Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Inflação alta não é exclusividade do Brasil; veja situação nas maiores economias

    Fenômeno tem causas comuns, mas particularidades pioraram cenário em alguns países

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business , em São Paulo

    O Brasil enfrenta, desde 2021, um dos piores quadros inflacionários da economia nas últimas décadas, com a inflação passando dos dois dígitos e se mantendo em níveis elevados em 2022. Mas o país não é o único que tem batalhado contra o fantasma da inflação, em um fenômeno com raízes e difusão globais.

    A perspectiva, porém, é que inflação alta ao redor do mundo comece a dar trégua ainda neste ano, se estendo com grau menor para 2023, conforme os países elevam suas taxas de juros, principal instrumento para combatê-la.

    O Brasil, por exemplo, atingiu em abril uma inflação de 12,13%, mas o mercado enxerga o valor como um pico, que tende a cair, já que a taxa básica de juros, a taxa Selic, passou por um forte ciclo de alta em menos de dois anos e foi de 2% a 12,75% ao ano.

    Economias mais desenvolvidas, caso dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá começaram o processo de alta de juros mais tarde, mas também enfrentam níveis recordes de inflação. Outros países, como Argentina, Turquia e Rússia, têm seus quadros inflacionários piorados por questões internas.

    Causas comuns

    O grande fator que liga as pressões inflacionárias pelo mundo é a pandemia de Covid-19. A obrigatoriedade de realização de lockdowns para evitar a disseminação da doença desorganizou as cadeias de produção, fornecimento e transporte, reduzindo a oferta de uma série de produtos.

    Conforme as economias foram reabrindo, em especial com o avanço da vacinação, a demanda retomou com intensidade, mas os gargalos não foram resolvidos na mesma velocidade, e o descompasso levou a pressões inflacionárias pelo lado da oferta.

    Nos setores de automóveis e de eletrônicos, por exemplo, a falta de chips obrigou a redução na entrega de carros, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Como a demanda por esses produtos cresceu, os preços dispararam.

    Já no caso do transporte marítimo, os fretes foram encarecidos por uma combinação de combustíveis mais caros, falta de contêineres para atender à demanda e muitos navios parados com a tripulação infectada ou em quarentena, gerando um efeito em cadeia nos preços de diversos produtos.

    Outro setor bastante impactado pela crise foi o de energia, com destaque para o petróleo. A produção da commodity foi abalada pela pandemia, e os principais fornecedores, reunidos na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) limitaram a oferta para evitar quedas nos preços pela demanda baixa. Quando a demanda retomou, a organização não elevou a oferta, gerando a alta nos preços.

    Saiba mais sobre o petróleo e como funciona a sua cotação

    [cnn_galeria active=”false” id_galeria=”589730″ title_galeria=”Saiba mais sobre o Petróleo e como funciona a sua cotação”/]

    Entretanto, quando o cenário parecia um pouco mais leve no início de 2022, outro elemento comum à inflação ao redor do mundo surgiu: a guerra na Ucrânia.

    O conflito envolveu não apenas disrupções de cadeias que passavam pelos países, em especial as de fornecimento de gás e petróleo para a Europa, mas também uma série de sanções de países Ocidentais contra a Rússia que buscaram isolar o país da economia mundial.

    Como consequência da guerra e das sanções, produtos produzidos nos dois países, como grãos, fertilizantes, petróleo e gás, atingiram níveis recordes. E como os preços internacionais valem para todos os países, houve um efeito em cadeia.

    As especificidades

    Mas também existem fatores específicos que agravaram, ou reduziram, o quadro inflacionário em cada nação.

    Os Estados Unidos empregaram durante a pandemia uma forte política de assistência financeira à população, que alguns analistas apontam como geradora de uma inflação de demanda.

    Com as pessoas tendo mais recursos, consumiam mais, e os preços subiam, em um ciclo que aqueceu a economia, impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB), reduziu o desemprego e também gerou mais inflação.

    No caso do Brasil, especialistas citam fatores adicionais como a instabilidade política e o risco fiscal, que desvalorizaram o real ante o dólar com a saída de investimentos, e a pior crise hídrica nas últimas décadas, que elevou as contas de luz e afetou a produção agrícola.

    Economias mais estagnadas, como a do Japão, foram menos impactadas, com inflação menor.

    No caso da zona do euro, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse por meses que não seria necessário subir juros pois as causas da inflação eram de oferta, e portanto passariam, e que havia o risco das elevações desacelerarem excessivamente uma economia já com sinais de fraqueza.

