Repórter dos EUA será julgado na Rússia acusado de espionagem, dizem autoridades
Promotores afirma que ele agiu sob ordens da CIA, a agência de inteligência dos EUA; governo americano pontua que jornalista foi preso injustamente
Evan Gershkovich, o primeiro jornalista dos Estados Unidos a ser preso acusado de espionagem na Rússia desde a Guerra Fria, será julgado na cidade russa de Yekaterinburg, depois que promotores o acusaram formalmente de espionar para a CIA, a agência de Inteligência dos EUA.
O gabinete do procurador-geral russo disse nesta quinta-feira (13) que aprovou a acusação, mais de um ano após Gershkovich ter sido detido pela primeira vez. Se condenado, ele pode pegar até 20 anos de prisão.
Gershkovich, o governo dos Estados Unidos e seu empregador, o Wall Street Journal (WSJ), negaram veementemente as acusações contra ele.
Menos de duas semanas após sua prisão, o Departamento de Estado dos EUA pontuou que o jornalista foi detido injustamente, pedindo sua libertação imediata.
Promotores russos disseram que o serviço de segurança federal da Rússia (FSB) havia “estabelecido e documentado” que o americano estava agindo sob instruções da CIA no mês em que foi preso, alegando que ele havia “coletado informações secretas” sobre uma fábrica de tanques russa.
“Gershkovich executou ações ilegais usando métodos conspiratórios meticulosos”, destacou um comunicado.
O jornalista de 32 anos ficou detido na notória prisão de Lefortovo, em Moscou, e sua prisão preventiva foi estendida inúmeras vezes.
Respondendo ao anúncio desta quinta-feira, a editora-chefe do WSJ, Emma Tucker, disse que Gershkovich está enfrentando uma acusação “falsa e infundada”.
“O mais recente movimento da Rússia em direção a um julgamento falso é, embora esperado, profundamente decepcionante e ainda não menos ultrajante”, comentou.
“Evan passou 441 dias detido injustamente em uma prisão russa por simplesmente fazer seu trabalho. Evan é um jornalista. A difamação de Evan pelo regime russo é repugnante, nojenta e baseada em mentiras calculadas e transparentes. Jornalismo não é um crime. O caso de Evan é um ataque à imprensa livre”, adicionou.
O Repórteres Sem Fronteiras, um grupo internacional que promove a liberdade de imprensa, criticou a acusação de Gershkovich. “As acusações de espionagem devem ser abandonadas e Evan imediatamente liberado”, ressalta um comunicado.
A embaixadora dos EUA na Rússia, Lynne Tracy, falando após a prisão preventiva de Gershkovich ter sido estendida em março, afirmou: “O caso de Evan não é sobre evidências, devido processo legal ou estado de direito. É sobre usar cidadãos americanos como peões para atingir fins políticos”.
Ela pediu ao Kremlin “para deixar Evan ir.”
Trocas propostas
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu a entender no início deste ano que “um acordo pode ser alcançado” com os Estados Unidos para libertar Gershkovich, ao citar a condenação de um assassino russo “patriota” na Alemanha.
Falando em uma longa entrevista com Tucket Carlson em fevereiro, Putin fez referência ao caso de Vadim Krasikov, um ex-coronel da organização de espionagem doméstica da Rússia que foi condenado por assassinar um ex-combatente checheno em plena luz do dia em Berlim em 2019.
“Escute, eu vou te dizer: sentado em um país, um país que é aliado dos Estados Unidos, está um homem que, por razões patrióticas, eliminou um bandido em uma das capitais europeias”, comentou Putin.
Autoridades do governo russo solicitaram anteriormente que Krasikov fosse libertado com uma proposta de troca de prisioneiros do notório traficante de armas russo Viktor Bout pelos cidadãos americanos Brittney Griner e Paul Whelan, de acordo com autoridades americanas e reportagens da CNN.
Griner, uma jogadora profissional de basquete, foi libertada em uma troca de prisioneiros por Bout, enquanto Whelan,um ex-fuzileiro naval dos EUA que diz que estava visitando a Rússia para o casamento de um amigo quando foi preso em Moscou em 2018, continua na prisão.
Falando à CNN em Berlim para marcar um ano desde a detenção de Gershkovich, Polina Ivanova, uma das amigas mais próximas e repórter do Financial Times, ressaltou que ele estava “notavelmente bem” e passando a maior parte do tempo escrevendo cartas “tentando nos fazer sentir melhor”.
“Quando você vê Putin falando sobre isso em termos muito claros de que é isso que eles querem ver acontecer, que eles estão procurando um acordo, isso lhe dá esperança de que em algum momento ele estará em casa. Ele precisa estar em casa”, disse Ivanova.
Nos últimos anos, a Rússia deteve vários outros americanos. A jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva foi detida em junho de 2023; a bailarina russo-americana Ksenia Karelina foi presa em janeiro; e o professor americano Marc Fogel foi preso em agosto de 2021.