Cientistas realizam transplante após preservarem fígado fora do corpo por 3 dias
Técnica foi divulgada nesta semana pela equipe da Suíça, revelando que, após um ano, o paciente está bem de saúde
Pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, alcançaram um feito para a medicina. Os médicos conseguiram preservar um fígado humano em uma máquina fora do corpo por três dias e depois implantaram o órgão recuperado em um paciente com câncer.
A técnica foi divulgada nesta semana pela equipe, revelando que, após um ano, o paciente está bem de saúde. Os achados foram publicados no periódico científico Nature Biotechnology na terça-feira (31).
A máquina utilizada no procedimento simula a atividade do corpo humano com a maior precisão possível, com o objetivo de fornecer as condições ideais para a preservação do fígado humano. Uma bomba funciona como um coração substituto, um oxigenador substitui os pulmões e uma unidade de diálise desempenha as funções dos rins.
Além disso, inúmeras infusões de hormônios e nutrientes desempenham as funções do intestino e do pâncreas. Como o diafragma no corpo humano, a máquina também move o fígado ao ritmo da respiração humana.
Recuperação em três dias
A equipe multidisciplinar de pesquisa de Zurique já havia demonstrado, em janeiro de 2020, a capacidade da tecnologia de armazenamento do órgão fora do corpo por vários dias. O trabalho contou com a colaboração do Hospital Universitário de Zurique (USZ), do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) e da Universidade de Zurique (UZH).
Para que pudesse ser recuperado na máquina, os pesquisadores também utilizaram diferentes medicamentos. A combinação dos fármacos com a ação da tecnologia permitiu transformar o fígado em um bom órgão humano. A circulação mecânica do órgão possibilita terapias antibióticas ou hormonais ou a otimização do metabolismo hepático, por exemplo.
Além disso, longos testes laboratoriais ou de tecidos podem ser realizados sem pressão de tempo, de acordo com os especialistas. Em circunstâncias normais, isso não é possível porque os órgãos só podem ser armazenados por 12 horas da maneira convencional em gelo e em máquinas de perfusão comercialmente disponíveis.
Com o fígado disponível, os médicos deram a opção de transplante a um paciente com câncer que estava na lista de espera da Suíça. Com o consentimento, o órgão foi transplantado em maio de 2021. Alguns dias após a cirurgia o paciente recebeu alta e, um ano depois, apresenta bom estado de saúde, segundo a equipe.
“Estou muito grato pelo órgão que salva vidas. Devido ao meu tumor em rápida progressão, eu tinha poucas chances de obter um fígado da lista de espera dentro de um período de tempo razoável”, disse o paciente em um comunicado.
“Nossa terapia mostra que, ao tratar fígados na máquina de perfusão, é possível aliviar a falta de órgãos humanos funcionais e salvar vidas”, diz Pierre-Alain Clavien, diretor do Departamento de Cirurgia e Transplante Visceral do Hospital Universitário de Zurique (USZ), em comunicado.
Mark Tibbitt, professor de engenharia macromolecular do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), acrescenta: “A abordagem interdisciplinar para resolver desafios biomédicos complexos incorporados neste projeto é o futuro da medicina. Isso nos permitirá usar novas descobertas ainda mais rapidamente para o tratamento de pacientes”.
Os próximos passos do projeto envolvem a revisão do procedimento em outros pacientes e demonstrar sua eficácia e segurança na forma de um estudo em diferentes centros de pesquisa. Para os especialistas, o sucesso do método pode indicar transformações no campo dos transplantes e tratamento de doenças do fígado.