Análise: Guerra total entre Israel e Hezbollah é apenas questão de tempo
Provocações do grupo extremista aumentam tensões na fronteira israelense com o Líbano e governo dos Estados Unidos teme conflito generalizado no Oriente Médio
O início de uma guerra total entre o Estado de Israel e o grupo extremista xiita Hezbollah parece ser apenas uma questão de tempo.
Os dois lados vêm trocando ataques praticamente diários na fronteira entre o Líbano e Israel desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro do ano passado, quando o Hezbollah começou a lançar mísseis contra cidades israelenses alegando agir em “solidariedade” ao grupo palestino.
Mas esta semana os dois lados deram indicações de que estão se preparando para um conflito aberto, em larga escala, até com uma possível invasão israelense no sul do Líbano.
Na quarta-feira (19), o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, aumentou muito as ameaças retóricas, afirmando que nenhum lugar em Israel estaria seguro no caso de uma guerra.
Ele chegou até a ameaçar atacar a ilha de Chipre e outras partes do Mediterrâneo, caso seus governos ofereçam ajuda logística para caças israelenses atacarem o Líbano.
O grupo também divulgou um vídeo mostrando possíveis alvos, inclusive militares, em várias cidades de Israel. Um porta-voz disse que os militantes tinham conseguido destruir uma bateria do famoso “domo de ferro” – o escudo antiaéreo que protege o país.
Na quinta-feira (20), um bombardeio de caças israelenses matou um comandante do Hezbollah (Partido de Allah, ou Partido de Deus, numa tradução livre) em uma vila perto da fronteira.
O governo de Israel também aumentou a retórica em suas respostas às ameaças, afirmando que estaria preparado para qualquer guerra com os militantes xiitas. O ministro das Relações Exteriores do país, Israel Katz, disse que um conflito aberto seria devastador para o Líbano e acabaria com o Hezbollah.
Alto custo
Uma guerra aberta, no entanto, teria um alto custo para os dois lados.
O Hezbollah é um grupo muito forte, com cerca de 100 mil combatentes treinados e muito bem armado. Vários de seus homens têm experiência prática em guerras, tendo combatido no conflito da Síria ao lado do regime de Bashar al-Assad.
Existem estimativas de que o Hezbollah possui centenas de mísseis de grande precisão, fornecidos pelo Irã – o país que tem conexões muito fortes não apenas com os militantes libaneses mas também com o Hamas.
O grande número de mísseis nas mãos dos militantes xiitas preocupa o governo dos Estados Unidos, que afirmou temer que o “domo de ferro” não consiga proteger efetivamente os civis israelenses em caso de um ataque massivo partindo do Líbano.
Temendo um conflito generalizado no Oriente Médio, o presidente Joe Biden tem agido diplomaticamente. Ele enviou representantes aos dois países para tentar conter os ânimos.
Do lado israelense, fica muito claro que o país está se preparando para um grande conflito.
Em minha última visita ao país, em março deste ano, conversei com dezenas de pessoas, inclusive militares, que afirmaram que uma guerra total entre os dois lados é praticamente inevitável.
Um reservista das Forças de Defesa de Israel me disse que “é preciso acabar o trabalho” e eliminar de vez o risco que o Hezbollah representa para o país. Ele se referia à guerra de 2006, que terminou com a retirada israelense do sul do Líbano e um cessar-fogo.
Milhares de pessoas foram deslocadas de suas casas no norte de Israel e também no sul do Líbano desde o início dos conflitos em baixa escala, em outubro. Muitos se consideram refugiados em seus próprios países e querem retornar às suas casas.
O governo israelense diz que para garantir a segurança dos civis, é necessário criar pelo menos uma zona tampão de vários quilômetros no sul do Líbano, sem presença militar do Hezbollah na área.
Essa, inclusive, foi uma das condições impostas no cessar-fogo de 2006 – que nunca foi implementada pelo Hezbollah.