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    Eleições 2022

    Depois de se livrar da cadeia, Lula condena o Brasil

    O desprezo de Lula pelo momento atual do sistema político não é muito diferente do seu principal adversário

    Alexandre Borges

    Durante um encontro em Porto Alegre nesta quinta-feira (2), Lula revela o que incomoda a ele no Brasil: “o Congresso tem que voltar a legislar, o Ministério Público tem que voltar a cumprir com o seu papel e ser mais responsável do que foi no caso da Lava Jato. O STF tem apenas que ser o guardião da Constituição e não pode ficar fazendo discurso dando voto pela imprensa. O voto tem que ser dado em função dos autos do processo. O Congresso Nacional não tem que ter orçamento próprio. Quem tem que cuidar do orçamento é o Poder Executivo deste país. Então tá tudo mudado, tá tudo corrompido, tá tudo diferente. E esse país tem que voltar à normalidade”.

    Em resumo, tudo.

    Lula passou 580 dias na cadeia, e o impacto desta experiência na sua estabilidade emocional vai se mostrando cada vez mais profundo.

    O ex-presidente fala do Congresso, do STF e do MP e acha que os poderes da República estão “corrompidos”, uma acusação grave, daquele tipo que, quando falada por Bolsonaro, é interpretada, não sem motivo, como um ataque à democracia.

    O desprezo de Lula pelo momento atual do sistema político brasileiro não é muito diferente do seu principal adversário.

    Uma declaração como essa está longe de conquistar votos para Lula. Não só os fantasmas mais assustadores evocados pelo petismo voltam a assombrar a classe média e a elite do país como seu oponente ganha, quase que diariamente, novos motes de campanha de presente. A cada canelada verbal de Lula, uma tubaína é aberta festivamente no Planalto.

    Quando um candidato, mesmo que liderando as pesquisas com certa folga, começa a agir como se já tivesse ganhado e que não precisasse lutar pelos corações e mentes do eleitorado, abre um flanco de ataque que coloca a sua vitória em sérios riscos.

    Seus auxiliares mais próximos sabem disso. São todos forjados na arena da política e da luta sindical, mas o que se ouve é que ninguém tem coragem de confrontar um homem com sua vaidade e autossuficiência.

    Que Lula não se engane: caso a eleição se decida em dois turnos, só Deus sabe o que acontecerá no Brasil entre 2 e 30 de outubro.

    Bolsonaro já deixou claro que não tem qualquer limite para seu projeto dinástico de poder, que inclui não apenas um novo mandato para si como sucessivas vitórias eleitorais para seus filhos nas próximas décadas. Há muito mais em jogo do que apenas quatro anos como inquilino no Planalto.

    O atual presidente teve um banho de realidade quando seu ídolo, Donald Trump, foi despejado na Casa Branca após um único mandato. A tal “onda nacional-populista” se mostrou uma marolinha que dá cada vez mais sinais de estar se dissipando.

    Bolsonaro entendeu perfeitamente o recado das urnas americanas e não deixou um único dia de buscar votos. Se vai conseguir vencer ainda não se sabe, mas ele está fazendo tudo que está ao seu alcance para conseguir.

    Enquanto isso, Lula reclama do Congresso, desanca o STF, bate no MP e ainda quer regular a mídia, além de tecer comentários muito críticos aos hábitos de consumo da classe média. Quanto aos empresários e ao mercado financeiro, disse recentemente que só conversa com eles quando tiver vontade, sem dar sinais de muito interesse ou pressa.

    Bolsonaro é sempre acusado, com razão, de divisivo, mas um Lula chavista também está longe de pregar a união de todos.

    Como dizia o saudoso Millôr Fernandes, o comunista é um alfaiate que quando o terno não fica bom quer consertar o cliente. Se Lula quer mesmo vencer a eleição, precisa entender que o Brasil é maior que suas vendetas.

    Os pré-candidatos à Presidência

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