    A guerra na Ucrânia mudou o cenário, e agora a expectativa é que o BCE seja em breve o último grande banco central a iniciar o ciclo de alta de juros.

    A própria Rússia deve atingir níveis recordes de inflação devido ao conflito. Há ainda a situação da Turquia, cuja moeda desvalorizou fortemente devido a intervenções do governo no banco central, gerando uma subida íngreme da inflação.

    Dentro do G20, as 20 maiores economias do mundo, a projeção mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), de abril deste ano, é que a Turquia deve ultrapassar a Argentina, também com fortes problemas inflacionários atrelados ao câmbio, e ter a maior inflação do grupo.

    Inflação ao redor do mundo

    Em seu relatório mais recente, o FMI projetou como estará a inflação em centenas de países ao fim de 2022. No caso do G20, as diferenças nos graus e temporalidade do processo inflacionário leva a perspectivas conflitantes: alguns países devem ter índices maiores que os de 2021, caso dos Estados Unidos, e outros menores, como o Brasil.

    A expectativa do FMI é que, em dezembro de 2022, a inflação no acumulado de 12 meses no Brasil seja de 6,7%, valor abaixo das projeções do mercado. Na média do ano, a projeção está na casa dos 8%, mais próxima do que o mercado espera.

    Com isso, o Brasil cairia para a quinta posição entre as maiores inflações do G20, ante a terceira em 2021, atrás de Turquia, Argentina, Rússia e Reino Unido.

    Já as menores inflações devem ser registradas na Arábia Saudita, China e Japão.

    Desemprego

    Em praticamente todos os países do grupo, o quadro inflacionário também deve resultar em redução na taxa de desemprego, mesmo que pequena, devido ao aquecimento da economia.

    Uma exceção é a África do Sul, que deve manter a liderança dos últimos 22 anos no ranking. Já a Índia não divulga as informações sobre o tema para a organização.

    A projeção do FMI é que o Brasil mantenha a segunda posição, com uma taxa ainda de dois dígitos, apesar de analistas brasileiros serem mais otimistas quanto a esse dado, projetando um resultado melhor, abaixo de 10%.

    PIB

    Um dos indicadores mais tradicionais da economia, o PIB (Produto Interno Bruto) representa a soma de toda a riqueza produzida em um país em um determinado período. O PIB costuma ser calculado trimestralmente e anualmente, mostrando o desempenho e a situação econômica de um país.

    Pelas previsões do FMI, o quadro entre as maiores economias não deve mudar muito. Os Estados Unidos permanecerão na liderança, seguidos pela China e pela União Europeia.

    A organização projeta que a Itália, o Japão e a Turquia terão recessão em 2022. A expectativa é que o PIB brasileiro suba 0,8%, com o país ficando na 11ª posição. A África do Sul deve continuar tendo o menor PIB do G20.

    PIB per capita

    Uma vez calculado, o PIB pode ser dividido pela população total do país, dando origem a um novo indicador: o PIB per capita. Ele dá um indicativo de qual seria a “renda média” do país.

    Isso não significa, porém, que toda a população receba um valor próximo a ele, já que questões ligadas à desigualdade afetam essa distribuição de renda. Questões demográficas, como o tamanho da população, também acabam influenciando no indicador.

    Em 2022, os Estados Unidos devem manter a liderança nesse quesito, enquanto o Brasil continuará entre os cinco piores, com a Índia mantendo o pior resultado.

    Dívida bruta

    Conforme os países reduzem os gastos públicos ligados ao combate à pandemia e a programas de assistência econômica durante o período, a relação dívida bruta/PIB deve continuar uma trajetória de redução vista em 2021 na maioria das nações.

    Uma exceção, porém, deve ser a China. O governo do país já prometeu aumentar os gastos públicos como forma de incentivar a economia do país, que deu sinais de desaceleração no fim de 2021, com um cenário piorado a partir de março após lockdowns em Xangai e Pequim, dois centros econômicos importantes.

    O Japão, que busca constantemente injetar dinheiro para aquecer a economia, manterá a liderança, com a dívida bruta correspondendo a 262,54% do PIB.

    Já o Brasil deve conseguir reduzir essa proporção pelo segundo ano consecutivo, chegando a 91,8%, mas figurando na sexta posição entre os países com maiores dívidas. A menor deve ser registrada, novamente, na Rússia, de 16,77%.

    Tópicos