Israel promete continuar ação em Gaza após aprovação de resolução de cessar-fogo
Proposta foi aprovada no Conselho de Segurança da ONU com 14 votos a favor do total de 15 membros
Israel prometeu continuar com a sua operação militar em Gaza, dizendo que não se envolverá em negociações “sem sentido” com o Hamas.
A afirmação acontece pouco depois do Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado por grande maioria um plano de cessar-fogo, apoiado pelos Estados Unidos, destinado a pôr fim ao conflito que já se estende há oito meses.
A representante de Israel na ONU, Reut Shapir Ben-Naftaly, enfatizou em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira (10) que o país quer “garantir que Gaza não represente uma ameaça para Israel no futuro”.
A diplomata disse que a guerra não terminaria até que todos os reféns fossem devolvidos e as capacidades do Hamas fossem “desmanteladas”, acusando o grupo militante de usar “negociações intermináveis como um meio de ganhar tempo”.
Os comentários foram feitos depois de 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU terem votado a favor da resolução redigida pelos EUA, na segunda-feira (10). A única abstenção foi da Rússia.
Essa foi a primeira vez que o conselho endossou o plano para acabar com a guerra.
Israel não é membro do Conselho de Segurança da ONU e, portanto, não votou.
O acordo de paz em três fases estabelece condições destinadas a levar à eventual libertação de todos os reféns restantes, em troca de um cessar-fogo permanente e da retirada das forças israelenses.
A proposta foi estabelecida pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em 31 de maio.
A votação histórica significa que o Conselho de Segurança das Nações Unidas se junta a outras grandes organizações globais no apoio ao plano, aumentando a pressão internacional sobre o Hamas e Israel para pôr fim ao conflito.
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está em viagem diplomática ao Oriente Médio, e se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Blinken disse nesta terça-feira (11) que o líder israelense “reafirmou o seu compromisso” com a atual proposta para garantir um cessar-fogo e a libertação de reféns e que ainda aguarda uma resposta do Hamas.
O Secretário de Estado dos EUA ainda afirmou que recebeu uma garantia explícita de Netanyahu de que continua apoiando o acordo e que o aceitará se o Hamas concordar com “o que está sobre a mesa”.
Netanyahu disse repetidamente e publicamente que o país prosseguirá com a guerra em Gaza até que o Hamas seja destruído e os reféns libertados.
Mas, uma declaração israelense nesta terça-feira (11) indicou que apesar de estar prestes a assinar formalmente o atual plano de cessar-fogo para Gaza, o país manteria ao mesmo tempo, a liberdade de continuar a lutar.
A breve comunicação emitida foi atribuída apenas a um funcionário do governo israelense mas entendida com amplo significando.
O Gabinete do Primeiro-Ministro, afirmou os objetivos de guerra de Israel antes de expressar apoio à proposta de cessar-fogo apoiada pelos EUA.
“Israel não terminará a guerra antes de alcançar todos os seus objetivos de guerra: destruir as capacidades militares e governativas do Hamas, libertar todos os reféns e garantir que Gaza não represente uma ameaça para Israel no futuro”, afirmou.
“A proposta apresentada permite a Israel atingir esses objetivos e Israel irá de fato fazê-lo”, concluiu a declaração.
Israel e Hamas reagem
O Hamas saudou a adoção da resolução do Conselho de Segurança da ONU, afirmando em um comunicado que estava pronto a colaborar para implementar medidas como a retirada das forças israelenses de Gaza, a troca de prisioneiros, o regresso dos residentes às casas e a “rejeição de qualquer mudança demográfica ou redução na área da Faixa de Gaza.”
A resolução diz que Israel aceitou o plano, e as autoridades americanas enfatizaram repetidamente que o governo israelense concordou com a proposta – apesar de outros comentários públicos de Netanyahu sugerirem o contrário.
No mês passado, menos de uma hora depois de Biden ter revelado a sua proposta, o primeiro-ministro israelense insistiu que Israel não acabaria com a guerra até que o Hamas fosse derrotado.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que os EUA garantiriam que Israel cumpriria as suas obrigações, enquanto o Egito e o Qatar fariam o mesmo com o Hamas.
