Escassez de absorventes nos EUA é o mais recente pesadelo para mulheres do país
Preços dos produtos aumentaram significativamente, quase 10% em relação ao ano passado
Problemas na cadeia de suprimentos e inflação atingiram praticamente todos os bens de consumo, mas as mulheres que menstruam agora enfrentam uma pressão adicional, pois a escassez de produtos menstruais atinge os Estados Unidos.
Os principais varejistas e fabricantes reconheceram a escassez nesta semana, confirmando reclamações que circulam nas mídias sociais há meses. A questão atraiu a atenção nacional depois que um artigo na Time chamou a escassez de absorventes internos e externos de escassez “de que ninguém está falando”.
“Não vejo nenhum produto nas lojas há meses”, um usuário postou no Reddit. “Tenho encomendado meus absorventes na Amazon e estou pagando preços exorbitantes.”
Os preços dos produtos aumentaram significativamente – quase 10% em relação ao ano passado, segundo a Bloomberg.
Mas um porta-voz da Amazon negou rumores de manipulação de preços, dizendo que suas políticas “ajudam a garantir que os vendedores precifiquem seus produtos de forma competitiva” e que a empresa monitora ativamente os valores de produtos e remove ofertas que violem sua política de preços justos.
A escassez parece resultar de restrições de oferta em materiais-chave como algodão e plástico, que também são usados em equipamentos de proteção individual, e estão em alta demanda desde o início da pandemia. A guerra na Ucrânia reduziu ainda mais a oferta porque a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de fertilizantes, que são usados para cultivar algodão. Uma seca no Texas também não ajudou.
A escassez de matérias-primas e os gargalos da cadeia de suprimentos não são exclusivos dos produtos menstruais, mas, assim como a escassez de fórmulas infantis nos EUA, há uma demanda biológica implacável e urgente por eles que não pode ser facilmente substituída. As pessoas que menstruam não podem simplesmente esperar que as prateleiras sejam reabastecidas.
“Levar materiais brutos e embalados para os lugares onde precisamos continua sendo caro e altamente volátil”, disse Andre Schulten, diretor financeiro da Procter & Gamble, em uma recente teleconferência de resultados.
Quando a Time perguntou à Procter & Gamble, dona das marcas populares Tampax e Always, sobre a escassez, um porta-voz da empresa culpou o aumento da demanda ligada a uma campanha publicitária com a comediante Amy Schumer.
Desde que os anúncios foram lançados em julho de 2020, “o crescimento das vendas no varejo explodiu”, disse o porta-voz à Time.
É claro que colocar a culpa nos anúncios de Schumer não explica por que outras marcas também são difíceis de encontrar. Um representante da P&G disse ao CNN Business na quinta-feira que a equipe da Tampax está “produzindo absorventes 24 horas, 7 dias por semana para atender ao aumento da demanda”.
“Entendemos que é frustrante para os consumidores quando eles não conseguem encontrar o que precisam”, disse o porta-voz da P&G por e-mail. “Podemos assegurar-lhe que esta é uma situação temporária.”
Enquanto as manchetes sobre o comentário de Schumer circulavam nesta semana, a comediante, que falou publicamente sobre sua histerectomia no ano passado, respondeu com uma piada nas mídias sociais.
“Uau, eu nem tenho útero”, ela escreveu no Instagram na quinta-feira, sob uma captura de tela de uma manchete que dizia: “Por que Amy Schumer está sendo culpada pela escassez nacional de absorventes internos”.
Os representantes de Schumer não responderam a um pedido de comentário.
Tanto a Walgreens quanto a CVS disseram que estão cientes da escassez de absorventes internos e outros produtos menstruais em algumas áreas e que estão trabalhando com seus fornecedores para garantir que possam reabastecer o mais rápido possível.
A escassez de absorventes compartilha paralelos incômodos com a escassez de fórmulas infantis, principalmente nas respostas inúteis oferecidas por homens que não são diretamente afetados por eles. Em ambos os casos, as mulheres dizem que estão sendo bombardeadas com comentários – alguns genuinamente oferecendo ajuda, outros transbordando de indignação pelas supostas falhas biológicas das mulheres.
“Se pudéssemos imaginar um mundo onde os homens tivessem que amamentar seus bebês… a escassez de fórmula lá não seria tão terrível”, escreveu a jornalista Elizabeth Spiers em um artigo de opinião para o The New York Times. “Nessa realidade alternativa… a fórmula não seria estigmatizada porque é uma escolha que os homens gostariam de ter disponível para eles.”