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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Análise: Caso Maya Massafera revela face perversa da violência contra pessoas trans

    Influenciadora teve voz supostamente gravada por recepcionista de salão de beleza que estaria tentando comercializar o arquivo

    Talvez você não conheça Maya Massafera. Mas há de convir comigo que ninguém ultrapassa cinco milhões de seguidores por acidente. Produtora, influenciadora, youtuber, Maya tem uma outra característica que vem muito mais carregada de preconceito do que qualquer profissão: é uma mulher transgênero.

    Maya recentemente passou por uma transição de gênero, se libertando do que ela mesma chamou de ’40 anos de prisão’. As imagens mostrando o antes e o depois desse processo viralizaram na internet. Assim como outro aspecto dessa transformação: a nova voz de Maya.

    Não há registros da influenciadora falando depois de ter passado por sua transição. Ela evita. Mas mesmo a expectativa de ouvi-la movimenta de páginas de fofoca a perfis anônimos nas redes sociais. Mas a história passou do limite.

    O vazamento do print de uma conversa de WhatsApp revelou outra face da violência de gênero que não é física, muito embora provoque efeitos físicos. Nela, uma pessoa – que supostamente teria gravado Maya sem que ela percebesse – oferece a gravação da voz da influenciadora em troca de dinheiro.

    “Sou recepcionista de um salão de cabeleireiro. Atendi a Maya Massafera e gravei minha conversa com ela, com isso estou vendendo a voz dela. Ninguém mais tem a voz dela, só eu. Quer comprar?”, diziam as mensagens.

    Maya até tenta levar o caso de forma bem humorada, mas reconhece o que a faz calar-se. “Eu tenho disforia da voz que estou e não é questão de gostar. É questão de chorar, ficar mal, não querer sair de casa. E se for verdade, essa pessoa pagaria por um crime”, disse.

    A disforia é um estado psicológico onde a pessoas não se identifica com características do próprio corpo. Ela pode levar a sintomas que vão da alteração do humor a pensamentos suicidades, passando por ansiedade, depressão e fobia social.

    Falsa ou verdadeira, a história já provocou dano à medida em que leva a vítima à situação de medo, apreensão e exposição. Especialistas ouvidos pela CNN apontam que seria difícil enquadrar o caso como crime, mas que certamente ele poderia ser motivo de um processo judicial, um ilícito civil com ação de indenização.

    Dados compilados pelo Ministério da Justiça mostram que nos últimos dez anos mais de 10 mil mulheres perderam a vida no Brasil pelo simples fato de serem… mulheres. Uma morte a cada oito horas. Dentre essas vítimas, há 63 do sexo masculino. Ou seja, mulheres que nasceram homens, mantém o sexo masculino, mas se identificam com o gênero feminino. Morreram porque se identificam como mulheres.

    Os números da da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) são maiores. Eles dizem que, em 2023, foram 155 mortes de pessoas trans no Brasil, sendo 145 casos de assassinatos e outros 10 de mulheres que cometeram suicídio depois de sofrerem violências ou ficarem em situação vulnerável.

    O caso de Maya mostra que a violência contra as pessoas transgênero vai muito além da física. Mulheres e homens trans vivem permanentemente sob o olhar de curiosidade e julgamento. A elas e eles é negado, por muitas vezes, o direito à intimidade, à privacidade e à identidade. Mulheres e homens trans deveriam ter o direito de respirar sem que fosse necessariamente para tomar coragem, segurar a ansiedade ou chorar.

    É incabível remunerar a transfobia – o que aconteceria se esse áudio fosse, de fato, comercializado. É preciso ouvir a voz das pessoas transgênero, mas não quando for contra sua própria vontade.

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