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    Sintomas, vacina, tratamento e riscos: perguntas e respostas sobre varíola dos macacos

    Cientista Rosamund Lewis, líder técnica sobre varíola dos macacos do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), esclarece as principais questões sobre a doença

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    A varíola dos macacos (Monkeypox) não é uma doença nova. Foi descoberta pela primeira vez em um macaco em 1958, o que levou à origem do nome. No entanto, a primeira infecção em um ser humano foi descoberta em 1970 em uma criança pequena na República Democrática do Congo, no continente africano.

    O vírus Monkeypox causa uma doença com sintomas semelhantes à varíola comum, mas menos graves. Embora a varíola tenha sido erradicada em 1980, a varíola dos macacos continua a ocorrer em países da África Central e Ocidental.

    Desde a década de 1970, um número crescente de casos foi reconhecido, em particular, nos últimos 5 a 10 anos. A doença é endêmica em partes da África, onde é registrada a maior parte dos casos, incluindo mortes, há décadas. No entanto, desde maio, tem sido registrados casos em outros países que normalmente não têm a doença.

    De acordo com a OMS, a resposta ao surto atual que atinge mais de 40 países considerados não endêmicos deve servir como um catalisador para aumentar os esforços para combater o problema a longo prazo e garantir acesso a suprimentos essenciais em todo o mundo.

    “Isso é muito incomum. Tivemos um surto ocasional ou um único caso detectado em um viajante da África Ocidental. Mas, na verdade, nunca vimos um surto como esse antes”, afirmou a cientista Rosamund Lewis, líder técnica sobre varíola dos macacos do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) em entrevista ao podcast “Science in 5”, da instituição.

    No episódio, a pesquisadora esclarece as principais dúvidas sobre a doença, como os principais sintomas, impactos para o organismo, eficácia da vacina e maneiras de prevenir a transmissão do vírus.

    Quais são os efeitos para a saúde e como é o tratamento?

    A doença é causada por um vírus que pertence ao gênero ortopoxvírus da família Poxviridae. Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central).

    As infecções humanas com o tipo de vírus da África Ocidental parecem causar doenças menos graves em comparação com o grupo viral da Bacia do Congo, com uma taxa de mortalidade de 3,6% em comparação com 10% para o da Bacia do Congo.

    “A coisa mais importante sobre a varíola dos macacos é que ela causa uma erupção cutânea que pode ser desconfortável, pode causar coceira e pode ser dolorosa. Portanto, a coisa mais importante sobre cuidar de alguém com essa doença é basicamente cuidar da pele e cuidar de quaisquer sintomas que alguém possa ter, como dor ou coceira”, afirma a pesquisadora.

    Os sintomas incluem bolhas no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.

    A vacina funciona?

    A OMS recomendou, no dia 14 de junho, a vacinação contra a varíola para grupos prioritários, incluindo profissionais de saúde em risco, equipes de laboratório que atuam com ortopoxvírus, especialistas em análises clínicas que realizam diagnóstico para a doença e outros que possam estar em risco de acordo com autoridades nacionais de saúde pública.

    “É importante saber que a pesquisa ao longo de muitos anos também rendeu algumas vacinas e tratamentos para a varíola dos macacos. Estes são produtos novos e ainda não amplamente disponíveis. No entanto, a vacina é recomendada para pessoas que estiveram em contato com alguém que tenha varíola”, afirma Rosamund.

    Em relação ao tratamento, a especialista afirma que a maioria das pessoas não precisa dos novos produtos. “A maioria das pessoas não tem um caso grave de varíola e pode ser tratada de forma conservadora com cuidados regulares quando necessário. Pode ser possível acessar os novos tratamentos para alguns pacientes muito selecionados que possam precisar deles”, afirmou.

    OMS recomenda vacinação contra a varíola dos macacos para grupos específicos / Dado Ruvic/Reuters

    Quem está em risco e por que a OMS expressa preocupação neste momento?

    O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.

    “A varíola dos macacos se espalha pela proximidade, cara a cara, pele a pele, contato direto. É assim que sempre foi descrito. Pode haver algumas coisas novas acontecendo neste surto agora. Não sabemos tudo. Ainda há muito o que aprender”, disse a pesquisadora da OMS.

    A OMS alerta que alguns desses casos estão sendo identificados em pacientes gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens. A doença pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques, sexo oral e com penetração com alguém que tenha sintomas.

    “No momento, as pessoas mais expostas parecem ser homens que fazem sexo com homens. Portanto, é muito importante que todos nós juntos tenhamos certeza de que as mensagens cheguem às pessoas que precisam tê-las agora. Essas são as pessoas que podem estar em risco agora. E neste momento, essas pessoas são homens que fazem sexo com homens ou outras pessoas que possam estar em contato com eles, incluindo familiares”, afirma Rosamund.

    O diretor regional da OMS para a Europa, Hans Henri P. Kluge, destaca que o vírus pode afetar qualquer pessoa, independente de orientação ou prática sexual. Em comunicado a OMS também afirmou que “estigmatizar as pessoas por causa de uma doença nunca é bom. Qualquer pessoa pode contrair ou transmitir a varíola dos macacos, independentemente de sua sexualidade”.

    “enquanto estamos falando sobre quem está em maior risco, é claro que é realmente importante não gerar estigma contra grupos populacionais que estão em risco. Isso inclui homens que fazem sexo com homens. Também pode incluir pessoas que viajam de diferentes países que podem estar carregando o vírus sem saber. É muito importante que evitemos o estigma”, afirmou Rosamund.

    A especialista alertou, ainda, para a importância do uso de equipamentos de proteção individual por profissionais de saúde que possam entrar em contato com potenciais pacientes com a doença.

    “Como esse vírus se espalha por contato próximo e contato pessoa a pessoa, isso significa que, no ambiente de saúde, um profissional de saúde que não sabe com o que está lidando e pode não ter o equipamento de proteção individual adequado pode inadvertidamente ser exposto”, diz.

    “Portanto, também queremos ter certeza de que os profissionais de saúde tenham a mensagem de que, se estiverem vendo alguém que pode ter uma erupção cutânea não diagnosticada ou não diagnosticada anteriormente, é extremamente importante estar ciente de que esse vírus está se espalhando recentemente em diferentes grupos populacionais e garantir que sejam tomadas todas as precauções básicas para se proteger com equipamentos de proteção individual”, completa.

    A especialista também recomenda medidas de prevenção aos familiares de pessoas diagnosticadas com a varíola dos macacos.

    “Se houver alguém que tenha varíola dos macacos, quem vive em um ambiente familiar também pode querer cuidar para que outros membros da família não estejam imediatamente em risco”, disse.

    OMS considera a doença uma emergência internacional?

    A OMS declarou, no sábado (25), que o surto de varíola dos macacos não constitui uma emergência em saúde pública de interesse internacional. O anúncio aconteceu após reunião do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (2005) sobre o surto da doença, realizada na quinta-feira (23).

    “A maioria das pessoas que tem varíola não fica muito doente. No entanto, a OMS descreveu o risco como moderado porque a varíola está se espalhando em locais onde nunca havia sido relatada antes. Portanto, esse novo padrão de transmissão é preocupante e está se movendo muito rapidamente”, explica a pesquisadora.

    A OMS tem pedido uma vigilância intensificada do vírus na comunidade em geral. “A transmissão de pessoa para pessoa está em andamento e provavelmente é subestimada. Na Nigéria, a proporção de mulheres afetadas é muito maior do que em outros lugares, e é fundamental entender melhor como a doença está se espalhando por lá”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, na semana passada.

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