“Os combates poderiam parar hoje”, se o Hamas concordasse com o acordo, disse ela.
Mas as negociações detalhadas para implementar as suas disposições ainda não produziram um acordo tanto por parte de Israel como do Hamas.
A proposta está dividida em três fases, segundo Thomas-Greenfield.
Inclui um cessar-fogo inicial, a libertação de reféns israelenses e a troca de prisioneiros palestinianos e, em última análise, o fim permanente das hostilidades com a retirada total das forças israelenses de Gaza, e uma distribuição eficaz de ajuda e uma grande reconstrução na faixa.
A embaixadora disse também que o acordo “rejeita quaisquer mudanças geográficas” em Gaza e reitera o compromisso com uma solução de dois Estados.
O enviado palestino da ONU, Riyad Mansour, disse que a Autoridade Palestina – que governa a Cisjordânia ocupada por Israel – saudou o acordo como um “passo na direção certa”, mas disse que cabe a Israel implementar as medidas.
“Queremos um cessar-fogo”, disse ele, acrescentando que “o fardo recai sobre o lado israelense para implementar esta resolução”.
“Veremos quem são os interessados, estamos ansiosos para ver esta resolução se tornar uma realidade e aqueles que a estão obstruindo e querem continuar a guerra de genocídio contra o nosso povo”, acrescentou.
EUA pressionam por apoio israelense ao acordo
Antes da votação, Blinken disse a Netanyahu durante a reunião em Jerusalém que a proposta “desbloquearia a possibilidade de calma ao longo da fronteira norte de Israel e de maior integração com os países da região”, de acordo com uma leitura do Departamento de Estado dos EUA.
“Os Estados Unidos e outros líderes mundiais apoiarão” a proposta de libertação dos reféns e um cessar-fogo imediato em Gaza, disse Blinken a Netanyahu.
Depois que a resolução foi adotada, Blinken conversou com o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant e “elogiou a disposição de Israel em concluir um acordo e afirmou que cabe ao Hamas a responsabilidade de aceitá-lo”, de acordo com uma leitura da reunião.
Blinken chegou a Israel na segunda-feira (10), após a renúncia de Benny Gantz do gabinete de guerra israelense no domingo (9).
A partida de Gantz foi um golpe para Netanyahu, que está sob crescente pressão dos aliados ocidentais e das famílias dos reféns para acabar com a guerra e trazer de volta os cativos.
Gantz enfatizou a Blinken na reunião sobre a importância de “aplicar pressão máxima” sobre os negociadores para garantir o acordo do Hamas com o último plano de cessar-fogo e trazer para casa aqueles que estão detidos em Gaza, de acordo com um comunicado do gabinete de Gantz.
O político israelense disse que seu partido apoiaria “qualquer acordo responsável” sobre o assunto vindo de fora do governo.
No entanto, a questão tem gerado confusão sobre de quem é a proposta.
Biden intitulou como uma “proposta israelense”, mas menos de uma hora depois do presidente americano ter anunciado o plano em maio, Netanyahu disse que o país não acabaria com a guerra até que o Hamas fosse derrotado.
O líder dos Estados Unidos disse que o Hamas foi degradado a tal ponto que não consegue mais realizar esse tipo de ataque e que agora “é hora de esta guerra acabar”.
O primeiro-ministro israelense no entanto, ainda não anunciou publicamente se o país aceitou ou rejeitou a proposta elaborada pelos EUA.
Oito meses desde o início da guerra, Israel ainda não alcançou os seus objetivos declarados, uma vez que a maior parte da liderança do Hamas continua foragida.
No início desta semana, oficiais militares israelenses estimaram que cerca de 120 reféns permanecem cativos, dos quais acredita-se que cerca de 70 ainda estão em cativeiro vivos.
Mais de 37 mil pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
A CNN não pode verificar os números fornecidos pelo ministério, que não faz distinção entre vítimas entre combatentes e civis. Não inclui nos seus números os vários milhares de pessoas que se pensa estarem desaparecidas, ou aquelas que ainda estão sob os escombros em Gaza desde de 7 de outubro.