HRAN [Hospital Regional de Asa Norte]. Quando ela chegou no HRAN, internaram na hora”, lembra.
Um dia depois, ela foi transferida para um hospital privado em Brasília, onde teve a morte confirmada por volta das 21h do dia 2.
Quem fez a aplicação do PMMA
Segundo as investigações, a responsável pelo procedimento foi a empresária Grazielly da Silva Barbosa, que era proprietária da clínica Ame-se, na capital goiana.
Grazielly se apresentava como biomédica, mas, de acordo com a polícia, não tinha formação na área. A delegada Débora Melo diz que a empresária chegou a cursar medicina no Paraguai, mas trancou o curso antes de se formar. “O que ela nos falou é que ela cursou até o terceiro período de medicina numa faculdade do Paraguai, mas ela trancou há três anos”, diz a delegada.
“Além disso, o que ela fez foram cursos livres na área da estética. Ela elencou alguns cursos que ela fez, mas não apresentou diploma nem certificação. Então, é uma pessoa que não tem nenhum nível superior na área da saúde e não apresentou nenhuma certificação de habilitação técnica para realizar esses procedimentos”, acrescentou.
A empresária está presa e a clínica dela está interditada, pois não tinha alvará sanitário.
Falta de informações sobre os riscos
Ainda de acordo com a delegada, Aline não foi orientada corretamente sobre os riscos do procedimento ao qual se submeteu.
“Em nenhum momento [a dona da clínica] esclareceu para a Aline quais seriam realmente os riscos daquela bioplastia de glúteos, ou seja, daquele aumento nos glúteos. Ela simplesmente falou que era um procedimento tranquilo, muito simples, que ela já tinha feito em outros pacientes e o resultado tinha sido ótimo”, disse Débora.
Segundo as investigações, a influencer não passou por quaisquer exames antes do procedimento. “Quando fazemos fiscalizações em clínicas, é comum que nós apreendamos prontuários de pacientes. Lá [na clínica Ame-se] não tinha prontuário de paciente nenhum. Ou seja, a pessoa simplesmente chegava, pagava, fazia o procedimento e ia embora. Não tinha prontuário de anamnese do paciente para saber se o paciente tinha alguma condição clínica prévia que pudesse gerar algum problema depois do procedimento. Não eram requisitados exames prévios na realização do procedimento.”
Infrações investigadas
Conforme a delegada, até o momento, já foram constatadas três infrações cometidas pela dona da clínica. A primeira é o exercício ilegal da medicina, pois ela “performa diversos procedimentos que são autorizados apenas para a classe médica”.
A segunda infração, prevista no Código de Defesa do Consumidor, é executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente.
A terceira irregularidade que teria sido cometida por Grazielly foi crime contra relação de consumo. “É proibido induzir o consumidor a erro a respeito da natureza da qualidade dos serviços ou produtos. Ela induzia os consumidores a erro porque dizia ter uma qualificação que ela não tem, porque ela não é biomédica. E em segundo lugar, porque ela não esclarecia para os pacientes os reais riscos daqueles procedimentos que ela estava realizando.”
Além dessas três infrações, a delegada destaca que está em andamento uma investigação para avaliar se houve crime de lesão corporal seguida de morte. “Precisamos esperar a conclusão do laudo pericial em relação à Aline. Porque a certidão de óbito saiu como morte a esclarecer. Então a gente precisa saber se há como comprovar o vínculo entre a morte e o procedimento estético que ela realizou.”
A CNN tenta contato com a defesa de Grazielly da Silva Barbosa.
Quem era a influencer morta
Aline Ferreira nasceu no dia 11 de setembro de 1990 e era mãe de dois filhos. O filho mais velho dela tem 19 anos e é membro do Exército. Ela era casada desde setembro de 2021.
A influencer tinha quase 44 mil seguidores no Instagram e se apresentava como modelo fotográfica. Na descrição de seu perfil, informava que o conteúdo apresentado era referente a “looks, lifestyle e dicas diárias”.
Além das postagens com dicas de combinações de roupas, Aline também compartilhava conteúdos referentes a viagens e rotina de exercícios.
Em pelo menos três postagens, ela falou sobre procedimentos estéticos aos quais já havia sido submetida antes da aplicação de PMMA nos glúteos: remoção de estrias, rinomodelação com ácido hialurônico e aplicação de botox.
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