Pré-candidatos à Presidência falam sobre taxa Selic e política monetária do Banco Central
Taxa básica de juros foi elevada para maior índice desde 2016; decisão do Banco Central busca conter o aumento da inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou, na última quarta-feira (15), a taxa básica de juros brasileira em meio ponto percentual, para 13,25%. Esse foi o 11º aumento consecutivo. Com o aumento, a Selic chegou ao maior patamar desde 2016.
A alta é mais uma tentativa do BC de conter a alta na inflação. Em 12 meses, o IPCA acumula 11,73%.
No encontro anterior do Copom, em abril, o BC informou que promoveria nova alta, mas em uma menor intensidade do que a anterior, de um ponto percentual. Em fevereiro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou que a inflação brasileira deveria atingir seu pico entre abril e maio.
Segundo um comunicado do Banco Central, o órgão já planeja para a próxima reunião uma nova alta na taxa. O encontro do comitê acontecerá na primeira semana de agosto.
A CNN perguntou aos pré-candidatos à Presidência da República o que eles pensam sobre a taxa Selic e a política monetária do Banco Central.
Confira abaixo as respostas:
Lula (PT):
A chapa do presidente Lula e do governador Geraldo Alckmin está elaborando seu plano de governo e irá apresentá-lo dentro do prazo previsto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Jair Bolsonaro (PL):
O Presidente não respondeu ao questionamento da CNN até o momento da publicação.
Ciro Gomes (PDT):
O pré-candidato não respondeu ao questionamento da CNN até o momento da publicação.
André Janones (Avante):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Simone Tebet (MDB):
A pré-candidata não respondeu até o momento da publicação.
Felipe d’Avila (Novo):
Quando a taxa de juros vira alvo de interferências políticas, quem sai perdendo é o brasileiro. Defendo um Banco Central independente, que blinde a instituição de aventuras populistas, como a irresponsável redução forçada dos juros capitaneada pelo governo Dilma em 2012. Assim, o BC autônomo pode conter o fantasma da inflação, que castiga principalmente os mais pobres.
Se a independência da instituição não tivesse sido aprovada pelo Congresso, o destino do seu presidente seria o mesmo dos presidentes da Petrobrás: rua! Demissão sempre que o desejo político do presidente não fosse atendido pelo Banco Central. Sua independência dá ao país algo que a Petrobrás não é capaz de dar: estabilidade e previsibilidade das decisões da instituição.
Juros no Brasil só irão cair quando o governo fizer a lição de casa: cortar gastos com a máquina estatal, restabelecer o teto de gastos e estabilizar a relação da dívida pública/PIB.
Luciano Bivar (União Brasil):
A estratégia de aumentar juros para conter a inflação tem efeito limitado, principalmente quando a razão principal do aumento vem do cenário internacional. A elevação da taxa de juros provoca redução no crescimento econômico, menor geração de empregos e quem paga a conta da pior forma é a população mais pobre.
A solução passa pelo crescimento sustentável da economia. Há mais de 20 anos defendo a implantação do Imposto Único Federal (IUF), que ao promover a simplificação e a redução dos impostos vai aliviar a conta para os empresários, permitindo a criação de novos postos de trabalho. Também terá um impacto imenso no preço dos produtos em geral, principalmente dos alimentos. Assim, a redução da inflação acontecerá naturalmente e não será preciso aumentar juros para contê-la.
Vera Lúcia (PSTU):
O Banco Central tem uma política econômica a serviço dos bancos. Essa elevação não vai reduzir a inflação, que só está aumentando. A taxa de juros brasileira é a maior do mundo e isso detona os trabalhadores endividados com cheque especial e cartão de crédito.
Isso é funcional para manter o pagamento da dívida pública, que hoje consome mais da metade do orçamento federal. Perdem os trabalhadores, porque esse montante absurdo é tirado do orçamento da saúde, educação, moradia, transporte e saneamento popular. Perdem os trabalhadores endividados. Só quem ganha são os bancos e os fundos financeiros.
Por isso, nós defendemos a estatização dos bancos, sob controle dos trabalhadores, e uma mudança radical na política econômica implementada pelo governo Bolsonaro, através do Ministério da Economia e do Banco Central. Hoje, temos uma política econômica favorável aos bancos, empresários, latifundiários e multinacionais. Vamos mudar esse jogo, aplicando uma política econômica que resolva as necessidades mais sentidas do povo pobre e trabalhador.
Pablo Marçal (Pros):
Vejo com muita preocupação a política atual do Banco Central. O objetivo do BC, ao impor uma política altista nos juros, é controlar a inflação, justamente o maior medo do cidadão brasileiro, já que o governo conseguiu a proeza de trazer de volta a inflação de dois dígitos. O problema é que estamos no meio de um grande impasse que é combater a alta dos preços sob o altíssimo custo de desacelerar ainda mais o crescimento e elevar a taxa de desemprego.
O Brasil tem hoje oficialmente 11 milhões de desempregados, mas esse número não é real já que o número de brasileiros na linha da miséria supera os 30 milhões. Chegamos neste quadro não por causa da pandemia ou da guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas pela incapacidade do governo de articular com os poderes da República para produzir um pacto pelo povo, pelo brasileiro faminto que tem como maior medo não sustentar sua família.
