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    Líder indígena faz denúncias a Barroso sobre situação no vale do Javari

    Beto Marubo, da Univaja, relatou ao ministro a situação de abandono da região e a intensa atuação de quadrilhas internacionais

    Gabriel HirabahasiGabriela Coelhoda CNN , em Brasília

    O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), se reuniu, na tarde desta terça-feira (21), com Beto Marubo, uma das lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), e com a secretária-geral do Ministério Público da União, Eliana Peres Torelly de Carvalho.

    No encontro, Marubo relatou ao ministro informações sobre a situação no Vale do Javari (na Amazônia) após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.

    Beto Marubo denunciou três pontos:

    • O abandono da região pelo Estado, com desmonte da Funai (órgão que deveria evitar o desmonte), constantes alegações das Forças Armadas de falta de recursos para operações necessárias e dificuldade da Polícia Federal em articular ações sem apoio das Forças Armadas;
    • As consequências da atuação das quadrilhas internacionais envolvendo brasileiros, peruanos e colombianos que exploram pesca ilegal (pirarucu e peixe liso, bem como de peixes ornamentais) e caça ilegal;
    • Que Bruno foi morto por ter feito o mapeamento dessas atividades ilegais e da logística adotada pelos integrantes das quadrilhas e entregou ao MPF, além de ter dado ciência à Polícia Federal em Tabatinga.

    Marubo foi uma das lideranças envolvidas nas buscas por Pereira e Phillips desde 5 de junho, quando os dois desapareceram.

    A CNN apurou que o líder indígena contou a Barroso que, desde a última quarta (15), quando os corpos do indigenista e do jornalista foram encontrados, houve uma desmobilização no local e que há uma crescente sensação de medo e de insegurança sobre possíveis novos episódios de violência.

    Ainda conforme Beto Marubo, há uma outra morte que pode estar associada ao crime envolvendo Bruno e Dom, a de Maxciel Pereira dos Santos em 2019. Ele chefiou, por cinco anos, o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari, e morreu com dois tiros na cabeça em Tabatinga.

    Para o líder indígena, não é possível determinar quem são os mandantes das mortes de Bruno e Dom – e eventualmente de Maxciel -, mas para ele é claro que o contexto está nessas quadrilhas internacionais que envolvem pesca e caça ilegal. Beto Marubo pediu: “É preciso que se investigue essas quadrilhas, essa rede de criminosos, que protejam nossa terra.”

    Além disso, Marubo chegou a se emocionar durante a audiência. O líder indígena contou ao ministro da atuação que Bruno Pereira de Araújo tinha enquanto indigenista, de sua liderança na defesa dos povos originários e também das ameaças que ele já havia recebido por causa de seu trabalho.

    Beto Marubo disse que, ao longo dos últimos anos, Bruno Pereira treinou os indígenas a usarem recursos e tecnologias atuais para poderem qualificar as informações, de forma técnica, sobre o aumento das invasões do Território indígena Vale do Javari, constatando a atuação de quadrilhas organizadas em atividades ilícitas na região.

    Os corpos de Pereira e Phillips foram enviados a Brasília para a realização de exames. A previsão é que o Instituto de Criminalística da Polícia Federal (PF) faça a liberação até a quinta-feira (23), após terminarem os exames de balística para determinar a distância de que os disparos foram efetuados.

    O ministro Luís Roberto Barroso é o relator de uma ação no STF que trata da segurança dos povos indígenas durante a pandemia da Covid-19. O processo, no entanto, tem recebido adendos de casos envolvendo os povos originários, entre eles a morte de Pereira e Phillips na região amazônica.

    No dia 10 deste mês, diante do desaparecimento do indigenista e do jornalista, Barroso determinou que o governo adotasse todas as providências possíveis para ajudar nas investigações, que culminaram na localização dos corpos da dupla.

    Na semana passada, a Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ao Supremo documentos que mostram que, em reunião realizada em 10 de junho, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) questionou se Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips chegaram a entrar em área indígena e se estes fizeram contato com a (Funai) Fundação Nacional do Índio, previamente. A Funai informou que não há notícia de que eles tenham ingressado em território indígena.

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