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    Américo Martins
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    Américo Martins

    Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou 68 países

    Onda de extrema direita chega ao Reino Unido, mas Trabalhistas devem vencer eleição

    A duas semanas da votação, pesquisas mostram aumento do apoio ao partido ultraconservador Reform UK mas confirmam vitória folgada da centro esquerda

    Várias pesquisas de opinião pública divulgadas nos últimos dias mostram três tendências claras para as eleições gerais do próximo dia 4 de julho no Reino Unido.

    A primeira, já antecipada nas últimas semanas, é a expectativa de uma vitória folgada do Partido Trabalhista, de centro esquerda, que está na oposição há 14 anos.

    A segunda é um reflexo do movimento de radicalização política que se vê em vários países da Europa: a onda de apoio aos partidos de extrema direita chegou com força ao país.

    Por fim, o Partido Conservador do atual primeiro-ministro Rishi Sunak corre o sério risco de registrar os piores resultados eleitorais de toda a sua história de quase 200 anos – bem mais da metade deles no poder.

    Trabalhistas lideram

    O Partido Trabalhista, do ex-procurador-geral da Inglaterra e País de Gales Sir Keir Starmer, lidera todos os levantamentos de intenção de voto com pelo menos 20 pontos percentuais de vantagem.

    As pesquisas estimam que os trabalhistas poderão eleger de 406 a 515 deputados do total de 650 cadeiras na Câmara dos Comuns. Mesmo no pior cenário para eles, será uma maioria mais do que folgada para governar, especialmente porque até mudanças constitucionais são aprovadas apenas por maioria simples no país.

    As estimativas sobre o tamanho da bancada do partido são distintas porque no Reino Unido é notoriamente difícil acertar o número exato de vagas que cada partido terá no Parlamento por causa do sistema eleitoral distrital puro.

    Nesse sistema, o país é dividido em 650 distritos e, em cada uma dessas regiões, o eleitor vota em um nome indicado por um partido (ou, em alguns lugares, candidatos independentes).

    Ou seja, não existe votação proporcional. Um partido pode ter muitos votos no país como um todo, mas pode também falhar na disputa local em muitos distritos – elegendo, no fim, poucos deputados.

    Forma o governo o partido que tiver mais representantes eleitos entre esses 650 distritos.

    Onda extremista

    Um outro aspecto importante desta eleição é a ampliação do apoio aos extremistas de direita, representados pelo partido Reform UK (Reforma no Reino Unido, em uma tradução livre).

    A legenda ultraconservadora e radical foi criada apenas em 2018, na época com o nome de Partido do Brexit e que tinha um único objetivo declarado: lutar para que o Reino Unido deixasse a União Europeia sem nenhum tipo de negociação diplomática.

    Em janeiro de 2021, depois da implementação do Brexit, o partido mudou de nome e deixou mais claro suas tendências populistas e anti-imigração. Vários de seus integrantes já fizeram declarações contra imigrantes que beiram a xenofobia, especialmente contra africanos e muçulmanos.

    O líder do partido, Nigel Farage, é o nome mais destacado da extrema direita no país e chegou a ser membro do Parlamento Europeu, embora sempre tenha se declarado contra a União Europeia.

    Uma pesquisa do instituto YouGov divulgada na semana passada mostrou o Reform UK um ponto percentual à frente do Partido Conservador, de centro direita, em um empate técnico surpreendente. A legenda extremista teve 19% das intenções de voto e os conservadores, 18%.

    Farage chegou a dizer que na próxima legislatura o Reform UK será a oposição de verdade contra os trabalhistas.

    A maior parte das pesquisas, no entanto, mostra que os extremistas elegerão poucos representantes para o Parlamento – justamente por causa do voto distrital puro. O Reform UK poderá ter muitos votos em números gerais no país, mas não tem uma máquina competitiva em muitos distritos, onde os partidos mais tradicionais levam grande vantagem.

    Mas a legenda da extrema direita vai certamente roubar votos do Partido Conservador, abrindo ainda mais o caminho para uma possível vitória histórica dos trabalhistas.

    Derrocada conservadora

    O aumento da popularidade do Reform UK, os graves problemas na saúde pública e na educação, o baixo crescimento da economia, as divisões criadas pelo Brexit (provocado pelo próprio partido) e a instabilidade causada pela sucessão de cinco primeiros-ministro diferentes em 14 anos conspiram em conjunto para que o Partido Conservador sofra uma derrota fragorosa nas urnas no dia 4 de julho.

    O ex-financista Rishi Sunak não tem carisma para conseguir unir o partido, dividido em várias tendências que vão de um conservadorismo liberal a posições extremadas tanto do ponto de vista social como econômico.

    Uma pesquisa divulgada na quarta-feira (19) revelou que Sunak pode, inclusive, perder o próprio assento no Parlamento, correndo o risco de ser derrotado no seu distrito eleitoral de Richmond e Northallerton, na região de North Yorkshire.

    Caso isso aconteça, ele passará para a história como o único primeiro-ministro a perder uma eleição quando ainda estava no poder em toda a história do Reino Unido.

    As pesquisas também mostram que os conservadores só deverão eleger entre 53 e 155 deputados. Seria o pior resultado daquele que é o partido mais antigo em atividade no país – e o segundo do mundo, logo depois do Partido Democrata dos Estados Unidos.

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