A receita mais utilizada pelas autoridades monetárias no mundo para controlar a inflação é a elevação dos juros pelo banco central, só que somos hoje a terceira maior taxa de juros do mundo, perdendo apenas para Argentina e Turquia. A verdade é que o governo perdeu a mão e está desesperadamente tentando controlar a inflação para diminuir o prejuízo eleitoral. No final, quem paga a conta é a família brasileira, alvo de um governo populista de direita e cobiçada por um ex-governo populista de esquerda.
No populismo, não importa de que lado, a tônica é o voto, não o bem estar das pessoas. Chega disso. Precisamos governar pelo povo, sem ideologia, apenas objetivando tirar as pessoas da miséria. O remédio até pode ser aumentar a Selic para controlar a inflação, a questão é o quanto a dose certa comprometeria o voto sem comprometer ainda mais a frágil economia do país.
José Maria Eymael (DC):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Sofia Manzano (PCB):
A pré-candidata não respondeu até o momento da publicação.
Leonardo Pericles (UP):
Primeiro que desde a disparada dos juros pelo Banco Central em março/2021 até agora, sob a falsa justificativa de combater inflação, que tem origem em preços administrados e alimentos (cujos preços não se retraem diante da elevação dos juros), a Selic já saltou de 2% para 13,25% ao ano, garantindo aumento dos lucros dos bancos que atuam no Brasil.
Segundo que toda a política de juros altos no Brasil é traçada para alimentar o pagamento de juros da Dívida Pública (já paga por diversas vezes segundo diversos especialistas sobre o tema), neste caso específico da Dívida Interna Federal, que ao contrário de outros países, não é um sistema para investir na economia do país, gerar emprego e renda, é um sistema de transferência de vultosas quantias de dinheiro do orçamento federal (inclusive usando o Banco Central para isso), para o sistema financeiro, para agiotagem nacional e internacional, especuladores e principalmente os banqueiros.
Lembremos que juros altos significam frear a própria economia. Exemplo foi quando em 2020, no início da pandemia, o Governo Federal repassou cerca de 1,2 trilhão de reais para aumento de liquidez dos bancos, ou seja, para que disponibilizassem empréstimos para micro e pequenas empresas. Com juros altíssimos como os praticados no Brasil, na prática, as empresas não conseguiram pegar os empréstimos e houve uma quebradeira geral desse setor e os bancos ainda foram remunerados por essa quantia enorme que ficou sem circulação, esterilizada na chamada remuneração da sobra de caixa dos bancos, como muito bem vem denunciando a Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, a Auditora Fiscal aposentada, Maria Lucia Fattorelli.
É o Tesouro Nacional que financia o Banco Central, pois lhe repassa cerca de R$ 2 trilhões de títulos públicos e ainda paga juros sobre esses títulos doados. Esse financiamento do Banco Central pelo Tesouro custou quase R$4 trilhões de 2010 a 2021. O Banco Central usa esse dinheiro dos juros recebidos do Tesouro para remunerar diariamente os bancos, ou seja, somos nós que pagamos essa remuneração! Além disso, o Banco Central ainda repassa os seus prejuízos para o Tesouro: só em 2016 foram R$ 250 bilhões de prejuízos do BC repassados ao Tesouro.
Se barrarmos essa benesse aos bancos, poderemos triplicar imediatamente os investimentos em saúde, educação, ciência e tecnologia, moradia, assistência social, entre outros investimentos importantes para o povo.
O próprio Banco Central já publicou que a cada 1% de aumento da Selic, o gasto anual com juros da dívida líquida do setor público tem um aumento de R$34,9 bilhões! Esse dinheiro vem do orçamento público e, com isto, as políticas de saúde, educação, segurança etc. ficam prejudicadas pela falta de recursos e as necessidades sociais mais urgentes não são atendidas.
Quero lembrar também que no governo Bolsonaro, os banqueiros estão com a chave completa dos cofres públicos. O Banco Central nas mãos de Roberto dos Campos Neto, banqueiro que foi por 18 anos do Banco Santander, o Ministério da Economia nas mãos de um crápula, o banqueiro Paulo Guedes. Ambos comandam também o Conselho Monetário Nacional, atualmente composto apenas por 3 membros. A diretoria do Banco Central, órgão que coordena todas as instituições financeiras do país, compõe o Comitê de Política Monetária, o Copom, que justamente define a taxa básica de juros Selic, a qual influencia todas as demais taxas de juros de mercado praticadas no país. Não existe limite para os juros no Brasil, o que é um absurdo, pois diversos países limitam.
Nossa proposta é acabar com essa farra dos bancos e do capital financeiro e tirar das mãos deles o controle da economia, pois o seu fracasso é retumbante. A única política econômica possível e séria para nós é a que impede que nosso povo esteja desempregado e passando fome. Nossa proposta é a suspensão do pagamento da dívida pública e a realização de uma profunda auditoria popular da mesma. E fazer com que essa vultosa quantia que é paga em juros e amortizações seja revertida para grandes investimentos 100% públicos nas nossas áreas sociais, sobretudo saúde, educação e moradia, permitindo reativar nossa economia com o que tem de melhor nela, garantindo que a classe trabalhadora possa trabalhar com dignidade, permitindo a geração de milhões de empregos e tirarmos o Brasil da profunda crise que se encontra.
Debate
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.