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    Eleições 2022

    Fatos Primeiro: Lula exagera ao comparar reajustes salariais de seu governo com os de Bolsonaro

    Números citados pelo ex-presidente não são corroborados por estudos da Fipe e do Dieese sobre o tema

    Danilo MoliternoGabriela Ghiraldellida CNN , São Paulo

    O pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que, durante sua gestão, 90% dos acordos salariais com categorias organizadas resultaram em aumentos acima da inflação.

    A declaração foi feita durante o evento Festival Vermelho, do PCdoB, em Niterói, em 26 de março. Na ocasião, o petista disse ainda que, no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o número caiu para 7%.

    Segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que monitoram os reajustes com base em informações do Ministério do Trabalho e da Previdência, o governo Lula registrou taxas de acordos salariais com reajustes acima da inflação maiores do que a gestão Bolsonaro.

    O índice, contudo, não alcançou 90% enquanto o petista esteve no poder. Os números apresentados por Lula em relação ao governo Bolsonaro também não são precisos: eles nunca ficaram próximos a 7%.

    O que Lula disse?

    “A gente vai voltar a ter emprego na indústria, a ter o pobre tendo aumento de salário, a ter o aposentado sendo respeitado, o salário mínimo crescendo. No meu governo, 90% dos acordos das categorias organizadas deste país tinham aumento real acima do salário. Agora, apenas 7%. Por isso que a massa salarial está caindo”

    Luiz Inácio Lula da Silva, durante o evento do PCdoB, em 26 de março

    Aumento real do salário

    Levantamento da Fipe com base em informações do Ministério do Trabalho e da Previdência aponta que, durante os quatro últimos anos de governo do ex-presidente Lula (2007-2010), a média de acordos com correções salariais acima da inflação foi de 81,32% — número abaixo dos 90% citados pelo petista.

    Em 2007, quando a Fipe iniciou as projeções, 84,33% dos acordos tiveram reajustes acima da inflação. O número foi de 69,47% em 2008, e de 79,89% em 2009. No último ano de governo Lula, em 2010, a média ficou em 87,95%.

    Somente durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) as médias de acordos acima da inflação ultrapassariam os 90%: 94,15% em 2012 e 91,33% em 2014.

    Segundo os dados da entidade, embora a taxa tenha caído consideravelmente no governo de Bolsonaro, nunca atingiram o patamar de 7%. Em 2019, o número foi de 49,30%, seguido por 38,35% em 2020 e 13,83% em 2021 (índice mais baixo já registrado). Até março deste ano, 32,08% dos acordos estavam acima da inflação.

    As correções salariais podem ultrapassar a inflação, igualá-la ou ficar abaixo dela. Nos últimos quatro anos de governo Lula, por exemplo, ocorreram 51.565 acordos, dos quais 41.937 (81,3%) tiveram reajustes com aumento real ― outros 4.679 (9,07%) igualaram a inflação e 4.949 (9,59%) ficaram abaixo dela.

    Já no governo Bolsonaro, foram 60.744 acordos ― 20.728 (34,12%) resultaram em reajustes acima da inflação, 19.790 (32,57%) igualaram o índice e 20.226 (33,29%) ficaram abaixo dele.

    Campanha de Lula usou pesquisa da Dieese como base

    A assessoria do ex-presidente afirmou à CNN que Lula usou como referência em sua fala um estudo do Dieese, que acompanha os reajustes desde o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (exercido de 1995 a 1998).

    No entanto, os dados contidos no estudo, também obtido pela CNN, não corroboram a afirmação do petista, tanto no período de seu governo quanto no de Jair Bolsonaro.

    Pesquisa do Dieese que compara a distribuição dos reajustes salariais com os dados da inflação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, no primeiro ano de mandato do petista, em 2003, 18,8% dos acordos ficaram acima da inflação. Depois, o número ficou em 54,9% (2004), 71,7% (2005) e 86,3% (2006).

    Série histórica de reajustes salariais de categorias organizadas / Dieese

    Em 2007, 87,7% dos acordos fechados ocorreram acima da inflação, seguido por 76,6% em 2008 e 79,5% em 2009. No último ano de seu governo, em 2010, alcançou novamente 87,7%.

    Já em relação ao governo Bolsonaro, os dados do Dieese mostram que, em 2020, 35,9% das correções ficaram acima da inflação. Em 2021, esse número foi de 15,8%. Até março de 2022, o patamar se manteve, e só 13,9% das categorias tiveram aumento real de salário.

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