Famílias servem juntas no exército ucraniano durante invasão russa
Ucranianos relatam ataques do exército russo em vilarejos ao redor do país
Em uma trincheira rasa em uma estreita faixa de árvores, que oferece a única cobertura nesta paisagem ucraniana no distrito de Mykolaiv, um homem se esconde com seus dois filhos adultos.
É a sua primeira guerra juntos. Sua primeira vez como soldados. Quando o presidente russo, Vladimir Putin, invadiu sua terra, eles foram para o exército como uma família e se inscreveram para lutar.
Yaroslav é um avô de 59 anos. Um de seus filhos, Nazar, de 34 anos, tem dois filhos. O outro, Pavlo, de 26 anos, tem uma filha.
Eles deixaram suas esposas e filhos para ir ao fronte e ficar juntos em seu batalhão.
Lutar com sua família e por sua família deixa sua missão “muito fácil e simples”, disse Yaroslav à CNN.
“O que eu posso dizer, nós amamos nosso país e vamos lutar por ele até o fim”, afirmou.
Os homens reconhecem com uma risada nervosa que pode não ser tão fácil para aqueles que ficaram em casa, principalmente para a esposa de Yaroslav, que tem seu marido e filhos na mira do perigo.
“Nossa mãe certamente se preocupa conosco”, disse Nazar. “Ela está nervosa. Também, nossas esposas e nossos filhos se preocupam. Mas ainda sim, estamos aqui, resistindo pela nossa terra.”
As forças russas estão a poucos quilômetros, dizem os oficiais – não somente no âmbito de artilharia, mas também no risco de balas de franco-atiradores. As trincheiras estão em Mykolaiv, perto da costa do Mar Negro, e do território almejado pelos russos.
O comandante da força, também chamado de Nazar, tem apenas 37 anos de idade. Ele disse que perdeu quatro soldados em um ataque – esse foi seu pior dia de guerra.
Ele servia no exército e lutou contra separatistas apoiados pelos russos na Ucrânia em 2014, ano em que a Rússia anexou a península da Crimeia. Quando a invasão começou, ele se inscreveu para lutar.
“Um inimigo veio a nosso país, para nossa casa, covardemente durante a noite, sem uma declaração de guerra e começou a bombardear nossas cidades e vilarejos”, ele disse.
“Eles foram até Kiev, entrando nos subúrbios de Bucha e Irpin. Não temos outra escolha. Estamos defendendo nossa terra, não entramos na casa de ninguém. Não somos russos que invadem a casa dos outros. Estamos protegendo nossas famílias, nossas crianças, nossos pais.”
Ele disse que está lutando para assegurar a Ucrânia inteira, incluindo as áreas ao leste, que estão sob controle russo no momento, e a Crimeia.
Por enquanto, ele tem que confinar seus soldados em esconderijos perto das árvores, que margeiam extensões planas de terras agrícolas e cerrados.
Se passar muito tempo em qualquer vilarejo, ele disse ter medo de dar motivos para que os russos o ataquem.
Ataques de artilharia já são comuns ao redor desses vilarejos próximos ao fronte, de acordo com um dos moradores, chamado Anatoly.
Ele disse que seu vizinho de porta foi morto um dia antes de um ataque que destruiu sua casa. Mas ele circula pelo vilarejo onde viveu durante toda a sua vida, dizendo que não vê motivo para ir embora agora.
Perguntado sobre o exército russo, a poucos quilômetros de distância, ele se irritou. “O que posso dizer? Eles fazem coisas ruins.”
Em outro vilarejo, mais longe do fronte, uma mulher chamada Tatiana Bozko disse à CNN o que aconteceu quando soldados russos estiveram na região, antes de forças ucranianas os forçarem a recuar.
Eles levaram seu marido, um ex-professor pró-Ucrânia que trabalhou na escola do vilarejo, ela disse. Bozko afirmou à CNN que acredita que alguns de seus vizinhos que apoiam a Rússia denunciaram o esposo aos invasores.
“Sirgey era um homem muito brilhante e gentil”, ela disse, “a alma de qualquer festa”. “Ele era odiado apenas por aqueles que são a favor da Rússia”.
Ele foi levado de casa, e ela nunca mais o viu.
Seu cadáver foi encontrado dias depois, em uma vala sob um colchão. Alguém notou uma mão saindo do esconderijo, com outros sinais de tortura – hematomas e o que pareciam ser cortes.
“Ele foi violentado. Foi muito assustador”, disse Bozko, chorando. “Atiraram nele enquanto estava vivo, aparentemente.”
Bozko, uma também professora aposentada de 60 anos, agora vive com pensamentos sobre os últimos momentos de seu marido. Três coisas lhe trazem conforto: seu filho, sua mãe, a quem ajuda, e o exército ucraniano.
Enquanto conta sobre sua família à CNN, ela pausa para destacar o som dos bombardeios a distância. Eram morteiros sendo disparados.
Ela agora sabe a diferença entre os que entram, e os que saem. Esses estão saindo do lado ucraniano contra os russos, diz sorrindo. “Me deixa feliz ouvi-los”.