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    Eleições 2022

    Crescimento econômico ainda terá muitos desafios pela frente

    Nossa economia não se preparou para as dificuldades que virão de fora, e as commodities podem não ajudar tanto

    Sergio Vale

    O resultado do PIB do primeiro trimestre tem gosto de passado, infelizmente. Os números foram bons, com serviços puxando a recuperação, como esperado, por conta da saída da pandemia. A agropecuária, com a quebra de safra em soja e arroz, amargou uma forte queda. E a indústria, bem, a indústria tem seguido sua estagnação já conhecida de muitos anos. Nossa opção por protecionismo não poderia dar em outra coisa do que estagnação crescente da produção industrial.

    Mas esse PIB é um retrato de nossas dificuldades. Estamos atados a uma recuperação anêmica de saída da pandemia que tem data para acabar e com riscos crescentes à frente. Com a economia mundial em franca desaceleração no próximo semestre e especialmente ano que vem, os desafios para o Brasil serão enormes. Nossa economia não se preparou para as dificuldades que virão de fora e as commodities podem não ajudar tanto pois algumas delas, como petróleo e metálicas, também sofrerão queda de valor por conta da menor atividade mundial.

    Sobra o agro, que tem sido o carro-chefe do crescimento brasileiro e de nossa produtividade nas últimas décadas. Com a exceção de praxe de quebras inesperadas de safra, o fato é que a agropecuária tem sido literalmente a salvação da lavoura nos últimos anos para a economia nacional.

    As regiões que mais cresceram no país nas últimas décadas são justamente aquelas com maior peso do agronegócio, notadamente o Centro-Oeste e regiões do interior do Sul, Nordeste e Norte. O peso do setor no PIB já deve chegar a 30% este ano, quando consideramos  toda a cadeia, mas os desafios para o setor também precisam ser considerados. Com o aumento do custo de produção, seja por Fertilizantes, seja por crédito, o cenário de mundo crescendo menos ano que vem pode ser elemento de pressão para o setor. O câmbio novamente poderá ser elemento positivo para o setor se continuar depreciado como temos visto nos últimos dois anos.

    Por falar em taxa de câmbio, essa é a variável de maior incerteza economia quando falamos de projeção, mas os riscos que vêm pela frente levam a maior pressão sobre nossa taxa. Com a inflação mundial pressionando juros nos EUA e Europa, mesmo com nossa alta de juros aqui devemos ver saída de capital que mantenha nosso câmbio depreciado. Se juntarmos a isso os riscos políticos de uma eleição pra lá de complicada, a possibilidade de voltarmos a ver o câmbio acima de 5 reais por dólar é grande.

    Isso ajuda na exportação das commodities, mas surge como um sinal de risco sobre a economia. Se tem muita saída de capital em ritmo maior do que vemos em outros países é porque os investidores perceberam sinais de alerta também maiores do que em outros lugares. No nosso caso, a política fiscal ainda inspira cuidados com pressão de gastos eleitorais este ano e quebras institucionais e os riscos políticos de um governo que tangencia a quebra constitucional. Não poderia haver nada pior para o investimento.

    Olhando desse ponto de vista, os riscos para o próximo presidente são grandes. Ele herdará uma economia com crescimento muito fraco há anos, riscos institucionais, polarização crescente, pouca capacidade política para reformas e um mundo mais fragilizado. Será o momento para juntar forças e acelerar reformas importantes que ainda faltam, como a administrativa e a tributária. Mas acontecerão? Tenho dúvidas que avancemos pelo caminho correto e o preço a ser pago serão mais anos de crescimento baixo à frente.

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