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    Diversidade e inclusão perdem força nas prioridades das empresas, diz relatório

    Entre os desafios citados, o engajamento na liderança foi apontado como o maior, seguido de processos de recrutamento e seleção mais inclusivos

    Sofia Kercherdo CNN Brasil Business* , São Paulo

    Enquanto as empresas aumentaram sua preocupação com a saúde mental dos funcionários, a diversidade e a inclusão acabaram ficando para segundo plano. É isso que mostra o relatório Tendências de Gestão de Pessoas 2022, feito pela consultoria global GPTW (Great Place to Work).

    A pesquisa foi realizada com 2.654 pessoas, tanto da área de recursos humanos quanto em cargos de liderança.

    Em 2019, 24% dos entrevistados afirmaram que as empresas tinham diversidade e inclusão como um aspecto prioritário a ser trabalhado. Em 2020, esse número subiu para 32%, e em 2021 para 37%. Neste ano, a prioridade caiu para 17,9%.

    Entre os desafios citados, o engajamento na liderança foi apontado como o maior, seguido de processos de recrutamento e seleção mais inclusivos.

    Segundo Ricardo Sales, CEO da Mais Diversidade, na prática, ele não percebeu essa redução em seu dia dia. “Nunca se falou tanto sobre diversidade e inclusão. O desafio é ir além do discurso e transformar as intenções em medidas efetivas, concretas e mensuráveis”, avalia.

    Sales imagina que se trata de uma falsa impressão de que o tema já está bem encaminhado, afinal, algumas iniciativas já foram tomadas nos últimos anos. Por isso, as empresas decidiram dar foco em outros tópicos, como saúde mental, por exemplo.

    O relatório confirma que, apesar de a maioria dos colaboradores ter respondido que diversidade e inclusão são pautas estratégicas para a organização em que trabalham, pouco mais de 12% dizem que a empresa tem maturidade no tema.

    “Diversidade é como um músculo que precisa ser trabalhado diariamente. Do contrário, fica flácido”, completa.

    Para Tatiene Tiemi, co-CEO da GPTW, empresa responsável pelo relatório, os dados também mostram que a questão ainda está somente no discurso e muito pouco na prática.

    “Acredito que, com a pandemia e as novas políticas de trabalho que as empresas precisaram adotar, muitas não conseguiram realmente incluir a D&I na pauta estratégica, deixando em segundo plano para focar em questões que pareciam mais urgentes e impactantes para os resultados de negócio”.

    Dentre as iniciativas neste tema que continuam acontecendo, as ações são mais voltadas a mulheres, questões étnico-raciais e pessoas com deficiências.

    Na leitura de Andrea Schwarz, CEO na empresa iigual e parte do Linkedin Top Voices, apesar de os números estarem relativamente homogêneos, não é possível ignorar a interseccionalidade dos temas. “E eu, que sou uma mulher com deficiência, onde me encaixo?”, questiona.

    Para ela, as empresas precisam tratar as iniciativas de forma conjunta, sem contemplar apenas um grupo minoritário por vez. “Eu acredito que essas caixinhas precisam começar a se sobrepor. Senão, sempre vão existir esses blocos que, na vida real, se misturam”, diz.

    Soluções

    Para reverter esses números, Sales acredita que o tema precisa ser trabalhado com o mesmo grau de profissionalismo que se tratam outras questões na empresa.

    Para ele, é preciso ter estratégia, papeis e responsabilidades claras, definição de metas e objetivos, acompanhamento recorrente de indicadores e participação alta da liderança.

    Para Tatiane, a única maneira que essas pautas importantes para os negócios têm de avançarem é por meio de líderes com maior maturidade e capacitação para lidar com pessoas.

    Schwarz vai além: para ela, a falta de representatividade nas lideranças das empresas também é um ponto crucial a ser trabalhado.

    “Esses dados mostram que a diversidade e inclusão ainda não estão no DNA das empresas, e isso acontece porque os grupos minorizados não estão no topo da pirâmide”, afirma.

    “Se eu, uma mulher com deficiência, estivesse sentada no conselho administrativo dessas empresas, essa pesquisa teria sido muito diferente.”

    Saúde mental

    Das 2.654 pessoas entrevistadas, 97,2% afirmaram que a saúde mental é um ponto relevante para a gestão de pessoas na empresa. Ainda, 80% afirmam que o tema passou a ser mais discutido depois da pandemia de Covid-19.

    Dentre as iniciativas promovidas pelas empresas, se destacam palestras e rodas de conversas; treinamento de lideranças e terapia online como benefício.

    “O tema ‘saúde mental’ começou a ser mais discutido somente após a pandemia, então ainda estamos num processo de engatinhar, descobrindo o que funciona e testando possibilidades. Mas, quando falamos de saúde mental e diversidade, não podemos demorar. É urgente a transformação dos ambientes com o foco nas pessoas”, exalta Tatiane.

    Presencial, remoto ou híbrido?

    Como observado por outras pesquisas ao longo deste ano, as empresas estão priorizando o modelo híbrido de trabalho.

    Apesar de muitas ainda não terem definido uma nova política de trabalho, dentre as 1.104 que já definiram, 66,2% adotaram esse modelo.

    No mais, 24% responderam que será totalmente presencial, e 10% totalmente remoto.

    Contratações

    Em 2022, 59% dos entrevistados afirmaram que a empresa em que trabalha pretende aumentar o número de funcionários. Das áreas que terão contratações, destacam-se tecnologia, relacionamento e vendas, e suporte e operação.

    *Sob supervisão de Ana Carolina Nunes

    Errata: Inicialmente, a empresa havia informado que em 2020, 30% dos entrevistados afirmaram que as empresas tinham diversidade e inclusão como um aspecto prioritário a ser trabalhado e em 2021, o percentual era de 32%. Na verdade, o percentual é de 32% em 2020 e de 37% em 2021. A informação foi corrigida.

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