Países cobraram preço da falta de atenção dos EUA para a América Latina, diz professor
Em entrevista à CNN, o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan analisou o cenário diplomático atual entre Brasil e Estados Unidos
Iniciou-se nesta segunda-feira (6) a Cúpula das Américas, evento que reúne líderes de todo o continente americano. O encontro acontece entre os dias 6 e 10 de junho, e contará com a primeira reunião entre o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), e o presidente americano, Joe Biden.
Em entrevista à CNN, o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan analisou o cenário diplomático atual entre Brasil e Estados Unidos. De acordo com o especialista, Bolsonaro utilizou o fato de que o anfitrião da Cúpula, Biden, precisava da presença de mais líderes internacionais no evento — poucos dias antes do início da Cúpula, o cenário ainda era de incerteza em relação a quais presidentes latino-americanos compareceriam.
“Da parte do presidente Bolsonaro, ele usou o mais que ele pôde, o fato de que o presidente Biden estava precisando da presença dele. De alguma forma ele aproveitou inclusive um certo acerto de contas pessoal cobrando que o presidente Biden não o cumprimentou na reunião do G20”, afirmou.
Segundo Trevisan, a falta de atenção de governos dos Estados Unidos em relação à América Latina tem gerado cobrança por parte dos principais líderes regionais. “Os EUA não tiveram tempo para América Latina. Tanto o presidente mexicano, como o presidente brasileiro, os dois maiores PIBs da América Latina, cobraram o seu preço em uma atenção maior por parte dos EUA, para a presença deles na Cúpula das Américas”, disse.
O momento para os EUA é turbulento diplomaticamente, com sua preocupação sendo exigida pelo conflito na Ucrânia e outros conflitos na Ásia — como as relações complicadas com a China e Coreia do Norte. “Não há muito espaço político para uma atenção maior neste momento dos EUA para a América Latina”.
Uma das razões que podem ter atraído os olhos norte-americanos para os países latino-americanos é a aproximação da China em relação ao continente. “O que está acontecendo é que os empresários norte-americanos que têm negócios com o Brasil, e a própria cúpula do Departamento de Estado dos EUA, perceberam a concorrência chinesa. E alertaram, é preciso dar alguma atenção aos nossos vizinhos, porque o inimigo está ganhando espaço. E não é pouco espaço, é um espaço bastante consistente, principalmente em investimentos”, analisou Trevisan. “Os EUA obviamente olham para isso com o olhar do concorrente que está perdendo espaço. Estão tentando recuperar, mas têm situações políticas mais tensas.”
Com a atribuição de escolher os convidados para a Cúpula das Américas, os EUA optaram por excluir Cuba, Nicarágua e Venezuela da lista, por se tratarem de países não diplomáticos. Para o especialista, o movimento foi pouco hábil: “Ao não convidar especialmente Cuba, mas Venezuela e Nicarágua também, ele arrefece os interesses, principalmente dos países latino-americanos, em comparecer em uma Cúpula que não é bem latino-americana”.
*Sob supervisão.